113 – A Capital do Rajastão: Jaipur & O Papel da Mulher na Sociedade Indiana
Deixamos o tema do Nirodh, pelo menos diretamente, e entramos num tema melindroso:
O das mulheres indianas. O papel da mulher na sociedade indiana. A sua vida. A sua importância.
Continuemos para já o tema da gravidez, da crónica anterior:
No Gujarat rural [o estado mais a ocidente, na Índia] não existe o conceito de se ter uma criança fora do casamento. O maior risco é o conhecimento público de uma gravidez, aí a reputação social da mulher é duramente afetada. Mulheres que tenham este tipo de gravidezes são removidas das vilas para uma IMG [interrupção médica da gravidez]. Normalmente a mulher também será sujeita a uma severa tareia por parte do pai ou dos irmãos mais velhos devido à potencial humilhação a que ela está a submeter a família. Se a gravidez se torna do conhecimento público, a mulher jovem é realojada em casa de algum parente da família, fora da vila. Adicionalmente, há a tentativa de rapidamente arranjar um casamento antes que as notícias se espalhem. Uma rapariga disse,
Se uma família vier a saber [de uma relação com um rapaz], a rapariga é sovada e mandada embora da casa da família para outros parentes. Ela pode ficar grávida. Muitas vezes, se ela ficar grávida, os pais estão preparados para casá-la com o rapaz, mas os pais do rapaz recusam e ela vai para um curatin [IMG] e é casada rapidamente com qualquer outro rapaz, porque as pessoas falarão. Tenho uma amiga que anda com um rapaz e não tiveram relações sexuais, mas andam de mãos dadas. Ela mesmo assim tem de esconder que eles não têm relações, pois será sovada por isto.
As entrevistas às mulheres não casadas, sexualmente ativas, mostraram que a sua principal preocupação relativamente à gravidez não desejada era obter acesso a instalações e assegurar os meios para a IMG. O procedimento da interrupção causava pouca preocupação. Isto provavelmente deve-se à ameaça de castigo que advém da descoberta pública. Os seguintes exemplos mostram a apreensão que rodeia uma gravidez não desejada: as restrições, as motivações que levam a manter comportamentos não seguros e o apoio por parte da mãe em obter uma IMG, seguidas de outras restrições diárias. Uma rapariga de 18 anos partilhou a sua experiência de gravidez não desejada:
Depois de seis meses fiquei novamente grávida. Toda a gente começou a falar na vila. Os meus irmãos também vieram a saber. Então o meu irmão espancou-me e impediu-me de sair de casa. Não estava autorizada a ir a lado nenhum. E assim deixei de falar com aquele rapaz.
Outra rapariga fala da logística da interrupção:
A rapariga também disse que quando se encontra com o outro rapaz, o namorado não sabe disso. Como o rapaz lhe dá coisas, dinheiro, etc., ela encontra-se com ele e têm relações. Quando ela engravida, ele dá-lhe dinheiro para ela se ver livre disso e assim não ter de deixar de vê-lo.¹
A cidade de Jaipur foi fundada em 1727. No último census, de 2001, disponível na crónica 42 (o census é realizado de dez em dez anos) Jaipur tinha 2,3 milhões de habitantes.
Fiquei num hotel vulgar, bom e confortável, é certo, mas daquelas cadeias que existem por todo o mundo. A piscina é que era fraquíssima. Ainda andei a chapinhar uns trinta minutos, e fui-me embora. Neste hotel (e nesta cidade) já se vêem muitos turistas brancos. À noite fui jantar ao Niro’s, um dos restaurantes mais conhecidos entre a população local, e caro, pelo menos para os seus padrões. Temos ali a urbana classe média, pelo que me apercebi. Hoje é domingo e foi preciso esperar um quarto de hora para entrar, altura em que finalmente vagou uma mesa.
¹ Verma, Ravi K. et al (orgs.), (2004), Sexuality in the Time of AIDS: Contemporary Perspectives from Communities in India. Nova Delhi, Sage Publications India Pvt Ltd, pp 105-106. Páginas consultadas a 29 de Novembro de 2009,
<http://books.google.pt/books?id=jla4Wr7a-4cC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false>.