070 – 21º Dia, a Caminho de Porto Alegre

É hoje! É hoje que vou conhecer o extremo sul da ilha, bem como o ilhéu das Rolas:

Recordo que estou alojada em Belém, ali mais ao menos no centro da ilha. O plano é o seguinte: irei de bicicleta até à cidade de São Tomé, e aí apanharei um táxi partilhado até Porto Alegre. O táxi faz toda aquela estrada à beira-mar. A partir daí irei a pedalar até à Praia Inhame, onde apanharei um barco até ao ilhéu das Rolas.

Quem me deu esta dica da Praia Inhame, foi a Aleida (das crónicas 33 e 34), que já fez este passeio. Indicou-me que o barco faz várias travessias por dia, conforme vão chegando pessoas, e que custa 250 dobras (10€). Não é preciso marcar. Existem outras opções para chegar ao Ilhéu das Rolas, mas mais caras. O Célio Santiago passou-me o telefone com uma empresa que até entrada na ilha cobrava.

Qual é o problema disto tudo? É que ninguém sabe dizer-me os horários de nada. Ontem no táxi para Belém, a rapariga que vinha ao meu lado disse-me que o táxi para Porto Alegre parte entre as 5h30 e as 6h. Na crónica 63, o outro suposto taxista disse-me que o primeiro sai às 8, e que o último vem às 10 da noite.
Recordo ainda que eu posso contratar um táxi só para mim, por 1.000 dobras. É muito. Não quero gastar tanto dinheiro, e até confio mais em táxis partilhados, em que vou com muita gente. Assim gastarei cerca de 200 dobras e tenho uma experiência genuína – junto das pessoas que fazem esta viagem por motivos pessoais ou profissionais.

São 4h22. Hoje tenho que despachar-me – hoje tenho um táxi partilhado que parte sei a lá a que horas. Conforme referi acima, uns dizem-me 6h, outros dizem-me 8h, pelo que eu estarei lá antes das 6, pois claro. Mas a hora matinal não impede de eu fazer o meu banquete habitual. Hoje tenho manteiga pela primeira vez desde que cheguei a São Tomé e Príncipe. Manteiga, que luxo. E pão fresco, e muita fruta e muito leite. Estou contente, a saborear tudo calmamente. Efetivamente levantei-me bem cedo, às 3h30, de livre vontade, antes mesmo do despertador tocar. Deitei-me igualmente cedo, dormi bem e estou com a pica toda – e mais a preocupação do horário do táxi. Acordei com o que parecia ser uma grande chuvada, mas fui ao quintal antes das 4, e está tudo seco. É o vento nas árvores, está visto.

Hoje há luz e água, não faltou.

São 5h33. Hoje não pus pensos nas esfoladelas dos pés, pela primeira vez, mas levo as compressas, adesivo e tesoura.

Cheguei às 5h45, fiz 8,2 km, velocidade máxima 54 km/h. Hoje não houve tempo para fotos. Na cidade, nos buracos, caiu novamente o cantil da água, o de trás. Veio uma pick-up atrás de mim até aqui à paragem dos táxis, a chamarem-me: “Oh branquinha!” E deram-me o cantil. Sempre que há buracos, para eu poder seguir a toda a velocidade, tenho de guardar o cantil na mochila.

E afinal parece que só partimos lá para as 8. Não vejo o motorista em lado nenhum, mas dizem-me que é este táxi. Garanti lugar à frente, ao menos. O último taxi regressa às 10 da manhã, não às 10 da noite. Está lindo. Não faço ideia como vou voltar, mas eu vou até Porto Alegre neste táxi partilhado! Se não conseguir fazer tudo hoje, pelo menos faço um primeiro reconhecimento. Logo voltarei noutro dia com mais experiência da coisa.

E o volante abana. A porta é de arrastar, mas pelo que percebi é preciso comer um bife para conseguir arrastá-la.

Um outro taxista veio falar comigo. Chamado Nelson. Disse-me que vai levar uns trabalhadores ao hotel da Praia Inhame, às 10h, e que depois regressará cerca das 14 ou 15h com 8 ou 9 pessoas. Bom, será que pode trazer-me? O taxista Nelson ligou então para Sr. Nazaré, dono do hotel, com o meu telemóvel, questionando-o se pode trazer-me a mim e à bicicleta. Não haverá espaço para a bicicleta, foi a resposta que teve. Trará muita carga. Ele poderá trazer-me a mim, mas à bicicleta não. Estou tramada. Sugeriu-me então prender a bicicleta nesta oficina existente aqui ao lado, na praça central. Eu preciso de óleo na corrente, até calha bem. Repare-se que o cadeado está a prender a bicicleta à grade da árvore.
Tirei os dois cantis de água e o suporte do telemóvel. O taxista Nelson perguntou-me para quê tanta água, que há água lá em Porto Alegre.

Eu entretanto adormeci sentada no banco da frente. Dormi quase uma hora. Acordei às 7h30. Este é o taxista que irá levar-nos a Porto Alegre – chama-se Abílio, e virei a descobrir posteriormente que mora em Porto Alegre (já não volta hoje à cidade, portanto) e que é inclusivamente chefe da comunidade, lá. É capaz de ser uma espécie de presidente da junta, não sei.

É um taxista! Nunca tinha visto um taxista engravatado, em São Tomé e Príncipe. (E creio que em mais lado nenhum do mundo).

Eu entretenho-me a fotografar tudo o que passa, sentada no banco da frente da carrinha-táxi. Não se vêem mulheres a conduzir motos. Fui cumprimentada pelo rapaz do jardim botânico, que me fotografou a mim e à funcionária do jardim, a Isilda (na crónica 38). Conduz uma enorme pick-up. Vai buscar duas turistas espanholas e vai para Porto Alegre também. Agora vai gravar umas músicas entretanto, disse-me.

E estamos prontos para partir, finalmente. Partimos apenas às 9h.

No banco da frente ao centro vai um rapaz, estas mochilas são suas. Atrás vão três mulheres e três crianças. Comigo e com o rapaz, somos 8 passageiros.

À esquerda, a entrada para a praia das Pombas, onde eu não me meti (na crónica 45).

A entrar em Água Izé, onde não iremos parar. Cá virei de bicicleta, me aguarrrrde.

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