057 – Chegada a Dhamli

A aristocracia residente em Dhamli é descendente de Rao Champa, irmão de Rao Jodha, fundador da cidade de Jodhpur. Um dos netos de Rao Champa, Baluji Champawat, foi um guerreiro lendário, tendo-lhe sido oferecido pela sua bravura o estado de Harsolav pelo Rei de Jodhpur. Mais tarde, em 1780, tornou a ser cedido pelo Marajá de Jodhpur um estado de doze vilas a Budh Singh de Harsolav, incluindo Dhamli, pelo seu heroísmo durante uma batalha no estado de Gujarat.
O dono do Forte de Dhamli, onde pernoitei, chama-se Thakur Inder Singh e pertence ao clã Champawat da dinastia Rathore. Desde há vinte anos que é um famoso guia de turistas europeus no Rajastão. É também um amante de cavalos e criador da raça “Marwari”, a qual esteve em perigo de extinção até Tahkur Inder Singh se associar ao Marajá Narenda Singhji de Merwar e terem desenvolvido esforços no sentido de popularizar a raça, quer na Índia quer no estrangeiro. No ano de 1985, Thakur Inder Singh e uma consultora canadiana, Margaret Reid, decidiram converter o forte de Dhamli, já património cultural, num hotel com modernas amenidades.
O forte de Dhamli está fora dos circuitos habituais do turismo, pelo que aqui se pode experienciar a vida real dos habitantes, não sujeita às transformações sociais ocorridas na Índia urbana. Recordemos que o próprio Kailash, motorista há mais de vinte anos, nunca tinha levado ninguém a Dhamli, não sabia sequer onde ficava, e pediu-me inclusivamente uma foto sua em frente ao forte para manter como recordação. Dhamli convida assim à exploração da cultura e tradições de uma vila intocada, e eu encontro-me no paraíso para as minhas aventuras de bicicleta.

Eu e Thakur Inder Singh. A palavra “Thakur” vim a descobrir que não era o seu nome, mas sim um título hereditário existente na Índia, equivalente a “lorde”. Thakur Inder esteve em toda a Ásia e Europa excepto Portugal e Inglaterra. Em África não esteve nunca. Pertence à casta dos guerreiros e no passeio a pé que demos posteriormente pela vila, todos os habitantes – crianças inclusive – se levantavam à sua passagem e cumprimentavam-no com reverência.

Thakur Singh e o seu primo, o Marajá de Jodhpur.

Cama alta existente no forte de Dhamli. É uma relíquia antiga, uma peça de coleção, que tinha como objetivo ficar bem longe dos escorpiões e cobras no chão…

Em Dhamli fui muitíssimo bem recebida, da forma mais personalizada em toda esta viagem, e vivenciei de facto a vida real de uma pequena povoação do Rajastão. Uma vez mais fui a única hóspede do forte, e a única estrangeira na localidade.
Dahmli fica a 170 km de Udaipur, a 43 km de Deogarh, e a 105 km de Jodhpur, cidade que em breve visitarei também.

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