82 – Perdidos em Buenos Aires, Palermo

O encontro entre todos, novamente, era às 20h no átrio do Tribeca, o hotel. O destino era “La Viruta”, uma “milonga” – um local onde se ouve e dança o tango. Uma milonga é algo popularusco, para diversão. E estávamos todos a fazer uma grande festa porque íamos à “milonga”.

Como éramos sete e o destino ainda era longe, fomos em dois táxis.
Pois bem. O guia que nos disse que a nossa milonga era em San Telmo, enganou-se. Enganou-se e enganou-nos. Ambos os taxistas (viemos a descobrir, na medida em que cada grupo não sabia do outro) bem que diziam que não conheciam nenhuma La Viruta em San Telmo, nem em lado nenhum, aliás, mas nós insistimos tanto que ambos nos despejaram numa qualquer rua do bairro. Sem sabermos uns dos outros e sem meios de comunicação entre nós: eu e a Isabel éramos as únicas que tínhamos um telemóvel que funcionava, pois a tecnologia é diferente da europeia (os telemóveis são um fenómeno recente, na América Latina, pelo que a tecnologia é mais avançada aí. Só os topos de gama da Europa, os mais recentes, lá funcionam).

E agora? Bom, vamos jantar. Cada grupo que jante onde estiver. (Disse eu, pois a fome apertava e nessas alturas  perco a razão…). As duas espanholas estavam também connosco. Mas a Isabel achou que não. Que tínhamos de encontrar a outra metade do grupo e continuar à procura da milonga. Seja. Não quero contrariar ninguém, mas que lá que tenho a barriga a dar horas, tenho…
Acabámos por meter-nos noutro táxi, dizer o nome da milonga, e o taxista que nos leve onde quiser.
E eis que nos sai um ex-guia turístico. Disse-nos que La Viruta ficava no bairro de Palermo, na outra ponta da cidade. (Credo, esperemos que saiba o que está a dizer…) E foi-nos fazendo uma visita guiada todo o caminho, com explicações históricas e tudo. Há cada uma que parecem duas.
Com estas andanças já passava das 9 e meia quando chegámos. Curiosamente os outros estavam a chegar ao mesmo tempo. Vinham a pé; o taxista deles (o segundo) tinha-os largado ali perto, dado não saber também onde era La Viruta, mas o grupo tinha descoberto que era algures em Palermo.

 

E falta jantar, pois claro. Quero lá saber da milonga, quero é comer… Transformo-me em lobisomem quando não como, mas aquela malta ainda não sabe disso.
E então onde fomos parar? A um restaurante arménio. Alguma vez nós imaginámos que íamos jantar num restaurante arménio em Buenos Aires?! Era o que havia, ao lado da milonga, e não fomos mais longe. É mesmo aí.

Ai, ai… Uma vez mais: que delícia de comida. Que coisa fenomenal, a comida arménia. Bastermas, michugovs, boregs, karni yariks, lehmeyúns – experimentámos de tudo. De comer e chorar por mais, sempre ao som de músicas e danças típicas arménias.

E o final da história: saímos tão tarde do restaurante que já ninguém quis ir à milonga. Estava tudo cansado.
(Bom, eu queria, eu estou sempre pronta, sobretudo estando tão satisfeita, de barriga cheia, mas faltaram-me os meus dois comparsas das borgas, lá fui recambiada para o hotel…).

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