169 – É Hora de Bicicleta

(Cont.)
O Governo indiano, receoso de assustar investidores estrangeiros, não fez avançar a ação junto das autoridades americanas. Numa carta datada de 2006, Andrew Liveris, diretor-geral, dirige-se ao embaixador da Índia nos EUA, pedindo-lhe garantias de que a Dow não seria responsabilizada pela limpeza da zona e agradecendo-lhe os “seus esforços para garantir que continuemos a ter o clima de investimento adequado”.
O que falta nesta triste história é qualquer resquício de solidariedade entre os homens sem rosto que dirigem a multinacional e as vítimas. Em 1995, uma mulher de Bhopal, chamada Sajida Bano, enviou uma carta, escrita à mão, à Union Carbide. A fábrica tinha-lhe morto o marido em 1981 num acidente laboral. Na noite da tragédia ficou sem o filho, de quatro anos. “Ponham a mão no coração e pensem”, escreveu ela, “se é que são seres humanos: se isto vos acontecesse, como se sentiriam as vossas mulheres e filhos?”. Nunca recebeu resposta.
Os sobreviventes de Bhopal só querem ser tratados como gente – não como vítimas nem como gananciosos por dinheiro. Apenas como seres humanos que passaram por um inferno e têm direito a um tratamento digno. Isso inclui a limpeza da zona e a prestação de cuidados de saúde aos doentes. Mas, sobretudo, o reconhecimento do crime cometido e um pedido de desculpas, algo que os habitantes de Bhopal nunca receberam.
Essa foi outra coisa boa que o meu filho aprendeu na escola de Brooklyn: quando se faz alguma coisa mal, deve-se pedir desculpa. Passado um quarto de século, é tempo de a Dow reconhecer que é responsável por uma enorme sujeira. E que chegou a hora de limpar.”¹

Eu nem tinha medo das vacas, mas desde que um dos guias no Rajastão, não me recordo qual, se mostrou melindroso e me disse para eu afastar-me, pois elas por vezes davam cornadas, ganhei medo. De modo que vi esta vir direito a mim e tratei de fugir. Deixei a bicicleta e fugi. O homem, como se vê na foto, parecia intrigado.

Centro médico. Entrei, cumprimentei as funcionárias e tirei umas fotografias. Ficaram um pouco embaraçadas, as senhoras enfermeiras (pelo menos uma era), mas não me puseram fora.


¹ Mehta, Suketa (2009), “19 mil mortos – 25 anos depois, a  contaminação continua”. Expresso, 12 de Dezembro, p. 22 do Primeiro Caderno.

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