108 – Corridas de Bicicleta pelas Ruas
Isto foi algo que nunca me passou pela cabeça, quando parti para a Índia: que iria fazer corridas de bicicletas com os miúdos, pelas ruas.
Eu tinha uma dupla vantagem sobre o rapaz que está à minha direita na última foto abaixo: a minha bicicleta tinha mudanças e a dele não. Eu não carregava ninguém, e ele carregava o rapaz que está em pé. Mesmo assim chegámos empatados ao fim da longa rua. Foi renhido e podia ter acontecido ali uma queda aparatosa se algo se tivesse metido no nosso caminho: cães, vacas, pessoas, fosse o que fosse. Tivemos sorte, porque acelerámos bastante, sem qualquer possibilidade de travar depressa.
Enfim, acabadas as corridas e tirada esta foto de recordação, andei a passear pela vila, algumas vezes acompanhada por eles (sempre nas bicicletas). Bastante simpáticos, apesar de nada termos falado, pois não eles sabiam inglês (nem eu hindi). O que é certo é que nos íamos entendendo.
A certa altura fui chamada por duas raparigas dos seus quinze anos. Estavam sentadas à porta de uma casa, num pequeno terraço.
Muito bem, agora vou deixar os meus amigos das corridas e vou falar de bonecas e colares com as raparigas. (É necessária versatilidade, nesta vida).
Pois as raparigas eram todas espevitadas e mais desembaraçadas no inglês. Esta vila fica ao lado da outra, mas parece outro mundo. Se calhar na outra estão os dalits, marginalizados, e aqui estão os vaishyas (comerciantes, pastores, agricultores) e os sudras (camponeses, artesãos e operários). [Ver crónica 67 com a distinção das castas]. Já nem sei.
Então as moças perguntaram-me o que achava eu dos indianos. São mais simpáticos e amigáveis do que os europeus, respondi-lhes prontamente. Ficaram contentes, claro. Entretanto juntou-se uma porção de gente, como é sabido. Um rapaz tirou-me uma foto com o seu telemóvel, mas levou tanto tempo que eu comecei a ressonar. Todos se riram. Ora bem, ressonar em Portugal ou na Índia é igual, está visto.
Reparem que estão a ver televisão, lá dentro… Nem me viram… Eu a deambular por ali, a tirar fotos à esquadra da polícia e eles entretidos com a televisão.