028 – Príncipe – Praia Macaco, Praia Grande & Tartarugas

“Vai bem” – disse-me o rapaz das pulseiras. Agradeci-lhe e parti, desta vez em direção à Praia Macaco.

Está tudo abandonado por aqui e não vou demorar-me.

Praia Macaco

Agora vou conhecer a praia Grande.

Aqui esqueci-me completamente de ir primeiro à Praia Boi, que fica do lado direito da praia Macaco e vê-se claramente neste mapa. É a 1 km de distância. Passou-me.

Talvez venha a utilizá-las num quadro meu, nunca se sabe. Na Amazónia fizeram-me uma pulseira só destas sementes. E eu fui para a piscina com ela, a seguir. Claro que as sementes incharam todas e a casca caiu em algumas. Fiquei sem pulseira. Agora com a do Príncipe já vou ter mais cuidado.

Bem-Vindos à Praia Grande – Praia de Desova das Tartarugas
Temporada Desova: Setembro-Fevereiro
Eclosões: Novembro – Abril
Visita com guia é obrigatório! Contacte a Fundação Príncipe Trust.

(Nota: agora estou em Julho, pelo que a cancela está aberta e o guarda deixou-me passar sem guias). A placa indica também:

Não extrair areia, é ilegal nessa praia
Não deitar lixo na praia
Não fazer barulho
Não utilizar luzes brancas ou vermelhas
Não caminhar em cima dos ninhos
Não perturbar os animais enquanto estão a desovar

Obrigado por juntar-se a nós na proteção das tartarugas
Um fundo de comunidade local foi criado para apoiar uma iniciativa de pequena escala que irá beneficiar as comunidades locais
15 euros de cada visitante vão para este fundo

SADA
Eretmochelys imbricata
Criticamente ameaçada, muito difícil encontrar

MÃO BRANCA
Chelonia mydas
Ameaçada, mais comum na ilha

AMBULÂNCIA
Dermochelys coriacea
Vulnerável, difícil encontrar, raro

Aqui tenho de deixar a bicicleta e vou a pé. São 11h e tenho 17 km na bicicleta. Ouve-se um estranho piar de pássaro, ruidoso, parece as cordas dos estendais de roupa quando não estão oleadas.

Praia Grande

Ficou desfocada, é pena, não dei conta, mas mantive-a.

SADA – Eretmochelys imbricata
Foto retirada da Wikipedia

A tartaruga-de-pente ou tartaruga-de-escamas (Eretmochelys imbricata) (pelos vistos conhecida como “Sada” em São Tomé e Príncipe), é uma tartaruga marinha que se encontra em mares tropicais e subtropicais. É uma espécie criticamente ameaçada de extinção devido à caça indiscriminada; possui carapaça medindo entre 80 e 90 cm de comprimento, coberta por placas córneas imbricadas que fornecem um material utilizado na confeção de diversos utensílios.
A tartaruga-de-pente tem como habitat natural recifes de coral e águas costeiras rasas, como estuários e lagoas, podendo ser encontrada, ocasionalmente, em águas profundas. A espécie tem uma distribuição mundial, com subespécies do Atlântico e do Pacífico.
A sua alimentação consiste em esponjas, anémonas, lulas e camarões; a sua cabeça estreita e a sua boca formam um bico que permite buscar o alimento nas fendas dos recifes de corais.¹

MÃO BRANCA – Chelonia mydas
Foto retirada de Wikipedia.

A tartaruga-verde (Chelonia mydas) é uma tartaruga marinha distribuída por todos os oceanos, em zonas de águas tropicais e subtropicais. O nome tartaruga-verde deve-se à coloração esverdeada da sua gordura corporal.
A tartaruga-verde é uma tartaruga marinha com um corpo achatado coberto por uma grande carapaça em forma de lágrima e um grande par de nadadeiras. Ao contrário de outros membros da sua família, como a tartaruga-de-pente e a tartaruga-comum, a tartaruga-verde é principalmente herbívora. Os adultos geralmente habitam lagoas rasas, alimentando-se principalmente de diversas espécies de ervas marinhas.
Como outras tartarugas marinhas, as tartarugas-verdes migram longas distâncias entre as áreas de alimentação e as suas praias de incubação. Muitas ilhas em todo o mundo são conhecidas como Ilha das Tartarugas por causa da nidificação das tartarugas-verdes nas suas praias. As tartarugas fêmeas saem para as praias e põem ovos em ninhos que escavam durante a noite. Mais tarde, os filhotes emergem em direção à água. Aqueles que sobrevivem alcançam a maturidade sexual ao fim de 20 a 50 anos e vivem até 80 anos em liberdade.²

