57 – Torres del Paine – Trekking – a Descida

Tudo o que subimos, tivemos de descer.
Decididamente esta gente é doida…

Mas enfim. Deitei mãos à obra e desta vez separei-me do grupo – desci todos aqueles pedregulhos a toda a velocidade. Foi um risco, de facto, tenho consciência disso. Sobretudo porque a certa altura perdi-me do trajeto definido – deixei de avistar os pontos vermelhos – e fui parar a rochedos que tinham o dobro da minha altura. Ainda desci de escorrega num, mas tive de voltar atrás, desviar o caminho para o lado, até que tornei a encontrar os pontos. Desci, desci, saltei e pulei, a toda a velocidade.
Até achei piada àquilo.

Quando cheguei lá abaixo, sentei-me e esperei.
Apareceu o Rui, a Leonor e o João, ao fim de uns vinte minutos. Deixei-os ir e decidi esperar pela Isabel e pelo Walter.
Começou a chover, levantei-me e embrenhei-me na floresta. Deitei-me num tronco de árvore e mirei as pequenas folhas verdes que ondulavam ao sabor do vento, contra o céu. Tenho pena de não ter guardado a foto que tirei, a essas folhas ondulantes contra o céu. Achei que não mostrava grande coisa, que nem iria perceber-se o que era.
Esperei. Esperei. Continuei a esperar.
Esperei ao todo uma hora, até finalmente aparecerem. Os outros caminhantes perguntavam-me se estava tudo bem comigo, preocupados por ver alguém imóvel, deitado, em cima de um tronco.
Si, si, aguardo personas, gracias!, respondia-lhes, ora em espanhol, ora em inglês, conforme se me dirigiam. (Esta gente não me deixou dormir, tive aqui uma oportunidade de colocar um pouco os sonos em dia…).

Foi um dia inteiro a caminhar, em subidas e descidas. Partimos muito cedo, por volta das 8, e chegámos já perto da hora de jantar.

Como se não bastasse o nosso cansaço, ao final da tarde apanhámos umas rajadas de vento tão grandes que tínhamos de seguir – sob instruções obrigatórias do Flávio – de mão dada em fila indiana. Uma vez mais tirar estas fotos revelou-se uma operação complicadíssima. Tínhamos de manter-nos de cócoras para preparar a máquina e focá-la, sob pena de resvalarmos por ali abaixo. O Flávio não deve ter achado piada à coisa, com o perigo iminente, mas ia muito adiante, nada mais lhe restaria senão esbracejar de modo a chamar-nos à atenção.
No início eu e a Isabel armámo-nos em valentes e não quisemos seguir de mão dada com o Walter. Pois veio uma rajada tão grande que nos ia levando às duas por ali abaixo. Gritámos, agarrámo-nos ao pobre do Walter. A Isabel agarrou-o mesmo pelos colarinhos.
Era o cansaço, era a ventania patagónica e era ainda o riso que nos tirava as forças.

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