133 – Relaxando no Hotel

Nos últimos anos, os casos de noivas que morreram queimadas registaram um grande aumento em toda a Índia: todos os dias, em quase cada seis horas, uma jovem mulher casada é queimada viva ou espancada até à morte ou forçada a suicidar-se. De acordo com informação reunida pelo National Crime Records Bureau (NCRB) da Índia, foram reportados 2.276 suicídios de mulheres devido a disputas de dotes em 2006, o que significa 6 por dia em média, e em 2005 o número foi de 2.305. Em 2004, pelo menos 2.585 casos foram registados em todo o país. Em média, uma mulher comete suicídio em cada quatro horas devido a disputas de dotes, conforme dados oficiais, apesar das leis criadas para protegê-las.
O dote tem sido referido e pode ser definido como uma “transferência unilateral de recursos da família da noiva para a família do noivo, no casamento, por a convidarem para a sua casa permanentemente, sendo o dote um pagamento compensatório à família que concorda abrigá-la hipoteticamente para o resto da vida.
A prática do dote continua a regular a sociedade. Na maior parte das famílias indianas o rapaz tem direitos hereditários, ao passo que à rapariga é dada uma soma avultada na altura do seu casamento, em vez da igualdade de direitos na propriedade parental para as raparigas estabelecida por lei.
(…)
Tem havido também a emergência de uma perspetiva feudal, com uma atitude materialista numa nova economia globalizada. O preço de um noivo é maior e mais audaz. A emergência de uma influente classe média – a fonte da mudança social na Índia, é o fator principal para a perpetuação do sistema do dote na Índia. Torna-se difícil para famílias com filhas altamente educadas arranjar casamentos, pois exigem-se maridos ainda mais educados, e há falta de noivos com altos níveis de educação. Os pais da rapariga estão dispostos a pagar uma bela soma como dote ao correr atrás de noivos educados elegíveis.
A maior parte dos casamentos são arranjados pelas famílias, e um homem que não se casa por amor, pode casar-se tendo em conta outras considerações como as posses. Para este homem e para esta família, uma mulher torna-se no bilhete para a sua rápida riqueza através do sistema do dote. Há uma série de coisas que as pessoas desejam ter nas suas casas mas não conseguem; usam a oportunidade do casamento do filho para as obter. (…) O desejo de continuar a beneficiar materialmente dos pais da noiva pode assumir a forma de pressão sobre a noiva e a sua família no sentido de obter mais dotes mesmo após o casamento.
(…) O sistema é mais rígido no norte da Índia: nos estados de Bihar, Uttar Pradesh, Rajastão, Haryana, Delhi e Madhya Pradesh, sobretudo na faixa que fala o hindi.¹

Quando se fala em suicídio estamos perante um eufemismo, novamente. São homicídios disfarçados de suicídios, muitas vezes simulados através de incêndios em casa, ou na cozinha. E são os casos que chegam às autoridades, pois muitos não são sequer registados. Repare-se também que o sistema é mais rígido onde precisamente ando a viajar: Rajastão, Uttar Pradesh, Delhi.

O macaco-guarda chamado Franjo. Tem 9 anos e faz patrulha nas árvores do hotel, para evitar que outros macacos invadam o recinto.
Uma vez mais me questiono se este animal é feliz, com tamanha corrente à volta do pescoço. É o guarda do hotel. Mas ele não devia estar entre os macacos que querem vir bisbilhotar o interior do hotel?… Tem que estar do lado dos humanos, a afugentar os seus congéneres símios?… A corrente não inspira confiança na sua lealdade a tais funções.


¹ Ahmad, Dr. Nehaluddin (2008), “Dowry Deaths (bride burning) in India and Abetment of Suicide: A Socio-Legal Appraisal”, Journal of East Asia and International Law. YIJUN Institute of International Law. Página consultada a 8 de Dezembro de 2009,
<https://www.academia.edu/76265703/Dowry_Deaths_bride_burning_in_India_and_Abetment_of_Suicide_A_Socio_Legal_Appraisal>

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