129 – Fatehpur Sikri
Deixei o estado do Rajastão e encontro-me agora no estado de Uttar Pradesh, onde fica o Taj Mahal. Estou para já na cidade abandonada de Fatehpur Sikri, classificada como Património Mundial pela UNESCO. Foi construída pelo imperador Akbar em 1570, e abandonada 14 anos após a sua construção devido à falta de água.
A sua origem tem uma história: como o imperador Akbar não conseguia ter um filho herdeiro, consultou o santo sufi Salim Chishti. Os sufis pertencem a uma corrente islamita contemplativa que procura uma relação direta com deus através de cânticos, música e danças. O santo Salim abençoou o imperador e previu que em breve iria ter um herdeiro. De facto assim foi, nesse mesmo ano o imperador Akbar teve um filho, ao qual deu o nome do santo, Salim. Akbar mandou então construir esta cidade em Sikri, a pequena localidade onde vivia o santo, e mudou para aí a capital do império.
A esta nova cidade de Sikri foi acrescentado o nome de Fatehpur: a palavra “Fateh” significa vitória e o novo nome da cidade deve-se à vitória do imperador Akbar na batalha de Gujarat, em 1573. “Fateh pur Sikri” significa “cidade da vitória”.
Fixem este nome: Akbar.
Akbar foi o terceiro imperador muçulmano da Índia e é considerado o mais importante. Era filho de Humayun e neto de Babur. (Ver as crónicas 4 e 5, onde se conta muito resumidamente a história destes imperadores muçulmanos, e onde visitei o túmulo de Humayun).
Akbar assumiu o trono aos 13 anos, quando o seu pai morreu. Durante o seu reinado foi conquistando partes da Índia central e do norte, consolidou o poder mantendo relações diplomáticas com a poderosa casta dos Rajputs – os guerreiros – e admitindo princesas rajput no seu harém. No final do século XVI a população do subcontinente indiano rondava os 140 milhões de pessoas, a maior parte das quais vivendo nos territórios controlados por Akbar.
Akbar influenciou significativamente a cultura e a arte na sua época. Era apreciador de pintura e decorou as paredes dos seus palácios com murais. Além de desenvolver a escola muçulmana de pintura, também promoveu o estilo europeu. Era igualmente apreciador de literatura, e tinha várias obras sânscritas traduzidas para o persa, além de ser responsável pela ilustração de muitas obras persas pelos pintores da sua corte.
Akbar promoveu ainda o debate religioso entre muçulmanos, sikhs, hindus, ateus charvakas (filosofia que assume a indiferença religiosa) e teve inclusivamente uma delegação de padres jesuítas portugueses, vindos de Goa, para lhe dar um sermão sobre cristianismo. Uma das suas mulheres, aliás, era portuguesa. O imperador reuniu então os melhores elementos existentes em cada religião e formou uma sua, à qual deu o nome de Din Ilahi, ou Fé Divina. Esta nova religião desapareceu porém com a sua morte.
O benevolente monarca suspendeu os injustos impostos sobre os não-muçulmanos, impostos esses que eram cobrados desde que os governantes muçulmanos tomaram o poder na Índia.
O reinado de Akbar também deu início a um período sem precedentes de estabilidade política na Índia.
Os últimos anos de Akbar seriam no entanto toldados pela tristeza: o seu filho Salim virou-se contra si. Em 1600, quando Akbar estava ausente, o príncipe tentou tomar o forte de Agra, onde se situava então a capital do império. Pai e filho reconciliaram-se, mas em 1602 Salim declarou-se novamente imperador.
Akbar morreu em 1605 com 63 anos.
O odor, o já tão familiar odor está aqui presente. Acelerei o passo, claro.
Cá estão eles, lindos, de pêlo sedoso, brilhantes. Mais bem tratadinhos, estes morcegos indianos, do que uma boa parte da população indiana…
O guia local que me foi explicando a história de Fatehpur Sikri. Muito apressado e muito aflito com o calor.