041 – Passando por Batepá, António Soares, Santa Margarida, Alto Poto, Poto Zambraia, Boa Entrada e Vila Amélia
Eu nem consigo desenhar isto tudo no mapa. São pequeninas povoações. O caminho que fiz neste trecho, por estradas de terra, ficou indicado no GPS, na crónica anterior.
Recordo que estou alojada em Belém. Agora vou a caminho de Guadalupe, e a seguir Praia dos Tamarindos.
Parei a bicicleta e olhei para as árvores e arbustos, em busca dum local para fazer xixi. É que não encontro nada deserto, há sempre gente por todo o lado. Estou tramada, estou a ficar aflita. No Príncipe era mais fácil, aqui em São Tomé não encontro nada deserto! E quando olhei para cima, vi este rapaz. Pois claro, tinha de haver alguém, ainda não é desta. Esta árvore é uma jaqueira, e a fruta é a jaca. E no canto inferior esquerdo está cacau.
Chama-se Ismael. Vendo-me interessada na jaqueira e na jaca, propôs-se ir buscar um pedaço maduro para eu provar. Eu já comi jaca no Vietname, mas já foi há tanto tempo que nem me lembro como é. Fiquei à espera, na estrada, e o Ismael foi algures no meio no mato buscar. Levou uns minutos apenas, e voltou com este pedaço.
Isto é que é ser bem recebida por um povo. Até agora só me trataram bem. Mais do que bem – mimam-me. Quem tirou esta foto foi uma senhora toda aperaltada que ia a passar, provavelmente a caminho do trabalho. Hoje é 5ª feira e são 7h30.
Eu comi um bocado, dei umas dentadas, não consegui comer tudo, até porque ainda venho cheia do pequeno-almoço. Perguntei ao Ismael quanto custa uma jaca inteira, respondeu-me que uma pequena, madura, anda pelas 20 dobras (0,80€). Este pedaço era uma oferta para mim, mas eu quis agradecer-lhe o trabalho e fui buscar as moedas que tinha na carteira. Tinha 8 dobras e dei-lhas.
A chegar a à Roça Boa Entrada. Recordo o que escrevi na crónica 10: as Roças são antigos edifícios do tempo do colonialismo português, grandes propriedades rurais onde se produziu cacau e café, nos finais do séc. XVIII e inícios do séc XX. Atualmente a maioria está em avançado estado de degradação, e alguns dos edifícios são habitados pela população.
Roça Boa Entrada. Devia ser linda, no tempo do seu auge.
As traseiras da Roça Boa Entrada.
O rapaz à esquerda disse-me que vai haver uma festa sábado à noite, aqui em Boa Entrada, e que eu estou convidada. Eu ri-me e agradeci. É o terceiro ou quarto convite que recebo para festas ao fim de semana. Há sempre festas ao fim de semana, nas várias povoações, apercebo-me.
A construção da nova escola secundária de Desejada.
Parei aqui um pouco, na Vila Amélia, e a Erpe meteu-se comigo (será que “Erpe” se escreve assim?). Está a dar banana cozida ao pequenito à frente, que é o seu filho Rafael. As duas meninas não sei se são filhas também.
Esta descida é uma autêntica curtição para fazer BTT. Tem uns 2 ou 3 km, se calhar. Aos saltos por terra e pedras, a toda a velocidade. As pessoas nas suas casas quase nem têm tempo de ver-me passar. Muitas nem me viram, dado o silêncio da bicicleta. E é um local relativamente deserto, até me convém acelerar. Não interessa estar parada em locais muito desertos.
A chegar à estrada principal, alcatroada, que leva a Guadalupe. Conforme indica o GPS, tenho de ir para a esquerda.
Comprei uma garrafa de água de 50 ml por dez dobras, nesta quitanda à beira da estrada, e perguntei onde é que posso ir à casa de banho. A rapariga até se riu. E vendo-me aflita, foi perguntar à casa ao lado.
Ao lado da quitanda existe uma vivenda – a Residência Pires – que aluga inclusivamente um quarto a turistas. Aqui vê-se o casal espanhol que atualmente é hóspede. O dono, Wilson Pires, à esquerda, perguntou ao casal se se importavam que eu fosse à casa-de-banho, e eles não colocaram problemas, pelo que fui, no andar de cima da casa.
Até me parece mentira, arranjar uma casa-de banho toda bonita, tão inesperadamente. Houve uma falha momentânea de água, eventualmente, pelo que o dono, Wilson Pires, disse-me para eu usar o bidon cheio de água que aqui está, a um canto, com um recipiente pequeno para deitar a água na sanita. (Estes recipientes usei-os tantas vezes em Timor, e nunca cheguei a saber o nome disto… tantas crónicas escritas, e nunca nenhuma alma caridosa me enviou um email a dizer como se chama!) À despedida, o meu telemóvel falhou. Desligou-se. São 9 da manhã, ainda nem cheguei a Guadalupe, e o telemóvel resolve desligar-se e recusa-se a ligar novamente. E o GPS para indicar-me o caminho? Resultado, depois de algumas tentativas de reanimação do telemóvel, desisti. Vou seguir sem GPS. Se não existirem placas com a indicação da direção de Guadalupe, e Praia dos Tamarindos, perguntarei pelo caminho. Mas o telemóvel terá que funcionar nos próximos dias, tenho a ilha de São Tomé quase toda por desbravar ainda.