096 – Cinco Horas num Camelo

Ora aqui está a melhor foto de todas, comigo toda mascarrada. Reparem: na véspera não tive uma casa de banho em condições, tive de lavar-me de balde. Hoje muito menos, nem balde havia. Entretanto as camadas de protetor solar e de anti-mosquitos vão-se acumulando, umas em cima das outras. Hoje rio-me ao pensar nisto. Já não conseguia espalhar o creme. Com a ventania que fez durante a noite, e a dormir ao relento, fiquei cheia de areia. O resultado está à vista, nesta foto, e não deixa margem para dúvidas. Os calções ficaram de tal maneira sujos, que quando os mandei lavar no hotel, no serviço de lavandaria, voltaram brancos. Tiraram-me a cor azul aos calções para conseguirem limpá-los. Claro que nem me queixei, devem ter-lhes posto lixívia e fizeram bem.
E o melhor de tudo foi chegar à aldeia, à casa do médico, e ter novamente a casa de banho que se viu na crónica 92. Um baldezinho, outra vez. Se me apanho numa casa de banho de um hotel, com duche, até digo que é mentira. Agora tratei de mergulhar os pés e as pernas, com sandálias calçadas e tudo, dentro do balde.

Pôs-se um vento tão grande, com tanta areia, que tive de guardar a máquina fotográfica e acabar com as fotos, sob pena de estragá-la com a areia.

Et voilà, parece-me bem representativo, o meu ar, da estafa que significa andar cinco horas num camelo, no deserto, sob temperaturas altíssimas. E eram apenas onze da manhã, por esta altura. Tínhamos acabado de chegar a casa do médico, novamente. O sol ardia tanto, às onze da manhã, que tive de cobrir o corpo o mais que pude, e se se prolongasse teria de vestir umas calças e camisa de manga comprida (tinha-as comigo, na mochila que levei, antecipando já isso).
Bom, ao menos já estou a ficar bronzeada, até que enfim.
Quanto ao passeio em cima do camelo, foi uma experiência interessante. Gostaria de repeti-la, agora que sei como é. Não fosse o calor podia continuar ainda mais algum tempo. Eles perguntaram-me se eu queria continuar ou não, mas o sol já estava a tornar-se perigoso, há que parar. Rumámos então para a aldeia. Fique a nota de que tive de mandar calar um dos indivíduos. Isto é ridículo, mas é verdade. O mais magro não se calou um segundo. E quando eu digo um segundo, é mesmo um segundo. Parecia que estava ligado à corrente. Os outros apenas diziam “sim” ou “não”, ou acenavam simplesmente com a cabeça, e o homem parecia uma matraca, não parava. Ao fim de duas horas – notem bem: ao fim de duas horas neste safari de cinco, tive de encher-me de coragem e mandá-lo calar-se. É delicado, têm de concordar. Uma rapariga, um pingente sozinho em cima de um camelo, no meio de três homens, e mandar calar um deles…. Tentei fazê-lo suavemente, e fazer-me entender em inglês. Fiz o gesto de que queria ouvir os pássaros ou os sons em redor, do deserto. Eles perceberam. Mas o esforço de estar em silêncio era demasiado para o pobre homem, que continuou a falar desalmadamente, mas baixinho. E impediu-me de gozar a 100% este safari de camelo no deserto. De qualquer forma, nas três horas seguintes a viagem já foi mais silenciosa. Não posso dizer porém que tenha vindo encantada com este safari. Ainda tenho de fazer outro, mas dessa vez mesmo pelo deserto-deserto. Agora vimos casas, vimos pessoas, vimos tribos. Queria dunas – só dunas e mais dunas, sem absolutamente nada à vista durante horas seguidas. Fica para a próxima.

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