115 – Subida de Elefante ao Forte Amber

(Cont.)
Algumas mulheres jovens responderão a esta situação cumprindo todas as expetativas culturais, incluindo a ausência de relações sociais com rapazes e mantendo-se sexualmente abstinentes antes do casamento. Para outras mulheres jovens, o intervalo de tempo entre a primeira menstruação e o casamento representa a única oportunidade de auto-determinação, afeição e controlo através de uma relação com um namorado. “Ame baane ek bija ne jode wat karye che” (falar [ter uma relação sexual] um com o outro). O seu ponto de vista foi apresentado da seguinte forma:

– Seja que divertimento queiras ter, tem-no agora. Haverá mais tarde oportunidade?
– Ela gosta de falar com ele [namorado], ela gosta de ser amada por ele…

Todavia, para estas mulheres jovens que procuram fugir aos confinamentos culturais tradicionais, ter um namorado, ou ter sexo, deve ser feito em secretismo absoluto. Não é manter a virgindade ou a abstinência sexual o importante, mas sim ser elegível para casamento bem como a reputação social da família.
Com tudo isto, as mulheres são muitas vezes consideradas como saappno bhaaro (um fardo). O fardo económico refere-se ao dote e outras despesas de casamento, incluindo as várias despesas de festivais ao longo da infância e da vida das mulheres jovens. Tal como em muitas partes da Índia, a preferência por ter filhos do sexo masculino é assim significativa. Isto é destacado nos resultados do National Family Health Survey-2 (NFHS-2) relativamente ao sex-ratio em Gujarat, o qual caiu para 932 mulheres por cada 1.000 homens; mais baixo do que o ratio geral da India, de 949:1000. As práticas culturais resultantes priviligiam o desenvolvimento físico, emocional e social dos irmãos do sexo masculino. Às raparigas é dada menor atenção em termos de oportunidades na educação e boa nutrição, a sua mobilidade está restrita, têm maiores responsabilidades nas tarefas domésticas e estão sujeitas a falta de atenção e afeição por parte dos pais.
Uma rapariga de 15 anos, iletrada, disse, “O meu pai não permitia a educação das raparigas. Mas os meus irmãos estudaram até ao 9º ano.” Outra rapariga disse, “Eu parei [de estudar] porque o meu irmão precisava de ir à escola e a minha mãe trabalha fora de casa.” Uma rapariga que estudou até à 3ª classe disse, “A minha família comprou um búfalo quando o meu irmão era muito novo e a minha mãe pediu-me para eu deixar de ir à escola de forma a cuidar dele e do búfalo”.
As entrevistas realizadas revelam que as crianças do sexo feminino reconhecem abertamente a preferência dada aos seus irmãos do sexo masculino, todavia, muitas têm a esperança que a sua condição possa melhorar. Também reconhecem que a sua felicidade futura depende do arranjo de um casamento pelos seus pais. Durante este período elas deslocam-se livremente pela vila na companhia de rapazes e raparigas.¹

(Continua na próxima crónica).

Nesta pequena subida, que levou talvez dez ou quinze minutos, fui sendo acompanhada por este músico. Claro que no fim queria dinheiro, e eu acedi, pois queria ouvir aquele instrumento tradicional.


¹ Verma, Ravi K. et al (orgs.), (2004), Sexuality in the Time of AIDS: Contemporary Perspectives from Communities in India. Nova Delhi, Sage Publications India Pvt Ltd, pp 90-103. Disponível parcialmente na web em:
<http://books.google.pt/books?id=jla4Wr7a-4cC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false>.

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