061 – A Vida Pacata de Dhamli
Depois de almoço fui dar uma volta de bicicleta pela vila. Estava praticamente deserta, tinha apenas aberta a loja que se vê na crónica 58.
Faziam 45 graus. Toda a gente se recolheu em casa.
Eu encolhi-me à sombra dessa pequena loja (foto abaixo). Eu, os cães, a vaca, e o homem que por ali passava. E mais a bicicleta. Acreditem que estava mesmo abrasador. Não pensem que são 45 graus mais leves do que os de Portugal, com as histórias da humidade e não sei que mais. De facto o calor é exatamente igual ao nosso: 45 graus equivalem a 45 graus. Até eu, que sou dada às temperaturas altas, me rendi e fui para a sombra, sobretudo depois de almoço, com o estômago cheio, sem capacidade para beber os litros de água de que necessito para aguentá-las.
Bom, não há nada para fazer mesmo. Voltei para o forte. Abri o portão, entrei com a bicicleta. Silêncio. Foram todos dormir. E eu? O que vou eu fazer? Se há coisa que detesto é dormir a sesta.
Mas dormi. A única sesta deste mês de Maio passado na Índia.
Quando acordei (e podem ver o meu ar ensonado na foto abaixo…) tinha mais dois convidados para o lanche, juntamente com o Thakur Inder. Ao seu lado está o marido de uma sobrinha sua, e a seguir um sobrinho. E outra vez aqueles doces maravilhosos, e chá com leite, que tratei de entornar nos calções. O que vale é que os lavei, vesti-os molhados, e quinze minutos depois já estavam secos. Continua a estar um calor tórrido.
Qual é o programa das festas, agora?
Vamos andar no Ambassador! Vamos andar no Ambassador!! Efetivamente eu tinha pedido à agência de viagens para fazer a viagem pelo Rajastão neste carro. Este carro é o ex-libris da Índia. É fabricado na própria Índia pela Hindustan Motors, desde 1958, e era o carro usado pelas altas figuras do país. Fica a página da Wikipédia sobre o “Amby”, diminutivo caloroso com que também é conhecido.
Todavia a agência de viagens não aceitou esta minha proposta, para meu próprio bem, disseram-me. Esclareceram que fazia muito calor e que eu precisaria de um carro mais espaçoso dado que a viagem era longa, e com um bom ar condicionado. Este carro é apenas usado no Inverno pelos turistas, acrescentaram eles. Sim, porque tudo foi discutido com a agência de viagens, até os carros que eu pretendia. A verdade é que detesto carros enlatados, e ainda pedi orçamentos para um percurso de mota.
Então lá fomos nós no Ambassador, com os habitantes da vila a levantarem-se e a saudarem o Thakur Inder, que ia a conduzir comigo ao lado, e com os dois sobrinhos no banco de trás. Vamos até à sua quinta. Ainda me perguntou se eu queria conduzir, mas tive receio. Não conheço o carro, não conheço as ruas (quais ruas, fomos por caminhos de terra até à quinta) e é melhor não arriscar nenhuma amolgadela no brilhante Ambassador do Thakur Inder…