AMBULÂNCIA – Dermochelys coriacea
Foto retirada de Wikipedia

A tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) ou tartaruga-gigante, é a maior das espécies de tartarugas e é muito diferente das outras tanto em aparência quanto em fisiologia.
A tartaruga-de-couro tem um tamanho médio em torno de 2 m de comprimento por 1,5 m de largura e 500 kg de massa. Tem uma carapaça negra, constituída de tecido macio. A carapaça não se liga ao plastrão em ângulo, como nas outras tartarugas, mas sim numa curva suave, dando ao animal uma aparência semi-cilíndrica. Vive sempre em alto-mar, aproximando-se do litoral apenas para desova, e alimenta-se sobretudo de alforrecas e ascídias.
Tais animais chegam a atingir até 35 km/h.³

Deixo um estudo de 2014 duma Engenheira Agrónoma santomense, Erizalva Costa:

Tem-se registado um aumento de casos de posse ilegal de terra, degradação das mesmas através de queimadas e desflorestações ilícitas, principalmente das zonas costeiras, abate ilegal de árvores para construção de habitação, mobílias, pirogas para a pesca (canoas), madeira para a produção de lenha e de carvão vegetal.
Tem-se registado, particularmente, um aumento no abate das tartarugas marinhas, apanha dos seus ovos assim como destruição das zonas de postura e eclosão, o que se verifica com a apanha ilegal de areia nas praias. A apanha ilegítima de areia conduz à degradação gradual das zonas costeiras do arquipélago, avanço das águas do mar e consequentemente, destruição de praias que normalmente servem de zonas de postura para as tartarugas marinhas.
Os ovos e a carne deste réptil marinho são apreciados na culinária são-tomense, bem como o uso da sua carapaça para o fabrico de acessórios e peças de artesanato. Apesar dos esforços das Organizações Não Governamentais (ONG’s) e das autoridades são-tomenses na preservação desta espécie, tem-se registado um crescimento dessa ocorrência (matança e apanha do ovos), sem precedentes, tornando maior o risco de extinção desta espécie.
A situação socioeconómica do arquipélago, sempre condicionou a relação da população com os recursos naturais e o meio ambiente. A exploração dos recursos naturais, florestais e marinhos em São Tomé e Príncipe é feita maioritariamente por indivíduos de comunidades mais desfavorecidas. Geralmente, essas comunidades mais carenciadas vivem em zonas próximas do litoral, dependendo da exploração dos recursos da pesca e da agricultura familiar para a sua sobrevivência.

Em São Tomé e Príncipe a carne e os ovos das tartarugas entram na dieta alimentar da população. É uma prática que já vem dos nossos antepassados, não se sabe se por uma questão cultural ou não. O facto é que esta prática tem contribuído não só para a destruição das zonas de postura desta espécie de réptil marinho como também para elevar o nível de extinção destes animais. A situação é de certa forma alarmante e o governo santomense tem lançado campanhas de sensibilização em parceria com diversos organismos internacionais.⁴

O projeto Sada, na ilha do Príncipe, surge integrado numa dessas parcerias de educação ambiental, tendo como público-alvo toda a população santomense. De acordo com a Direção Geral do Ambiente de São Tomé e Príncipe (DGASTP), este projeto teve início em 2009, na ilha do Príncipe, e contou com aprovação duma Legislação Regional para a Proteção de Tartarugas Marinhas. O Projeto Sada teve como objetivo primordial proteger a população reprodutora de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata, vulgo tartaruga-de-escamas-levantadas) da Costa Ocidental da África.
Segundo informação do MRNMA-STP (antigo Ministério dos Recursos Naturais e Meio Ambiente), esta espécie está em vias de extinção, existindo apenas 100 a 120 fêmeas reprodutoras na ilha do Príncipe. Existem ainda a tartaruga-verde (Chelonia mydas) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).
Este projeto foi incrementado pela Universidade do Algarve, financiado pelo Oceanário de Lisboa e pelo Marine Turtle Conservation Fund – U.S. Fish & Wildlife Service e outros, tendo como finalidade preservar e conservar a biodiversidade da ilha, ameaçada pela ação humana.

Para alcançar estes objetivos, apostou-se em duas vertentes de ação:
– Sensibilização ambiental das populações locais que utilizavam estas espécies como fonte de proteína e para comercialização no mercado local;
– Criaram-se condições de postura e sobrevivência dos juvenis e dos adultos destas espécies ameaçadas.

Dentro da campanha de sensibilização ambiental criaram-se outdoors de dimensões variadas que foram espalhados por diversos pontos da ilha do Príncipe, com mensagens de fácil compreensão da problemática por toda a camada populacional:

– «A Sada do Príncipe é a única no Mundo. Vamos deixá-la viver»!
– «Tartarugas Marinhas – Príncipe Natural»
– «Príncipe, uma amiga das Tartarugas Marinhas».

