082 – Visita ao Forte de Jodhpur

Conforme contado na crónica 80, o forte – que se chama Mehrangarh – começou a ser construído em 1459 por Rao Jodha. A primeira pedra foi colocada por si próprio, no dia 12 de maio. Vejam bem a coincidência que hoje, dia em que visito o forte, é precisamente 12 de maio, pelo que se celebrava a construção do forte e a entrada foi grátis. Ok, poupam-se 250 rupias.
A montanha onde foi erguido, com 120 metros de altura, era conhecida como “Bhakurcheeria”, a montanha dos pássaros. Para construir o forte, Rao Jodha teve de deslocar o seu único habitante, um velho eremita chamado Cheeria Nathji, o Senhor dos Pássaros. Ainda hoje existem aí milhares de pássaros, nomeadamente águias, a ave sagrada dos Rathores.
Não foi um começo fácil, pois o eremita deixou a sua caverna amaldiçoando os invasores do seu solitário mundo. A maldição, impossível de esquecer ainda hoje, foi: “Jodha! Que a tua cidadela sofra para sempre de escassez de água!”. Uma terrível maldição em qualquer lado, e em Marwar antevendo o seu próprio destino.
Não desencorajado, Jodha prosseguiu a construção do forte, mas tomou algumas medidas para apaziguar os deuses. Além de construir uma casa para Cheeria Nathji na sua nova cidade, construiu igualmente um templo perto do local onde ficava a caverna que o eremita usava para meditação. Ainda hoje este templo existe, e ainda hoje são colocadas flores frescas todas as manhãs para apaziguar o irado eremita.
Jodha tomou então o passo extremo para garantir que o local fosse propício: enterrou um homem vivo nas suas fundações. O seu nome era Rajiya Bambi (pertencente a uma tribo local: Meghwal) tendo-lhe sido prometido que em troca a sua família não seria mais perseguida pelos Rathores. Foi uma promessa cumprida e ainda hoje os descendentes de Rajiya vivem na zona  e usufruem de uma relação especial com o marajá.
O destino de Rajiya é um facto assumido na história, todavia existem fontes, apesar de menos fiáveis, que apontam para outros três sacrifícios humanos nas fundações do forte de Jodha. Quatro ao todo, um por cada canto do forte, se se acreditar nestas fontes. Dos três, um será o filho de Rajiya, e outro um brâmane chamado Mehran, ambos escolhas inverosímeis. É improvável que Jodha tenha escolhido dois homens da mesma família, e um rei hindu sacrificar um brâmane ou um sacerdote não soa muito bem.
A controvérsia mantém-se viva porque estas fontes alegam que Jodha escolheu o nome do forte baseado no nome Mehran. De facto hoje o forte é chamado de Mehrangarh, ou forte de Mehran, mas a origem deste nome permanece um mistério. Será que Mehran realmente existiu e que foi oferecido aos deuses? Presentemente estes são segredos enterrados nas profundezas de Bhakurcheeria. Por outro lado, a resposta pode ser bastante simples: “mehr” é uma palavra rajastani para “sol”, e não é assim tão improvável que os Rathores, que afirmam ser descendentes do sol, tenham nomeado a sua primeira cidadela em sua honra.

Seja qual for a explicação do nome do forte, onde Jodha gastou 900 mil rupias ao todo, aquele era bastante diferente do que o atual marajá de Jodhpur, Gaj Singh II, herdou, 493 anos depois. Para começar, era muito mais pequeno: as extremidades da fortaleza inicial ficam hoje dentro dos limites do segundo portão. Hoje tem sete portões. À medida em que os Rathores se tornavam mais poderosos, o Mehrangarh, símbolo da sua glória e base da sua força, expandiu-se. Cada governante deixou a sua marca, e aí reside a sua beleza, já que é hoje a combinação de diferentes reinos e idades, estilos e influências, compulsões e sonhos.¹

Dentro do forte existem vários palácios riquíssimos, e museus, contendo coleções de palanquins (exemplo nesta foto e outro também na de baixo), “houdahs” (são os assentos que se levam no dorso dos elefantes, qual será o seu nome em português?), instrumentos musicais, vestuário, armas e mobília. No topo do forte encontram-se ainda uma série de antigos canhões.


¹ The Maharaja Gaj Singh II of Jodhpur (2001), “Mehrangarh – Citadel of the Sun”. Página consultada em 11 de outubro de 2009 <http://www.maharajajodhpur.com/fort/fort_hist.htm>.

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