103 – Centro Cultural e Museu de Bikaner
(Continuação)
São assim necessárias novas aproximações e motivações no sentido de ajudar a população masculina a adotar e a manter o uso do preservativo, nomeadamente através das redes sociais. Efetivamente o diálogo sobre sexo e saúde sexual ocorre muitas vezes entre amigos e membros de redes sociais próximas. Nos nossos estudos descobrimos que os amigos se reúnem para beber álcool, para falar de mulheres, e a seguir procuram os serviços de profissionais sexuais. Os homens falam uns aos outros das mulheres que fornecerão determinados serviços sexuais, e os homens também discutem entre si detalhadamente métodos de prevenção do HIV. Crenças erradas sobre comportamentos sexuais são também partilhadas. Descobrimos, por exemplo, que eram partilhadas informações erradas sobre medidas de prevenção pós-coital, após sexo sem proteção, entre as redes masculinas. Estas medidas incluíam o uso de ervas ou outros desinfetantes tópicos nos órgãos genitais do homem, e a toma de medicamentos que diziam ser eficazes contra o HIV.
Outra informação transmitida nestas redes inclui a motivação para ter sexo, a partilha das mesmas mulheres, particularmente as profissionais do sexo, e a partilha de informações de contactos de parceiras sexuais anteriores. A natureza pessoal destas informações e a confiança entre membros chegados da mesma rede, implica que, se treinados adequadamente, os membros de uma rede possam partilhar entre si uma mensagem correta de prevenção de forma natural, numa conversação, e da maneira que considerarem mais apropriada.
Intervenções recentes baseadas na comunidade mostraram repetidamente que quando as mensagens de uso do preservativo são efetivamente entregues, o uso do preservativo aumenta e torna-se mais consistente. Todavia, estudos também mostram que os homens deparam com uma série de dificuldades em adotar comportamentos sexuais seguros, desde restrições situacionais, como a não disponibilidade de preservativos quando necessários, até obstáculos pessoais, como a preferência por sexo sem barreiras físicas. Estas barreiras pessoais são reforçadas por normas sociais e de género que retiram o ênfase à comunicação sexual e valorizam a aquiescência feminina aos desejos sexuais do parceiro masculino, muitas vezes sob a ameaça de violência física e sexual. As normas tradicionais também conferem ao homem poderes únicos nas relações sexuais. Ao esperar que os homens sejam mais experientes no sexo, e ao apoiar a sua necessidade de frequência sexual, estas normas estimulam outro comportamento que alimenta o risco do HIV – ter múltiplas parceiras sexuais. A grande prevalência de sexo pré-marital bem como relatórios mostrando que os homens jovens possuem uma percentagem desproporcional de DST (doenças sexualmente transmissíveis), sugerem que os níveis de sexo não-seguro são maiores nesta população.¹
Saímos portanto dos meios massificados aplicados pelo governo indiano, e mergulhamos nos hábitos sociais e culturais da população. E assim nos apercebemos como é a vida dos indianos, ou mais exatamente a sua vida sexual, no meio de tanto tradicionalismo, tantas restrições sociais, culturais e económicas. E o que eu vejo é que vira o disco e toca o mesmo. Os problemas com que os especialistas se deparam são iguais, pelos vistos, em qualquer parte do mundo. São sim extremamente pobres e isso retira-lhes o acesso à educação e ao conhecimento, a base de qualquer evolução.
¹ Sivaram et al.: “HIV Prevention in India” (2006). Harvard Health Policy Review. Página consultada em 15 de Novembro de 2009,
<www.hcs.harvard.edu/~hhpr/publications/current/Sivaram_et_al.pdf>