135 – Taj Mahal II

O Taj Mahal é um monumento tão famoso e tão visto que não posso dizer que tenha ficado embasbacada a olhar para ele, como já li relatos de outras pessoas. Pouco antes de partir para a Índia tinha visto o premiado filme “Quem quer ser Bilionário”, que ganhou oito óscares na 81ª edição dos prémios da academia de Hollywood. Enquanto via o filme pensava: dentro de poucos dias estou ali. Vou pisar aquele chão.
E assim foi. Pedi ao guia para deixar-me a sós, após este ter-me mostrado os cantos à casa e explicado tudo. Agora vou demorar o tempo que quiser, vou parar e observar. Ainda por cima tinha acabado de recuperar de um estado de saúde muito mau, que me deixou prostrada durante a noite, e ainda me sentia bastante frágil, o que mais incentivava a uma pausa, ou a um passeio mais calmo.

Aqui estou eu.
No Taj Mahal.
Mesmo assim não consegui libertar-me devidamente da azáfama que pairava no ar – muitos visitantes numa sofreguidão turística, uma multidão de gente que pouco observava, numa corrida à volta da sala principal. Até a impaciência do rapaz que me serviu de guia senti claramente. A ponto de o ter afastado. Quero estar sozinha, queira por favor esperar por mim à saída. Aquilo é a profissão deles, já deitam Taj Mahal pelos olhos, e foram muito poucas as pessoas que vi numa atitude mais contemplativa. Apenas um ou dois pequenos grupos de rapazes e raparigas estrangeiros, europeus ou norte-americanos talvez, mostravam algum vagar e sentaram-se nos jardins, com o edifício à frente. Fiz o mesmo. Sentei-me num banco de madeira. Aqui estou eu no Taj Mahal – que edifício tão grande e ao mesmo tempo tão delicado, construído entre 1630 e 1652 pelo imperador Shah Jahan em memória da sua mulher favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal (“primeira dama do palácio”). Ela morreu após dar à luz o 14º filho, tendo o Taj Mahal sido construído sobre o seu túmulo. Assim, o Taj Mahal é também conhecido como a maior prova de amor do mundo, contendo inscrições retiradas do Corão.
Quanto à origem do nome, a palavra “Taj” provém do persa e significa “Coroa”, enquanto que “Mahal” vem do nome Mumtaz Mahal. Taj Mahal significa então “coroa de Mahal”.

É proibido fotografar a sala central onde se encontram os cenotáfios de Mumtaz e Shah Jahan. Estão sepultados segundo um eixo norte-sul, com os rostos inclinados para a direita, em direção a Meca. Todo o Taj Mahal se centra em redor dos cenotáfios, os quais duplicam de forma exata a posição das duas campas. Apesar de proibido, ainda tirei uma foto à socapa, sem flash, claro, mas ficou muito escura. Na Wikipédia estão disponíveis melhores.
Esta disposição assimétrica dos cenotáfios – a única rutura na perfeita simetria do conjunto – tem uma história: o filho de Shah Jahan, chamado Aurangzeb, era um homem piedoso, e o Islão evita todo o tipo de ostentação, especialmente no aspeto funerário. Assim, em lugar de utilizar um caixão, era normal usar simplesmente uma mortalha para sepultar os mortos. Os livros islâmicos descrevem a sepultura em caixões como “um gasto inútil, que poderia ser melhor utilizado para alimentar o faminto ou ajudar o necessitado”. Segundo a visão de Aurangzeb, construir um mausoléu novo para Shah Jahan teria sido um desperdício. Por isso sepultou o seu pai junto a Mumtaz Mahal sem mais complicações.¹

O principal material empregado na construção é o mármore branco trazido em carros puxados por bois, búfalos, elefantes e camelos desde as pedreiras de Makrana, no Rajastão, situadas a mais de 300 km de distância. O segundo material mais utilizado é a pedra arenisca rochosa, empregada na construção da maioria dos palácios e fortes muçulmanos anteriores à era de Shah Jahan. Este material foi utilizado em combinação com o mármore negro. O Taj Mahal inclui, aliás, outros materiais trazidos de toda a Ásia. Mais de 1.000 elefantes transportaram materiais de construção dos confins do continente. O jaspe foi importado do Punjab, o cristal e o jade, da China. Do Tibete trouxeram-se turquesas e do Afeganistão o lápis-lazúli, enquanto que as safiras provinham de Ceilão e os quartzos da Península Arábica. No total utilizaram-se 28 tipos de gemas e pedras semipreciosas para fazer as incrustações no mármore. O custo total da construção do Taj Mahal estima-se em 50 milhões de rupias.¹

Ao redor do Taj Mahal existem vários mausoléus secundários, incluindo os das demais viúvas de Shah Jahan e do servente favorito de Mumtaz. São típicos edifícios funerários da época mogol, construídos principalmente com pedra vermelha.

Sala principal – fotos (acima e abaixo) retiradas da Wikipédia

Ainda na Wikipédia encontra-se uma frase de Rudyard Kipling: “O Taj Mahal parece a encarnação de todas as coisas puras, de todas as coisas sagradas e de todas as coisas infelizes. Este é o mistério de edifício.” ¹

Pois é. Esta sensação de tristeza afinal não é só minha. Afinal não se deve apenas ao meu estado débil e frágil, depois de uma noite pavorosa em que mal conseguia erguer-me. É mesmo o Taj Mahal e a sua história – um monumento fúnebre, mandado construir por um homem em memória da mulher que mais amou.


¹ Wikipédia (s.d)  “Taj Mahal”. Página consultada em 13 de Dezembro de 2009, <http://pt.wikipedia.org/wiki/Taj_Mahal>.

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