74 – Presidiário do Fim do Mundo II
Conforme o delito cometido, os prisioneiros dividiam-se eles próprios em várias categorias. Os acusados de homicídio consideravam-se superiores e não tinham qualquer contacto com os vulgares ladrões.
Os ladrões estavam igualmente divididos em classes – chantagistas, falsificadores, e os ladrões “finos” não tinham qualquer contacto com os ladrões da “ralé”.
Mas os assassinos estavam também divididos em classes. Uns tinham morto por roubo ou motivo similar, outros por amor e paixão, ou mesmo para salvar a honra de uma pessoa querida. Foi o caso de Eduardo Ramírez Raleix, que matou um amigo para defender a honra da sua irmã.
O jornalista Aníbal del Rié recolheu no seu livro muitas inscrições das paredes das celas. Segue a transcrição das que se referem a crimes passionais: “Nunca se é amado como se ama; por isso a arte de ser feliz no amor consiste em dar tudo sem pedir nada”. Outra diz “O homem no amor é insensato mais por natureza do que por definição. Passa metade da sua existência e arrasa tudo numa hora”. Os homens confinados por crimes passionais são provavelmente os mais arrependidos, como mostra esta inscrição: “Um momento de fraqueza, de cegueira, de imprudência no amor, e toda a obra é destruída pelas nossas própria mãos, todas as boas intenções desaparecidas, todo um futuro de paz e honestidade demolido. A única coisa que sempre fica de pé é a tragédia do remorso”.
Prisioneiro nº 90 – O “ Pequeno Orelhudo”, ou Cayetano Santos Godino.
No ano de 1912 Buenos Aires viu-se envolvida numa série de assassinatos de menores. A pesquisa policial deu como resultado a detenção de um menor de 16 anos, Cayetano Santos Godino. A sociedade ficou horrorizada com o cinismo do delinquente que declarou à imprensa: “Muitas manhãs após os resmungos do meu pai e dos meus irmãos, saía de casa com o propósito de encontrar trabalho, e como não o encontrava, tinha vontade de matar alguém. Então procurava alguém para esse sentido. Se encontrava uma criança, levava-a para algum lado e estrangulava-a”.
Em 1915 o presídio de Ushuaia foi eleito para o seu confinamento e ali passou o resto da sua vida.
A 4 de Novembro de 1927 realizou-se a cirurgia estética nas “orelhas aladas”, dado que se pensava que a sua maldade estava radicada nas orelhas. Segundo as versões do lugar, estas voltaram a crescer-lhe.
O traje e a sua evolução.
Reparem bem nas (poucas) nacionalidades…