35 – El Chalten, Fitz Roy – Trekking
E chegámos ao Monte Fitz Roy e à vila de El Chalten, no Parque Nacional Los Glaciares, na tão esperada e temida etapa do trekking.
Durante toda a viagem tínhamos brincado com isto, tínhamos imaginado todas as situações possíveis, troçado de nós próprios, dito que ia ser assim e assado.
Chegámos. O que vestir, o que calçar, o que levar, o que comer, que tempo fará lá em cima.
Foi mesmo uma grande azáfama e nervoso miúdo. Esperava-nos vinte quilómetros em cerca de oito horas de marcha. E depois de partirmos não havia maneira de voltar – restava mesmo seguir em frente, acontecesse o que acontecesse. Sentimo-nos sem dúvida todos melhor por termos uma médica (a Isabel) e duas enfermeiras (as duas espanholas) no grupo.
E tivemos uma estreia terrível, à semelhança de Buenos Aires. A temperatura desceu bruscamente e choveu torrencialmente toda a manhã até depois de almoço.
Eu tive o primeiro contacto com o frio patagónico. Até aí apanhámos temperaturas quentes ou amenas. Frio não. E eu não o esperava. Fui agasalhada com um quispo e botas, mas fui de calções.
Choveu até exasperar. Caminhámos silenciosamente pelos trilhos da montanha, protegidos debaixo de impermeáveis. Uma fila silenciosa e penante em procissão. Nem fotos consegui tirar, em paisagens e locais lindíssimos.
Monte Fitz Roy, à chegada, na véspera da caminhada.
Foto tirada já no dia seguinte, de manhã, do quarto do hotel (ainda no quentinho) e a olhar com olhos receosos o mundo lá fora…
Uma das poucas pausas que consegui fazer de manhã – eu, a Isabel e o Flávio, os três últimos do grupo – para me aproximar lentamente do pica-pau. Ficou tremida, mas é o melhor que se arranja, assim tão perto.
Consegui finalmente tirar uma foto decente – na pausa rápida para almoço, protegidos num abrigo de montanha. Continuava a chover torrencialmente. Apesar do sorriso pronto para a câmara, a mim não me engana: eu digo nitidamente: tirem-me daqui, quero ir embora, quero voltar para o hotel! 🙂
Para cúmulo o meu impermeável rasgou-se em três mil bocados (o meu e mais alguns outros do resto do grupo) porque o vento – é verdade, ainda havia vento a ajudar à festa! – e os arbustos o rasgavam constantemente. A grande sorte, porque senão é que teria sido o fim da picada, é que quando já só restava uma tira do meu impermeável, parou de chover. Seriam umas duas da tarde.
Eu, a Isabel e o Flávio por esta altura já ríamos perdidamente. Tivemos mesmo de parar um pouco para rir tudo, nem conseguíamos andar. A minha figura era tão desolada, tão molhada, fria e rasgada, que nada mais nos restou senão rir com tudo aquilo.