104 – O Forte de Bikaner
(Continuação)
O nosso já conhecido NFHS (National Family Health Survey, abordado na crónica 73) possui dados muito interessantes sobre esta matéria e outras. Aconselho vivamente o seu download no link abaixo – o “Full Report Volume”, com 7 MB. Tem análises e gráficos sobre os mais variados temas, desde as preferências na fertilidade, como o sexo das crianças; o método contracetivo preferido no futuro; as idades médias das primeiras relações sexuais; as idades da primeira vez que se utilizou o preservativo; dados sobre a violência sexual entre marido e mulher, etc, etc. São 540 páginas com um bom índice e muitos gráficos explicados.
Para o tema que tenho vindo a desenvolver nestas últimas crónicas – o do Nirodh ligado ao controlo da natalidade bem como à prevenção de doenças infecciosas, interessa-nos para já o gráfico da página 112:
Aqui vemos que 73,8% das mulheres já ouviram falar do preservativo (pelo menos do Nirodh), contra 93% dos homens, sendo a população urbana a mais informada. Curiosamente, os métodos tradicionais como o coito interrompido ou o método rítmico, no qual se estima a data da ovulação por forma a evitar contactos sexuais no período fértil, são menos conhecidos pelos indianos: apenas 41% das mulheres e 48% dos homens conhecem o método rítmico. E 30% das mulheres estão a par do método do coito interrompido, contra 38% dos homens.¹ É uma vitória, portanto (se bem que estranho), que um método moderno como o preservativo seja muito mais conhecido do que o do coito interrompido, por exemplo, já falado há mais de 2.000 anos atrás.
Fiquemos para já com os dados gerais sobre casamento e fertilidade:
Mais de metade das mulheres casam antes da idade mínima legal de 18 anos. A idade média situa-se nos 17,2 anos. Os homens, por seu turno, casam-se seis anos mais tarde, sendo a idade média de 23,4 anos. Dezasseis por cento dos homens casam-se aos 18 anos; 28 por cento aos 20, e 58 por cento aos 25 anos.
Todavia as mulheres atualmente esperam um pouco mais para se casar. No final dos anos 1990, a idade média do primeiro casamento era 16.7 anos, seis meses mais cedo do que os valores atuais. A idade média do primeiro casamento no escalão de idades entre 20-24 anos é quase dois anos mais alta do que a existente no escalão dos 40-49 anos. As mulheres urbanas casam mais de dois anos depois do que as mulheres rurais: a idade média para casamento entre mulheres urbanas entre 20-49 anos é de 18.8 anos, comparado com 16.4 anos entre as rurais.
A fertilidade continua a cair na Índia. O índice total de fertilidade (ITF) é atualmente de 2.7. No NFHS-2, realizado sete anos antes, em 1999, este índice situava-se nos 2.9, todavia continua a estar muito acima de desejado nível de duas crianças por mulher. Nas áreas urbanas, o ITF atingiu níveis positivos de 2.1, porém nas áreas rurais o ITF é de 3.0.
Diferenciando por castas, temos que o ITF é de 3,1 entre as “scheduled tribes”, 2.9 entre as “scheduled castes”, e 2,8 entre as OBC – other backward classes (ver crónica 73 com diferenciação de castas). Entre os muçulmanos o índice de fertilidade é superior ao dos hindus: 3.4 contra 2.6, respetivamente.
Gravidezes não desejadas são relativamente comuns. Se todas as mulheres tivessem apenas o número de filhos desejado, o índice total de fertilidade situar-se-ia nos 1.9 em lugar dos 2.7 atuais. Dois terços das mulheres e homens indianos consideram que a família ideal deve ter duas crianças ou menos. Grande parte dos homens e das mulheres gostaria de ter pelo menos um rapaz e uma rapariga. Apesar disso, a preferência pelos rapazes é maior: uma em cada mulher e homem afirma que gostaria de ter mais filhos do que filhas, e apenas 2-3% afirma querer mais filhas do que filhos.²
Curioso, heim? O índice de fertilidade desejado situa-se nos 1,9. E é aqui que entram os métodos contracetivos.
(Continua na próxima crónica).
Foram duas encantadoras horas passadas dentro deste forte, construído no final do século XVI. Deram-me um pequeno gravador e fones, para ir ouvindo as explicações dos pontos mais importantes – 33 ao todo. Falava-se muito do marajá Ganga Singh (1880 – 1943), um homem de espírito benemérito, que governou durante 55 anos e introduziu uma série de reformas: a eletricidade na cidade, quando no resto da Índia pouco era conhecida, caminhos de ferro, canais de irrigação, justiça e tribunais. Era um homem inteligente e culto, com várias licenciaturas tiradas em Londres. Participou na Conferência de Paz de Paris, em 1919, e assinou o Tratado de Versalhes.
Atualmente não existe um marajá em Bikaner, mas apenas as duas filhas do último, ambas solteiras.
Marajá Ganga Singh
¹ Ministry of Health and Family Welfare, Government of India (2007), “National Family Health Survey (NFHS-3) 2005-06”, Mumbai, International Institute for Population Sciences, pp 112. Página consultada em 29 de Novembro de 2009, <http://www.nfhsindia.org/volume_1.html>
² NFHS-3, páginas xxxi e xxxii do “Summary of Findings”.