091 – A Caminho de Nokha
Regressemos aos preservativos Nirodh.
Este tema traz consigo questões muito importantes na sociedade indiana atual. Não só a SIDA e outras doenças infecciosas – estima-se que cerca de cinco milhões de pessoas na Índia estão infetadas com o vírus da SIDA – mas também nos transporta para o tema do controlo da natalidade.
Fiquemos para já com um artigo do “India Today”:
Sob controlo
Quando o país teve o seu primeiro preservativo distribuído massivamente, em 1963, o único nome que parecia adequado era o do deus indiano do amor – Kamaraj. Porém havia um problema. Acontecia que o nome do então presidente do Congresso era K. Kamaraj.
A segunda busca de um nome apontou então para Nirodh, que significa proteção. Foi criado por um estudante do IMM [Indian Institute of Management], e passou a fazer história no movimento de planeamento familiar do país.
Foi o esforço coletivo de gestores académicos, grupos empresariais, agências internacionais de financiamento e importantes agências de publicidade, apoiados pelo governo, que levou ao espetacular sucesso do Nirodh.
(…)
Em 1964 a população da Índia era de 470 milhões (hoje é a segunda no mundo, com 1,2 biliões) e com um incremento anual de 12 milhões iria duplicar em três décadas. Dado que medidas urgentes eram necessárias, o orçamento dedicado ao planeamento familiar foi quintuplicado para $56 milhões. Foi também procurada ajuda por parte de agências internacionais, e a Ford Foundation, a USAID e a Swedish International Development Agency (SIDA) comprometeram-se. Foi pedido a uma equipa do IIM-C [Indian Institute of Management Calcutta], liderada pelo professor Peter King, do MIT, um anteprojeto com novas formas de implementar com sucesso métodos de planeamento familiar, tendo essa equipa sugerido a introdução em larga escala de preservativos.
A equipa também recomendou a realização de “marketing social” dos preservativos, o qual passou a fazer história.
Os preservativos estavam disponíveis na Índia desde os anos 1940, mas mesmo em 1968 a produção total dos quatro fabricantes existentes mal chegava a um milhão, e a 25 paisas [uma rupia equivale a 100 paisas] o preço era quase igual ao do mercado norte-americano.
De facto eles estavam disponíveis apenas para os mais abastados, enquanto que o crescimento populacional era maior entre os grupos de baixo rendimento.
Para tratar disto, a equipa do IIM sugeriu que o governo importasse preservativos e os vendesse a um preço acessível ao comum dos indianos. O preço recomendado por eles – 5 paisas por preservativo – era um quinto do preço actual e cerca de 0,5% do rendimento nacional per capita.
O importante passo seguinte era o do marketing, para o qual o governo indiano se agarrou a cinco grandes corporações. Agências de topo trabalharam na campanha publicitária.
Em 1968, o primeiro carregamento de 400 milhões de preservativos (um per capita) foi importado dos EUA, Japão e Coreia. Todos tinham embalagens idênticas, cada caixa continha três preservativos e todos com a marca Nirodh.
Foi desenvolvido um sistema de distribuição entre os três que envolvia o fornecimento grátis a centros de saúde; marketing social que ocupou 75 por cento do fornecimento; e marketing comercial.
Nos primeiros anos, todavia, três quartos do stock continuavam parados nos distribuidores. Mas gradualmente as coisas começaram a mudar.
Em 1969, a Hindustan Latex Ltd (HLL), criou a primeira fábrica de preservativos em Thiruvananthapuram, com uma produção anual de 144 milhões de unidades.
A produção duplicou em sete anos, e competiu com o crescimento populacional para alcançar os 800 milhões em 1985, com outra unidade industrial em Belgaum, Karnataka.
Atualmente a HLL produz a maior variedade de preservativos do mundo. Apesar de a população indiana ter mais do que duplicado nas últimas três décadas, e prevê-se que seja a maior do mundo em 2050, a taxa de crescimento caiu de 2,4 por cento em 1964 para 1.8 por cento em 2005. E muito do crédito vai para o humilde Nirodh.¹
À hora de almoço chego a Nokha, uma muito pequena aldeia. E muito quente também, pois estamos em pleno deserto.
Da esquerda para a direita: o motorista Kailash; um médico que recebe turistas para irem fazer safaris de camelo no deserto (é o que eu vou fazer…); e um dos futuros ajudantes do safari. Este médico é casado há 55 anos, casou-se com 17, e tem uma filha, dois filhos, e uma série de netos.
¹ Radhakrishnan, M.G (2007), “Under control”, India Today, 20 de Dezembro. Página consultada em 24 de Outubro de 2009, <http://indiatoday.intoday.in/index.php?option=com_content&task=view&id=2723&issueid=33&Itemid=1>