045 – Hanuman, o Deus Macaco

O guia tratou de levar consigo um saquinho com bolachas para dar como oferenda aos macacos. O comboio parou e dezenas de mãos atiraram comida pelas janelas. Os macacos já sabem da rotina, mal vêem o comboio aparecem de todos os cantos.

Hanuman, deus-macaco da mitologia hindu e budista, é muito amado na Índia, na China e no Japão. Na epopeia hindu do Ramaiana – o Ramaiana é um épico sânscrito atribuído ao poeta Valmiki, um lendário sábio hindu (estima-se que este épico tenha sido escrito entre 500 AC e 100 AC. O nome é um composto de Rama e ayana (“indo, avançando”), cuja tradução é “a viagem de Rama”. O Ramaiana consiste em 24.000 versos que contam a história de um príncipe – Rama, cuja esposa Sita é sequestrada pelo demónio Ravana); na epopeia hindu do Ramaiana, como ia a dizer, Hanuman pula o oceano Índico e alcança o Sri Lanka à procura de Sita, sequestrada por Ravana. Na batalha entre Rama e Ravana, este é morto, e Hanuman faz o papel principal.
Todavia muitas lendas narram as façanhas deste deus-macaco. No Egipto antigo, o macaco, também animal sagrado, era identificado com Tot, deus da sabedoria. Com a forma de um grande cinocéfalo branco, Tot é o inventor das letras, o criador das leis e o patrono dos sábios e dos letrados. Mas o macaco é muito mais. Já entre os maias e os astecas tinha caráter apolíneo, ou seja, relativo ao deus Apolo. O sol, chamado de “Príncipe das Flores”, na qualidade de patrono do canto e da música, muitas vezes é representado sob a forma de macaco. E pelo seu temperamento ardente é também considerado um símbolo sexual.

Na Índia, Hanuman é a incorporação da força física, devoção e perseverança. Devotos rezam a Hanuman para os livrar dos sofrimentos e também para realizar os seus desejos.

Muito resumidamente, segue a lenda sobre a origem de Hanuman:
O anjo Punjikasthala era uma ocupante no “ashram” do sábio Brihaspathi, um eremitério onde os sábios vivem em paz e tranquilidade no meio da natureza. Ela era jovem, obediente e bonita. O sábio amou-a como sua filha.
Uma noite ela saiu e entrou num jardim de grande beleza, longe do ashram. Viu alguns rapazes jovens e bonitos a cavalo praticando exercícios. Punjikasthala ficou entusiasmada com a sua beleza e habilidade, e esqueceu-se do seu próprio ambiente no ashram.
Naquele momento o sábio Brihaspathi atravessava o local e viu Punjikasthala. O sábio dirigiu-se-lhe então, num tom alto e ríspido, obrigando-a a voltar para o ashram. Os jovens que não tinham avistado a rapariga, ouviram e olharam para Punjikasthala. E ela não pôde tolerar o insulto quando eles se riram e troçaram dela.
Punjikasthala disse ao sábio: É verdade que eu lhe devo obediência, mas não deveria ter-me insultado. Não gostei. Assim não quero voltar ao ashram.
O sábio ficou muito irritado com a sua desobediência. Punjikasthala foi considerada imprópria para estar no ashram. Ele amaldiçoou-a e transformou-a num macaco feminino e obrigou-a a viver na terra.
Punjikasthala ficou apavorada e arrependida por desobedecer ao sábio. E o sábio acabou por lamentar a sua ação emocional. Todavia ele sentiu que esta maldição iria produzir um resultado bom para o género humano. Ele disse-lhe: Minha querida filha, não te preocupes agora. Com as bênçãos dos deuses Shiva e Parvathi, terás um filho que será respeitado em todo o mundo. Ele será pleno de virtudes e nunca enfrentará a derrota. Ele será a incorporação do conhecimento, intrepidez, força e real devoção.

Não vos conto aqui as mil e uma peripécias pelas quais Punjikasthala passou até finalmente se casar e ter um filho do deus Shiva, que então a libertou da maldição. Hanuman é portanto o filho do deus Shiva, um dos principais no hinduísmo. E seria preciso um livro de 24.000 versos para contar igualmente todas as peripécias que Hanuman passou então, após o seu nascimento.
Explico apenas a tradicional imagem pela qual Hanuman é conhecido, com as imagens de Rama e Sita impressas no peito:
Um dia, Hanuman foi presenteado pelos santos com um colar, completamente carregado com pérolas. Ao receber o colar, Hanuman arrancou cada uma das pérolas e rachou-as todas com os seus dentes afiados; olhou para dentro delas e deitou-as fora, dececionado. Os santos, espantados, perguntaram-lhe o que estava ele a fazer. Hanuman respondeu: Elas não são boas. Eu não vejo o meu senhor Rama venerável e Sita em qualquer uma delas. Qual é o uso de tal colar para mim?
Os santos estavam chocados. Como era possível ver as imagens de deuses dentro de pérolas? Hanuman clarificou: Meus deuses, o senhor Rama e Sita, estão em todos lugares, em todos os seres vivos e coisas mortas. Eles estão também dentro do meu coração.
Os santos pediram-lhe uma prova. Hanuman fechou os olhos e rezou com devoção profunda. Então, com as suas mãos fortes, bateu no tórax, abriu o peito e mostrou-lhes as imagens de Rama e Sita impressas nele.
Os santos ficaram extremamente contentes com devoção de Hanuman para com Rama e Sita.

Hanuman permaneceu solteiro ao longo da sua vida. Era aventureiro, forte, sábio, esperto, educado, um músico, altamente religioso, corajoso, destemido e, acima de tudo, totalmente dedicado ao seu mestre Sri Rama.

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