Para além disso foram distribuídos 3 modelos de autocolantes, t-shirt e sacos com a seguinte mensagem:
– «Tartarugas Marinhas, Património Natural da Ilha do Príncipe».⁴

Também foram construídas nas zonas habituais de postura das tartarugas reprodutoras algumas espécies de cabanas com alguma segurança e conforto necessários para uma boa nidificação e eclosão dos ovos destas espécies ameaçadas.
Neste projeto, a Organização não-Governamental MARAPA (Mar, Ambiente e Pesca Artesanal) tem desempenhado um papel primordial. Fundada em 1999, esta ONG tem como missão auxiliar a população são-tomense na proteção, preservação e gestão sustentável do ecossistema marinho e costeiro. A MARAPA tem também apoiado a pesca artesanal em São Tomé e Príncipe, rumo a um desenvolvimento sustentável, tendo como área de ação a resolução de questões socioeconómicas da população costeira por um lado, e por outro procura resolver o impacto ambiental de uma exploração dos recursos marinho e costeiro não sustentável. A MARAPA tem-se envolvido em campanhas de sensibilização e educação ambiental dentro das comunidades costeiras e com toda a população são-tomense, promovendo uma atividade piscatória mais sustentável e respeitando o ambiente marinho.

Os principais projetos de proteção do ambiente marinho em São Tomé e Príncipe envolvem, além do programa de proteção das Tartarugas, o programa de proteção dos Cetáceos (ordem dos mamíferos marinhos como a baleia e o golfinho, entre outros).⁴

Como parceiros operacionais na luta de proteção e conservação ambiental e dos recursos costeiros e marinhos, a MARAPA atua com o Estado São-tomense, Associação para as Ciências do Mar (ACM), Associação para a Conservação das Tartarugas Marinhas (ATM) e a Rede de Áreas Protegidas de África Central (RAPAC). Como parceiros financeiros desses projetos estão o Banco Mundial (BM), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), RAPAC, a União Europeia, o programa ECOFAC5, o Fundo Francês para o Ambiente Mundial (FFAM), entre outros. A ilha do Príncipe já foi eleita como Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, em Julho de 2012).

A Direção Geral do Ambiente de São Tomé e Príncipe em parceria com a Quercus produziram em 2013 uma série de 15 episódios para “Minuto Verde”: um programa transmitido na RTP1 durante o “Bom dia Portugal”, transmitido também na RTP Internacional e na RTP África.
O objetivo deste programa é chamar atenção para os problemas e desafios ambientais da atualidade e colocar ideias e práticas mais amigas do ambiente. No caso particular de São Tomé e Príncipe, este programa funcionou de certa forma como uma campanha de sensibilização ambiental: os conteúdos abordados puseram em evidência os desafios ambientais que o arquipélago enfrenta, nomeadamente a gestão de resíduos, saneamento básico, qualidade de água potável, erosão das zonas costeiras, o impacto das alterações climáticas nas ilhas, gestão e exploração sustentável das biodiversidades endémicas e dos recursos naturais abundantes nas ilhas.

Temas como energias renováveis, ecoturismo e proteção dos recursos marinhos também foram abordados como uma aposta firme, rumo a um desenvolvimento sustentável das comunidades rurais mais carenciadas do país. Este projeto teve ajuda da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Fundação Calouste Gulbenkian.
A população são-tomense sempre dependeu dos produtos da natureza (florestais, agrários, costeiros e marítimos) para a sua subsistência, pelo que dizer inesperadamente a uma família ou comunidade que já não pode explorar um certo recurso natural da forma como o faz, não é com certeza uma tarefa fácil. Pelo que julgamos ser de capital importância a necessidade de um valoroso estudo das questões culturais e educação ambiental.

A maioria da população são-tomense não tem conhecimento das consequências negativas de uma exploração inadequada dos recursos naturais para o meio ambiente. Muitas vezes fazem-no desta ou daquela forma porque aprenderam assim com os seus progenitores e ignoram outros métodos de exploração, ou por vezes por uma questão cultural ou tradicional preferem utilizar formas de exploração dos recursos naturais menos amigas do ambiente.⁴

Uma barra de 20 gramas de proteína.  Estou na Praia Grande há 40 minutos, é hora de partir.

Este coco caiu enquanto eu estive na praia!! Acima está outra foto neste local, sem coco! Ainda bem que uso capacete!!

A passar novamente na cancela que deu acesso à Praia Macaco e à Praia Grande. São agora 11h50.
O guarda chama-se Celso. Perguntei-lhe o nome e tirei-lhe esta foto. Está aqui para zelar pelo bem estar das tartarugas.

Musgo. Só para lembrar da humidade e calor do Príncipe. Está sempre escuro e húmido, os mosquitos nem sabem quando é manhã ou tarde, é sempre igual.


¹ “Tartaruga-de-pente” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 3 outubro 2019,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Tartaruga-de-pente>

² “Tartaruga-verde” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 3 outubro 2019,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Tartaruga-verde>

³ “Tartaruga-de-couro” (s.d.) Wikipedia. Página consultada a 3 outubro 2019,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Tartaruga-de-couro>

⁴ Costa, Erizalva (2014) “A Exploração dos Recursos Naturais e a Preservação Ambiental: O caso de São Tomé e Príncipe”. Dissertação de Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente. Faculdade de Economia, Universidade do Porto, p. 11 e pp. 53-56. Documento consultado a 3 outubro 2019,
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/77581/2/33655.pdf

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