170 – Cemitérios e Templos

A Tata propôs em 2006 ao governo indiano limpar os restos tóxicos deixados pela Union Carbide na fábrica que se encontra hoje abandonada. Esta proposta gerou manifestações contra: os manifestantes alegaram que a Dow Chemical é que deve limpar o local, e que os responsáveis da altura pela Union Carbide devem ser castigados. A Tata foi acusada de estar a livrar a Union Carbide de responsabilidades e de estar a abrir caminho ao regresso à Índia do novo dono, a Dow Chemical.
Em 2008 e após inúmeras pressões nacionais e internacionais, o governo indiano finalmente anunciou a tomada de medidas legais no sentido de obrigar a Union Carbide e a Dow Chemical a assumirem as responsabilidades civis e criminais do desastre ocorrido em 1984. Foram necessárias marchas e manifestações de solidariedade por todo o mundo, incluindo greves de fome, para o governo indiano finalmente assumir uma posição. Cinquenta sobreviventes de Bhopal organizaram uma marcha de um mês, até Delhi, e a eles juntaram-se centenas de Bhopalenses, juntamente com os filhos, muitos com terríveis deficiências de nascença. As crianças nascidas dos sobreviventes sofrem de retardação mental e física, lábio leporino e paralisia muscular em mais altos níveis do que as crianças nascidas de pais não expostos ao gás.
Após 70 dias sentados nas ruas de Delhi sem resposta por parte do governo, nove Bhopalenses iniciaram uma greve de fome, a qual acabou por durar 21 dias. Mais de 800 pessoas de pelo menos dez países juntaram-se-lhes num gesto de solidariedade, realizando igualmente greves de fome de um ou mais dias.
Mais de 6.000 faxes foram enviados de todo o mundo pelos apoiantes das vítimas de Bhopal para o gabinete do primeiro-ministro indiano. Dezasseis membros do congresso norte-americano e mais de oitenta membros do parlamento britânico manifestaram o seu apoio às exigências dos Bhopalenses, incentivando a que a Dow Chemical fosse responsabilizada pelo que se está a passar. Indianos e outros apoiantes vivendo no estrangeiro organizaram manifestações junto das embaixadas indianas.¹ Organizações como a Greenpeace têm também tomado ações no sentido de pressionar a Dow Chemical a assumir as responsabilidades.²
Foram cinco meses de campanha que culminaram na tomada de posição por parte do governo indiano. Todavia, conforme visto no artigo de Suketu Mehta no jornal Expresso transcrito nas crónicas anteriores, nada aconteceu. A Dow ainda não levou a Union Carbide a tribunal, e o governo indiano não fez avançar a ação junto das autoridades americanas. As manifestações e os protestos continuam, portanto. Entretanto em Bhopal, a capital do estado de Madhya Pradesh, continua a beber-se água com altos níveis de contaminação, e os solos apresentam valores preocupantes de chumbo, mercúrio, arsénico e crómio – os níveis de mercúrio, por exemplo, são 164 vezes mais altos do que os valores considerados pelo Canadá como aceitáveis em zonas industriais.³


¹ Countercorp (2008), Indian government revokes Dow Chemical’s impunity for Bhopal massacre”, 11 de Agosto. Página consultada a 7 de Fevereiro de 2010,
<http://list.countercorp.org/pipermail/corporation-watch/Week-of-Mon-20080811/000285.html>.

² Greenpeace (2002), “Bhopal, Índia – O pior desastre químico da história”. Página consultada a 7 de Fevereiro de 2010,
<https://greenpeace.org.br/bhopal/docs/Bhopal_desastre_continua.pdf>

³ Krishna, Gopal (2009), “The lessons not learnt from Bhopal”. Rediff News, 4 de Dezembro. Página consultada a 7 de Fevereiro de 2010,
<http://news.rediff.com/column/2009/dec/03/the-lessons-not-learnt-from-bhopal.htm>.

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