112 – Ainda a Caminho de Jaipur & Continuação sobre o Nirodh

Encerremos o tema do Nirodh. Com tantas interrupções, nunca mais é dia. Ficámos na crónica 105 com o relatório de saúde do governo indiano; vamos agora para um livro: “Sexualidade no Tempo da SIDA”:

Foi perguntado a mulheres não casadas, sexualmente ativas, se os seus parceiros tinham relações com outras mulheres; 81,4% responderam que pensavam que sim. Apesar destes resultados, 82,4% indicaram que nunca usaram um preservativo, e apenas 6% indicaram que usavam preservativo “frequentemente”.
As razões dadas sugerem a existência de vários obstáculos ao sexo-seguro para as mulheres não casadas talvez devido à não aprovação social de relações sexuais entre estes grupos. A maior parte das mulheres jovens não acede ao sistema social de saúde regularmente, e tem poucos meios de obter conhecimento nesta área das suas vidas. Sendo mulheres não casadas, a expetativa é que se mantenham sexualmente inativas e portanto não existe razão aceitável para elas se preocuparem com o acesso a, ou conhecimento face ao uso de, preservativos. Uma resposta típica é: “Tenho vergonha. A quem pedir e onde guardar? A quem e como perguntar?”.
Obstáculos ao uso do preservativo incluem o medo da desaprovação pelos mais velhos, falta de conhecimento relativamente ao seu uso, e a incapacidade de planear o encontro, conforme percebido pelas seguintes respostas de várias mulheres jovens não casadas. Uma delas disse: “Eu sei do Nirodh. Também sei que ao usá-lo não se apanham doenças e infeções. Mas a Campaben [uma funcionária que trabalha na área da saúde, na vila] é minha tia. Como posso eu pedir-lhe o Nirodh?”. Outra disse, “Não gosto de usar o Nirodh, tenho medo dessas coisas.” Ainda outra disse, “Nós encontramo-nos inesperadamente. Nunca está decidido quando nos encontraremos, assim nunca temos a chance de usá-lo”. “Eu conheço o Nirodh, mas hesito em pedi-lo. Os homens dizem que se eu ficar grávida, dar-me-ão o dinheiro para ver-me livre disso”, respondeu outra.
A incidência de gravidezes não desejadas entre as mulheres jovens não casadas está a aumentar na área de Nandnagar. No total de 51 mulheres não casadas, sexualmente ativas, da amostra, 13 (24,9%) reportaram que tiveram pelo menos uma interrupção médica da gravidez (IMG), e quatro mulheres indicaram ter tido duas.¹
(Continua).

Hoje tomei uma saqueta de protetor gástrico que trouxe de Portugal. A ver se recupero de vez daquele maldito prato ocidental. E voltei à comida indiana: chicken shahi korma: boneless chicken cooked in white gravy with tinge tomato. Uma delícia e fiquei bem disposta. Já devo estar a transformar-me, metade portuguesa, metade indiana; o organismo está a dar os primeiros sinais de recusa da comida ocidental…
Não, não! Ainda sente muito a falta de esparguete.
Também calhava bem um bacalhauzinho. (Cozinhado seja lá como for: à brás, com natas, cozido com legumes, ou numa salada de grãos… Nesta fase do campeonato não posso ser esquisita).


¹ Verma, Ravi K. et al (orgs.), (2004), Sexuality in the Time of AIDS: Contemporary Perspectives from Communities in India. Nova Delhi, Sage Publications India Pvt Ltd, pp 104-105. Páginas consultadas a 29 de Novembro de 2009,
<http://books.google.pt/books?id=jla4Wr7a-4cC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false>.

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