067 – Visita à Roça Diogo Vaz – Cacau

Esta é a Joseline, com 12 anos, com uma constituição perfeitamente atlética, que me acompanhou pela estrada durante algum tempo. Eu devagar, a Joseline em passo acelerado ou às vezes a correr. Eu disse-lhe que ela assim iria cansar-se, que para mim na bicicleta é mais fácil, que vou na mudança leve, mas a Joseline diz que não se importa e que vai na mesma direção que eu, ter com o irmão. Quando veio a parte da descida, despedi-me de si e acelerei. Vou para Santa Catarina! – disse-lhe eu. E despedimo-nos.

Vacas! As primeiras vacas que vejo em São Tomé e Príncipe!

Andava eu a tirar selfies com a máquina fotográfica em cima do muro, na pequena ponte (a qual se vê numa das fotos acima) (e com o pastor a observar estas peripécias – eu para trás e para frente na bicicleta, e a máquina em cima do muro a disparar 9 vezes seguidas), quando apareceu a Joseline. O irmão trouxe-a de moto até aqui, pelo que percebi. Bom, vai ser a Joseline a fotógrafa de serviço, agora. Ensinei-a a agarrar na máquina, a olhar pela ocular, e a clicar no obturador.

Esta já foi a Joseline a tirar. O rapaz de tshirt vermelha que lá vem é o seu irmão. Mas eu quero ficar cá em baixo, e com a vegetação toda por cima – disse-lhe eu.

E a Joseline tirou esta foto, exatamente como eu lhe pedi. Não me apanhou é a olhar de frente, fiquei a fazer a curva. Mas ficou bem e mantive-a.

A Joseline e o seu irmão Alberto, de 14 anos.

São 12h21, despedi-me novamente da Joseline (e agora do irmão Alberto também) e prossigo caminho.

A roça Diogo Vaz foi criada em 1880.

O cacau foi introduzido na ilha do Príncipe, vindo do Brasil, em 1822 e a primeira plantação em grande escala começou em 1852. Até 1910, a colónia portuguesa de São Tomé e Príncipe foi a maior produtora mundial de cacau, cultivando cerca de 35 000 toneladas de grãos de alta qualidade. Em 1975, quando São Tomé e Príncipe se tornou num estado independente, a terra foi redistribuída pelos trabalhadores e dividida em pequenas parcelas.
No início dos anos 2000, as ilhas já produziam menos de 1.000 toneladas de cacau por ano, deixando poucas perspetivas de futuro aos trabalhadores.¹

Lê-se o seguinte no website dos chocolates Diogo Vaz:
O Kennyson Group, dirigido por Jean-Rémy Martin e Eneko Hiriart, empresa conhecida pela sua dedicação no que ao desenvolvimento rural de África diz respeito, decidiu relançar o negócio de cacau em São Tomé e Príncipe. O grupo assumiu a gestão da centenária plantação Diogo Vaz em 2014. A visão era otimizar a paisagem singular, replantando autênticas variedades de cacau, sempre com a melhoria do nível de vida dos agricultores e colaboradores locais em mente.²
(Fim de citação)

Fazendo pesquisa na internet sobre o Kennyson Group, não aparece absolutamente nada. Fazendo pesquisa pelos nomes dos seus fundadores, aparecem vários académicos. Não faço ideia se serão eles. São discretos, estes rapazes.

Existe ainda outra empresa produtora de chocolate em São Tomé e Príncipe, do italiano “Claudio Corallo, Cacau & Café”, com duas plantações: uma no Terreiro Velho, na ilha de Príncipe (onde eu passei na crónica 18), onde se produz cacau, café libérica e pimenta. Outra em São Tomé – Nova Moca – onde se plantam diferentes tipos e variedades de café.³

Veja-se esta notícia de Abril de 2019:
Em São Tomé e Príncipe, passados 43 anos desde a independência, o cacau, que na era colonial apenas era exportado para chocolateiras europeias, está agora a ser transformado nas ilhas.
O negócio rende dezenas de milhares de euros por mês a uma fábrica que, recentemente, abriu as portas no arquipélago. Criaram-se 250 postos de trabalho num país onde o desemprego afeta 12 por cento da população.
Num secador solar, Teresa Martins trata do cacau que vai ser em breve transformado em chocolate. Teresa, de 68 anos, lida com cacau há mais de duas décadas. Possui uma terra, com cacaueiros, mas o dinheiro da produção do cacau da sua parcela não chega para sobreviver. Por isso, trabalha há cinco anos na roça Diogo Vaz, no norte de São Tomé, com outras 14 mulheres.
“Agora estamos bem. Agora tem emprego cá na região. Quando não temos de comer, já podemos fiar (pagar no final do mês)”.⁴

(Continuando a citar a notícia):
A roça Diogo Vaz pertence ao grupo francês Kennyson. O grupo investiu cerca de 3 milhões de euros na roça com 400 hectares de cacauzal e na fábrica de chocolate.
A abertura da fábrica em maio de 2018 fomentou o emprego. Gilmar Mandiga é um dos 250 empregados na roça e da fábrica. “Para mim parecia impossível ter uma fábrica de chocolate em São Tomé. Tendo em conta que participo na transformação do cacau até ao produto final, que é o chocolate, para colocar no mercado para os consumidores, para mim é motivo de muita satisfação”.⁴

(Continuando a citar a notícia):
A roça Diogo Vaz produz uma tonelada de cacau por mês, destinada exclusivamente à produção de chocolate, segundo disse Paulo Pichel, responsável pela exportação. “O nosso objetivo é exportar um contentor por mês, estamos a falar em 8 toneladas de chocolate”.
O português Filipe Almeida, chocolateiro, prepara as primeiras encomendas de 2019, para serem enviadas para França – um contentor de chocolate avaliado em 100 mil euros. Foram cinco anos de preparação para o início da produção a sério do chocolate, que começou em maio de 2018.
Com os lucros das exportações para a Europa, a roça Diogo Vaz, que estava votada ao abandono, está a ser reconstruída aos poucos. E a comunidade em redor da fábrica de chocolate também beneficia. Foi instalada uma rede eléctrica e as principais infraestruturas foram reabilitadas.
Com a produção do chocolate, o cultivo do cacau (biológico) foi valorizado na região, como garante Paulo Pichel. “Estamos a trabalhar com eles para que possam ter a certificação biológica. Como as outras empresas que estão presentes nas ilhas, estamos a batalhar para que o cacau são-tomense seja conhecido mundial como cacau biológico. São Tomé e Príncipe já está a competir na qualidade, é isso que nós temos que fazer”.⁴


¹ “A Ilha” (s.d.) Diogo Vaz. Página consultada a 28 Novembro 2019,
<https://diogovazchocolate.com/pt/a-ilha/>

² “A Nossa Marca” (s.d.) Diogo Vaz. Página consultada a 28 Novembro 2019,
<https://diogovazchocolate.com/pt/nossa-marca/

³ “Sobre Nós” (s.d.) Claudio Corallo, Cacao & Coffee. Página consultada a 28 Novembro 2019,
<https://www.claudiocorallo.com/index.php?option=com_content&view=article&id=114&Itemid=1036&lang=pt>

⁴ Graça, Ramusel (2019, 22 Abril) “Produção de chocolate estimula cultivo de cacau em São Tomé e Príncipe”. Página consultada a 28 Novembro 2019,
<https://www.dw.com/pt-002/produ%C3%A7%C3%A3o-de-chocolate-estimula-cultivo-de-cacau-em-s%C3%A3o-tom%C3%A9-e-pr%C3%ADncipe/a-48434112>

<< >>