187 – Artes Marciais Tradicionais de Kerala
O guia local que me esperava no final do trekking perguntou-me se eu queria ver um espetáculo de artes marciais. Hesitei. Artes marciais aqui na Índia?… Terá algum interesse? Não é um daqueles espetáculos só para turista ver, não?… Mas o rapaz insistiu, dizendo-me que eu ia gostar. Portanto foi chegar ao hotel, depois do dia de trekking e bamboo rafting, tomar banho, mudar de roupa e seguir com o motorista Thaha para o espetáculo. Que vida maravilhosa, esta, não me canso de repetir. Não há tempos parados e tudo é uma novidade constante.
Vim então a descobrir que o estado de Kerala é conhecido pela sua variedade e tradição em artes marciais. Entre estas, a kalarippayattu é a mais antiga e conhecida como a “mãe das artes marciais”. “Kalari” significa escola ou ginásio, e “payattu” significa lutar ou exercitar. Incorpora golpes, pontapés, lutas, sequências de artes marciais coreografadas, e armamento, assim como técnicas curativas.
Conta a lenda que a arte começou com o sábio Parasurama, a sexta encarnação do deus Vishnu. Este construiu templos e introduziu as artes marciais, as quais influenciaram e definiram muitas outras como o karaté e o kung-fu. A kalarippayattu tem uma longa tradição de 3.000 anos. Foi muito utilizada em Kerala pelos guerreiros na luta contra os inimigos. Exige um rigoroso treino, caráter, aptidão e coragem. A área onde é praticada é especialmente construída cavando um espaço no chão. É o chamado “kuzhikalari”, em que kuzhi significa “escultura na terra”. Num dos cantos é colocado um altar dedicado aos deuses, conforme se pode ver nesta foto. Ao lado vêem-se algumas das armas utilizadas no espetáculo. Foram usados escudos, espadas, lanças, e a mais perigosa, para a qual pediram silêncio absoluto: umas espadas de lâminas flexíveis, uma das armas mais perigosas e cuja técnica apenas ensinam aos alunos mais dotados. Imaginem as fitas de carnaval – em papel – transformadas em fitas de aço flexível, que se enrolam e cujo controlo é nitidamente difícil.
Foi um espetáculo agradável e esteve animado.
E de seguida foi hora de regressar às perdições culinárias do Spice Village. Hoje há espinafres bebés, pickles de coco, peixe masala, queijo, borrego, cebola uthapam, beringelas e sei lá que mais. À sobremesa (nem queria acreditar, voltei a ser eu e os miúdos ao redor dos bolos…) bolo de banana, bolo de ananás, pudim flan, soufflé de chocolate, tarte de caramelo e caju. E faltou a sopa, no início: sopa de cenoura e coco.
Acudam-me… Tudo isto por 650 rupias, ou seja, uns dez euros.