150 – Chegada a Munnar
Mas a emergente subcultura dos trabalhadores de call center revela que os Estados Unidos exportaram mais do que empregos e produtos para a Índia – exportaram valores, também. Os call centers trouxeram uma nova riqueza à Índia, mas também estão a provocar um retrocesso cultural à medida em que os jovens e modernos trabalhadores BPO [“Business Process Outsourcing”, ou seja, outsourcing de processos de negócio] vão contra as tradições das gerações mais velhas.
Empresas como a Convergys empregam agora mais de 5.000 na Índia para desempenhar funções de backoffice. Este subúrbio ao sul de Nova Delhi também possui escritórios para a International Business Machines Corp., General Electric Co., American Express Co. e Nestlé SA. Os indianos de vinte e poucos anos que trabalham nestes call centers, não só trabalham juntos, também bebem juntos, dançam juntos, namoram uns com os outros e, mais importante, percebem-se uns aos outros. Os seus empregos obrigam-nos a cultivar pronúncias americanas e a manterem-se atualizados na cultura pop dos EUA. Eles possuem o seu próprio vocabulário híbrido. (“No probs, yaar” significa “no problem, my friend.”) E eles têm uma confiança ilimitada sobre até onde as suas carreiras os podem levar.
(…)
Os indianos mais velhos lamentam que os seus filhos estão muito ocupados, sem tempo para casamentos, férias, ou família. Enquanto que a vida social dos mais novos girava à volta da família, agora cada vez mais se foca no trabalho e nos amigos.
“A juventude indiana é hoje mais aberta, mais confiante, mais liberal em termos de atitudes, valores e normas sociais” comparada com a de há 20 anos atrás, diz Sunil Mehta, vice-presidente da Associação Nacional de Software e Companhias de Serviços. “É um fenómeno da juventude indiana, mais do que do BPO. Mas estas características podem ser amplificadas pelas pessoas que trabalham no setor BPO”.
Os trabalhadores dos call centers insistem que não precisam de escolher entre os seus empregos e as suas tradições.¹
Parti de Cochim às oito da manhã, e após muitas curvas e contracurvas, cheguei a Munnar à uma da tarde. Este motorista buzina imenso, e a viagem foi mais desconfortável e suscetível de enjoar qualquer um. Pelo caminho vi uma rapariga à berma da estrada a vomitar, junto da família com o carro encostado. Eu ia comendo bananas – sempre evitava o enjoo das curvas e ia calando a fome crescente.
Pelo caminho vi também plantações de arroz, ananás, tapioca e borracha. E cheguei à terra das plantações de chá, como se verá muito, doravante.
A melhor refeição dos três dias em Munnar foi precisamente esta: comecei com um creme de espargos, depois pedi um gratinado de legumes com um lassi de manga. Ao pequeno almoço já me tinha aventurado a comer um ovo mexido, e agora à sobremesa comi pudim flan. Progressos nítidos, portanto. No dia seguinte espera-me um dia inteiro de trekking pelas montanhas, é bom que me alimente devidamente.
¹ Kalita, S. Mitra (2005), “Hope and Toil at India’s Call Centers”, The Washington Post, 27 de Dezembro. Página consultada em 17 de Janeiro de 2010,
<https://www.washingtonpost.com/archive/politics/2005/12/27/hope-and-toil-at-indias-call-centers/2e0a2067-e79c-4352-823d-3e303337a4cc/>