012 – Príncipe – Praia Sundy
Parece a Lara Croft! De catana na mão, rodeada de cães, deve ter ido à caça!
E repare-se também nas linhas do comboio que existia aqui antigamente.
O lixo.
O lixo é um problema dramático. Eu estou mesmo atrás da muralha da Roça Sundy, que mostrei na crónica anterior. Por detrás deste muro estão as casas da população. Não há onde deitar o lixo, não há recolha de detritos. As pessoas têm que desembaraçar-se do lixo como podem. Deitam para as traseiras das casas. Algumas queimam-no.
Um dos inúmeros chafarizes onde as pessoas vão buscar água, e aqui lavam a louça também. As casas não têm água canalizada.
Este caminho empedrado é difícil – não só para bicicletas, mas também para caminhar. São zigue-zagues em decida acentuada. Faço uso pleno da suspensão da bicicleta. Um destes rapazes disse-me para desmontar e ir a pé, que era melhor. E a certa altura foi mesmo o que fiz.
Foquei propositadamente a praia e desfoquei a barra de proteína. Afinal de contas a praia é mais interessante. Mas cheguei ao meu destino e aproveitei para comer. São 9 da manhã, tenho 12,8 km feitos.
Estas barras são muito importantes nesta minha viagem. Esta pesa 80 gramas, dos quais 20 gramas são proteína. É como comer um bife. Por aqui não se vendem bananas nem bifes, desenrasco-me com barras de proteína com sabor a chocolate e caramelo. Estas barras são vendidas nas lojas de desporto. É preciso prestar atenção às quantidades indicadas nas embalagens: estas são das melhores, andam pelos 2€ cada uma. Há barras mais baratas, mas com menos proteína. Mais uma coisinha a fazer pesar a bagagem no avião, portanto. Trouxe várias, bem como embalagens de gel energético. Tenho um destes também na bolsa da cintura, fica para daqui a pouco. Estas barras de proteína têm tal importância numa viagem destas, onde raramente existem cafés ou restaurantes para comer, que vieram comigo na mochila de mão. Se me perdessem a mala do porão, pelo menos estas barras chegariam comigo. Porque um esforço diário destes, durante um mês, não vai com bolachinhas ou com as vulgares barras de cereais que se vendem no supermercado.
Já o gel, sendo líquido, teve de ir na mala do porão.
Trouxe um power bank para carregar o telemóvel. Desde as 6 da manhã que vem com o GPS ligado.
E aqui descansei. Cheguei ao meu destino, com sucesso, e descansei. Com a perna suja de óleo da corrente. Vou estar uma hora aqui sentada. Este é um resort de luxo, na praia. Receberam-me, cumprimentaram-me, deixaram-me estar aqui sentada. Parece-me que não há mais ninguém mesmo. A bicicleta ficou no chão, no topo das escadas (na foto acima), nem lhe pus o cadeado.
São momentos de felicidade. Ainda existem momentos de felicidade, na vida. Já me perguntaram se sou feliz. Claro que não, tenho sim momentos de felicidade. Quando estou a viajar sou uma privilegiada, desde as seis da manhã que estou a viver momentos de felicidade. Estou em plena descoberta e aventura, em esforço físico e mental. Vejo o significado da palavra esforço: “Ação enérgica do corpo ou do espírito; coragem; diligência; zelo; ânimo; vigor.¹” Sim, é isto mesmo, estou alerta, todos os meus sentidos estão alerta e bem vivos, curiosos pela descoberta, e estou a ter portanto momentos de felicidade.
Acho que ninguém é feliz completamente, vamos sim tendo momentos de felicidade. Uns minutos, com sorte umas horas.
Caranguejos e cães (ou pelo menos os buracos feitos pelos caranguejos e as pegadas dos cães…)
O sol está a querer aparecer. Não se deixem enganar pelo tempo nublado. Faz calor e grande humidade. Fui lavar mãos ao mar, a água está morna. Há borboletas e pássaros coloridos a voar e a cantar.
¹ “Esforço”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online], 2008-2013. Página consultada a 11 Setembro 2019,
<https://dicionario.priberam.org/esfor%C3%A7o>