130 – Fatehpur Sikri II

Continuemos a crónica 128, sobre a busca de noivas noutras regiões:
A distância em tais uniões excede largamente o raio normal das alianças, em alguns casos exigindo vários dias de viagem de comboio. Ao casarem tão longe de casa, os casais estão a atravessar regiões culturais, com o resultado de nada partilharem em comum – falam diferentes línguas, comem comida diferente, usam roupas diferentes, e as suas normas comportamentais e culturais são diferentes. Viverem juntos implica um considerável ajustamento para o casal, e suscita apreensão sobre a aceitação de tais casamentos, e principalmente sobre o status das crianças destas uniões. As mulheres, sobretudo, enfrentam dificuldades, e os primeiros anos do casamento são muito difíceis. Todavia, os termos pelos quais as mulheres são incorporadas e aceites na comunidade local (…) variam de acordo com a posição anterior da mulher, bem como os seus antecedentes culturais. Assim, as mulheres de Kerala, que em geral tendem a ser mais instruídas e capazes de independência financeira, podem negociar melhores condições para si próprias no casamento, do que aquelas pobres e sem instrução de Bihar ou Bengala.

As mulheres que se casam têm de ajustar-se a uma cultura radicalmente diferente e muito mais patriarcal. Começando com as diferenças na comida, no vestuário e na língua, elas têm de adaptar-se a diferenças culturais mais simbólicas. A língua dos Haryanvis é um dialeto do Hindi, ao passo que as mulheres falam diversas línguas como o Bengali, o Malaialo, o Assamês e o Marati, etc. A comunicação verbal é difícil, deixando a noiva social e psicologicamente isolada. Os Haryanvis são sobretudo vegetarianos, enquanto que as mulheres com quem estão a casar estão habituadas a comer carne e peixe. O regime culinário das mulheres é baseado no arroz, contrariamente ao do Norte, baseado no trigo. As mulheres têm de adaptar-se a um sistema onde a separação por sexos é radical, e cuja expressão local do purdah [a prática através da qual se evita que as mulheres sejam vistas pelos homens] é o uso do “ghunghat”, um véu para a face. As mulheres Hindus fora da região do Norte não cumprem o purdah e têm uma mais fácil interação com membros do sexo oposto bem como membros de gerações mais velhas. A liberdade de movimentos na sua terra natal é bastante maior. Levar a cabo todas as tarefas mantendo a cara coberta é tomado como algo pouco natural e constrangedor.¹

Aqui vivia a mulher portuguesa de Akbar, que se bem me recordo (não anotei!) se chamava Maria, pois claro. Pelo menos foi o que o guia local me vendeu. Não encontro nada na internet sobre esta nossa Maria, apesar de encontrar uma breve referência sobre o assunto na biblioteca digital do Instituto Camões.

Aqui só devia tapar as pernas, vá lá. São só metade radicais. Os ombros e os braços podem andar à mostra. E descalçar os sapatos também era obrigatório. Reparem que a passadeira tem uma mangueira a molhá-la: só assim eu consegui estar parada, descalça. No resto da passadeira corri desalmadamente, quase que perdia o meu bonito chapéu. (Aquele descalço ali ao lado deve ter solas nos pés…).

Colmeias no teto.


¹ Kaur, Ravinder (2008), “Missing women and brides from faraway: Social consequences of the skewed sex ratio in India”. In AAS Working Papers in Social Anthropology. Viena, Andre Gingrich & Helmut Lukas. Página consultada a 5 de Dezembro de 2009,
<http://epub.oeaw.ac.at/0xc1aa500d_0x001a819c.pdf>.

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