131 – A Caminho de Agra, a Cidade do Taj Mahal

(Cont.)
Nas descrições das mulheres, aprender a fazer “chapattis” (pão não fermentado cozinhado na chapa) é um símbolo da dura adaptação que têm de fazer. São repreendidas ou agredidas até que aprendam a fazer bons chapattis, mesmo que sejam privadas da sua própria comida. Mas mais do que a adaptação física e a aprendizagem de novas tarefas, é a distância da sua própria cultura e o desenraizamento dela que embate na alma. O próprio corpo da mulher é escrito, na sua transformação num corpo Haryanvi. Ao longo do tempo, as mulheres tornam-se fluentes nas línguas e dialetos locais, adotam o vestuário local e mudam a conduta. Os ritos e os rituais das suas terras são substituídos pelos dos maridos; sucede o esquecimento cultural, sendo despertadas apenas quando encontram alguém da sua própria cultura. O nascimento das crianças prende-as à sua nova terra e é através dos filhos que adquirem valor na casa e propriedade do marido, bem como o direito de continuar a viver onde investiram o seu trabalho, produtivo e reprodutivo.
(…)
Os homens que se casam fora geralmente são aqueles com poucas ou nenhuma terras, sem emprego e sem instrução, são fisicamente deficientes, ou afetados por algum escândalo social. Viúvos em busca de uma segunda mulher têm de procurar para além de Haryana. Poucos homens acima dos trinta e cinco anos conseguem encontrar uma noiva local. Assim, os homens que estão em baixa posição na hierarquia social de uma forma ou de outra sofrem.
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À medida em que o “tráfico de noivas” se tornou mais lucrativo, para além das mulheres que se tornaram casamenteiras, os homens começaram a entrar na arena. Apesar de poder haver alguns elementos de tráfico (introduzidos com a entrada dos homens) em algumas transações, a maior parte dos casamentos são monógamos e permanecem estáveis. Enquanto que os homens podem encarar a transação como “comprar uma noiva” devido à soma gasta na viagem, rituais e pagamentos à casamenteira, os pais da mulher não recebem nenhum dinheiro e não encaram o ato como ter “vendido” a sua filha. Em alguns casos, parentes sem escrúpulos vendem as raparigas em casamento, mas este não é o caso na maior das vezes.¹

Os carros não podem subir à cidade de Fatehpur Sikri, pelo que para lá e para cá se vai de riquexó.

O Kailash parou por qualquer motivo que não me recordo, talvez para procurar gelo (mantinha a água fresca numa caixa térmica com gelo dentro) e eu aproveitei para tirar uma foto com este macaco. É uma pequena atração turística. Hoje arrependo-me: o macaco não tem um ar nada feliz, o homem deve tratá-lo mal, e ele próprio tem cara de mau. Não devia ter estimulado este negócio.

Voltei a Portugal! Frango assado com batatas fritas! Comi que me fartei, matei saudades. Quis comer à mão, e nem imaginam o sarilho que isso implicou: a água da torneira, na casa-de-banho, vinha a ferver, não se conseguia lavar as mãos. Teve de vir o empregado do restaurante com um jarro de água fresca, do frigorífico, e deitar-mo sobre as mãos, enquanto eu as lavava. Mesmo assim, acho que isto de comer com as mãos veio a dar-me problemas. Regra número um: não beber água da torneira. Regra número dois: não comer com as mãos. Logo veremos, logo veremos.


¹ Kaur, Ravinder (2008), “Missing women and brides from faraway: Social consequences of the skewed sex ratio in India”. In AAS Working Papers in Social Anthropology. Viena, Andre Gingrich & Helmut Lukas. Página consultada a 5 de Dezembro de 2009,
<http://epub.oeaw.ac.at/0xc1aa500d_0x001a819c.pdf>.

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