114 – De Visita aos Monumentos

Dois terços das mulheres e homens indianos consideram que a família ideal deve ter duas crianças ou menos. Grande parte dos homens e das mulheres gostaria de ter pelo menos um rapaz e uma rapariga. Apesar disso, a preferência pelos rapazes é maior: uma em cada cinco mulheres e homens afirma que gostaria de ter mais filhos do que filhas, e apenas 2-3% afirma querer mais filhas do que filhos.¹

Porquê?

Num contexto patriarcal como o da cultura Rajput no Gujarat rural [conforme referido anteriormente, o Gujarat é o estado mais a ocidente, na Índia], uma filha é parki thapan (um empréstimo de alguém) na medida em que a sua estadia junto da família natal acabará com o arranjo de um casamento e a sua mudança de residência para a casa da família do seu marido. Este “empréstimo” todavia vem associado a uma série de obrigações sociais que são imprescindíveis na perspetiva cultural e comunitária. Os pais têm de arranjar um parceiro para o casamento dentro do tempo apropriado, têm de assegurar a reputação da rapariga bem como da família, e têm de providenciar os recursos económicos para garantir um dote, bem como as despesas do casamento e outras obrigações. Estas pesadas obrigações, com um limitado retorno esperado, são encaradas como um fardo para muitas famílias pobres. Pais expressaram-no desta forma:

– Em vez de dar à luz uma rapariga, numa casa, há mais retorno em manter um búfalo. O búfalo ao menos dará leite. O que dará uma rapariga?
– Uma filha é como um peso que carregamos na nossa cabeça. Cresce e estraga-se tão depressa como o lixo numa lixeira.
– Se não encontrarmos um noivo para a nossa filha dentro de um certo período de tempo [idade], as pessoas começarão a falar. Perguntarão, “Existe algum problema com a filha deles ou com a família?”

Na perspetiva de uma filha, existe reconhecimento de que os filhos rapazes têm preferência quanto à alimentação, educação, mobilidade e oportunidades. Uma filha, contrariamente a um filho, recebe menos afeição e atenção; espera-se dela que leve a cabo muitas mais tarefas domésticas; e carrega em si grande responsabilidade pela reputação social da família. Uma filha apenas pode desejar mudar do domínio e das restrições da sua casa natal, para as da casa da família do marido. Neste sentido, ela não tem “sonhos” sobre um futuro significativamente diferente do presente.²

(Continua na próxima crónica).

Parte nova da cidade, com 65 anos.

Vou entrar na parte velha da cidade. Tem 10 km² e sete portões como este. Jaipur é conhecida como a cidade cor-de-rosa, a cor das boas-vindas. Foi assim pintada em 1876, para receber a visita do príncipe Albert de Inglaterra.

Palácio do Vento. Construído em 1799, servia como extensão da “zenana” (a parte da casa reservada às mulheres – por oposição a “mardana”, a parte da casa reservada aos homens) destinada ao harém. Este edifício tinha como objetivo permitir às mulheres da realeza observar a vida quotidiana da rua sem serem vistas.

Forte de Amber, construído em 1569. A muralha à sua volta tem 11 km.


¹ Ministry of Health and Family Welfare, Government of India (2007), “National Family Health Survey (NFHS-3) 2005-06”, Mumbai, International Institute for Population Sciences. Páginas xxxi e xxxii do “Summary of Findings. Disponível na web em <http://www.nfhsindia.org/volume_1.html>

² Verma, Ravi K. et al (orgs.), (2004), Sexuality in the Time of AIDS: Contemporary Perspectives from Communities in India. Nova Delhi, Sage Publications India Pvt Ltd, pp 90-103. Disponível parcialmente na web em: <http://books.google.pt/books?id=jla4Wr7a-4cC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false>.

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