146 – Agora é Tempo de Bicicleta

Durante décadas, os fabricantes americanos, desde os jeans aos semicondutores, procuraram no mundo o trabalho mais barato que podiam encontrar. Pode ter custado centenas de milhares de empregos aos americanos, mas tornou os seus produtos mais acessíveis. Agora, algumas das companhias mais conhecidas – aquelas com as quais lidamos todos os dias – estão a deslocar toda uma nova classe de empregos para o estrangeiro.
Eles chamam-lhe outsourcing. Não os empregos de linha de produção da velha economia, mas empregos na nova economia, algo que envolva um computador ou um telefone.
(…) aquela pessoa no outro lado da linha, é mais provável que esteja na Índia do que no Indiana.
Para muitas entidades patronais americanas, a Índia é o Nirvana. Tem uma democracia estável, uma enorme população fluente em inglês, e um sistema educacional sólido que cada ano produz mais de um milhão de graduados – todos contentes por trabalhar por uma fração do salário das suas contrapartes americanas.
E a Índia é a epítome da nova economia global – um país que muitas vezes parece estar à beira do colapso, com um background de pobreza flagrante, visualmente uma confusão.
Ainda assim, quer o saibamos ou não, quando ligamos para o número de assistência técnica da Delta Airlines, American Express, Sprint, Citibank, IBM ou Hewlett Packard, o mais provável é estarmos a falar com um indiano.
“Estamos a prestar assistência ao cliente ali”, diz Raman Roy, presidente da Wipro Spectramind, uma das principais companhias de outsourcing. Ele ajudou a começar o boom dos call centers indianos nos anos 90, quando apareceu com um plano para as companhias americanas desviarem as suas chamadas para a Índia.
Os call centers são frescas ilhas autossuficientes no mar incerto das ruas caóticas da Índia.
“Nós servimos o globo. Nós servimos todas as partes do mundo independentemente das horas que lá sejam”, afirma Roy.
Nova Delhi está quase 11h à frente de Nova Iorque, pelo que o atendimento telefónico é um trabalho sobretudo noturno. Durante o dia os agentes – como são chamados – são obedientes filhos e filhas indianos. À noite assumem ao telefone nomes como Sean, Nancy, Ricardo e Celine, para que possam parecer a rapariga ou o rapaz que mora ali ao lado.
“O meu nome verdadeiro é Tashar. E o nome que uso é Terrance”, diz um representante.
“O meu nome verdadeiro é Sangita. E o meu pseudónimo é Julia”, diz outra representante. “Acontece que a Julia Roberts é a minha atriz preferida, por isso escolhi Julia”.¹

Cá temos a “jackfruit”, ou jacas, em português.

Aqui está a minha nova e magnífica traquitana, que desta vez tem campainha, mas não tem travões. É à escolha: ou me dão uma bicicleta silenciosa em que eu tenho obrigatoriamente de travar porque ninguém me vê (já que não buzino), ou então dão-me uma campainha e assim os travões já não fazem falta, porque as pessoas desviam-se conforme eu dou campainhadas. É o que eu digo, não se pode ter tudo na vida.

Repare-se na espécie de saias que os homens estão a usar, bastante comuns em Kerala.


¹ Leung, Rebecca (2004), “Out Of India”, CBS News.com, 1 de Agosto. Página consultada a 17 de Janeiro de 2010,
<https://www.cbsnews.com/news/out-of-india-28-07-2004/>

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