054 – Amanhecer em Narlai
Entro no nono dia desta viagem.
Acordei às cinco da manhã – e esta vai ser uma constante durante todo o mês: acordarei sempre bastante cedo e de livre vontade, nunca cheguei a ouvir o despertador, felizmente, foi som do qual me desabituei por completo.
Respirei no terraço do forte o ar ainda fresco da manhã.
Às cinco e meia arranquei de bicicleta. Vamos ver o que faz esta gente às cinco e meia da manhã.
Como se tornou habitual, fui constantemente rodeada de pessoas e crianças (as já acordadas…), que se metiam comigo. Falavam comigo na sua língua. Eu parava e fixava-as. Elas rodeavam-me na bicicleta. Punham-se mesmo à minha frente para não me deixar partir. Eu não percebia nada do que diziam, claro. E então eu imitava as suas falas, um chorrilho de vogais e consoantes perfeitamente ininteligíveis para mim. Elas fixavam-me muito sérias, por uns momentos, até perceberem que eu não estava a dizer nada, mas simplesmente a imitá-las, e então desatávamos todos a rir à gargalhada. Foi brincadeira que repeti algumas vezes, nos próximos dias, só para eles perceberem que aquele palavreado era estranhíssimo para mim. Depois trocávamos de nomes. Eu era a Cuti. Não conseguem dizer o meu nome… Ficávamos quites, porque eu também não deveria dizer bem o deles.
Templo hindu. Já se rezava e tocava o pequeno sino (estridente, àquela hora… o que não impedia algumas pessoas de continuarem a dormir, como se depreende da foto).
É assim que se dorme na Índia. Ainda não tinha conseguido apanhar nenhuma foto. É mais fresco, outside… Este tipo de cama, de qualquer forma, já a tinha mostrado na crónica 32 – “Entremos em Suas Casas”. Eu terei oportunidade de me estender numa, curiosamente ainda durante o dia de hoje, mas já noutra povoação.