040 – Chegada a Deogarh

Relembro que ando no norte da Índia, no Rajastão, o maior estado em área. E mais especificamente, estou agora no sul do Rajastão. Fica aqui o mapa, para orientação.

Vou a caminho do palácio de Deogarh, inserido numa vila com o mesmo nome, a cerca de 125 km de Udaipur. Fazendo uma breve busca na internet, recolhem-se descrições de turistas que dizem que os seus autocarros não passam nas ruelas estreitas, pelo que as bagagens têm de ser levadas em carros, e eles vão a pé. Ora nós, além das ruelas estreitas, fomos atrás de uma multidão em procissão em mais outro casamento.
Claro que deixei o Kailash a conduzir e fui misturar-me com os convidados em procissão. Quando chegava a uma bifurcação parava e esperava até que ele aparecesse para me indicar o caminho. Esta foto foi tirada com a máquina no ar, sem ver nada. Ou melhor, eu via… muitos véus coloridos. Agrada-me, esta confusão e balbúrdia de gente.

Lembremo-nos que os casamentos na Índia são arranjados, e o mais curioso (ou talvez não…) é que uma sondagem efetuada na Índia e publicada no jornal Hindustan Times, revela que a sociedade indiana continua a ser bastante conservadora: apenas 24% dos indianos querem escolher com quem vão casar-se. Uma maioria arrasadora de 72% prefere que continuem a ser os pais a escolher os noivos. Mais: 65% são contra os futuros cônjuges se conhecerem e saírem juntos antes de se casarem. Ainda nesta sondagem, é revelado também que o casamento entre diferentes castas é considerado mais grave do que o casamento de pessoas com religiões diferentes: 76% considera inaceitável um casamento entre duas castas diferentes, contra 56% que considera inaceitável um casamento inter-religiões.

Na realidade os casamentos hindus são arranjados entre as famílias dos noivos para proteger os laços familiares. Os pais procuram parceiros apropriados para os filhos em famílias da mesma religião ou casta. Os jovens indianos raras vezes se casam fora da sua própria religião ou casta, se bem que possam ocorrer exceções. Através de um casamento arranjado, duas famílias entram numa relação mútua. Quando problemas surgem no casamento, ambas tentam trabalhar juntas para ajudar o casal a resolvê-los.
Alguns hindus acreditam que uma pessoa solteira não tem status social. Um casamento hindu é considerado uma aliança perpétua, uma união sagrada e inalterável. Raramente um casamento tradicional hindu é confiado aos caprichos dos noivos. Os pais arranjam a aliança depois de consultar os mais velhos ou anciães da família e os astrólogos indianos, comparando primeiro horóscopos, castas e contexto familiar e social. A cerimónia de um casamento hindu é cheia de simbolismos e pode durar cerca de uma semana. O ritual praticado varia em detalhes de região para região, mas o ritual védico tem permanecido inalterado por mais de 2.000 anos.
Construindo um altar para o deus Agni (divindade védica do fogo), o sacerdote hindu age assim como Brahma, o criador. A noiva e o noivo são também comparados a deuses hindus: Shiva e Shakti ou Vishnu e Lakshmi. O casamento completa-se quando o noivo prende um fio sagrado (cheio de flores), chamado “mangala sutra”, ao redor do pescoço da noiva. O casal caminha ao redor do fogo e recita os versos de casamento do Rig Veda, e bênçãos são conferidas a ambos pelos anciães presentes.
A união é desta forma santificada, fazendo o divórcio uma coisa pouco provável na tradição indiana. Não existe palavra equivalente para divórcio no dicionário de qualquer língua indiana. “Talaq” significa divórcio, é usada livremente em hindi, mas este é um termo arábico importado pelos muçulmanos, para os quais o divórcio é permitido, embora fortemente desencorajado. De qualquer forma a situação está prevista na lei: em 1955 o parlamento promulgou o HMA – Hindu Marriage Act, permitindo o divórcio. Cada um dos cônjuges pode pedir a dissolução do casamento com base em infidelidade, crueldade, abandono ou conversão, ou se a outra parte renunciou ao mundo, sofre de uma doença mental, lepra incurável, ou doença venérea.

Fontes:
Hindustan Times (2008), “Conservative, but want equal inheritance rights”, 24 de Janeiro. Página consultada a 17 de Agosto de 2009,
<http://www.hindustantimes.com/News/nm5/Conservative-but-want-equal-inheritance-rights/Article1-55257.aspx>

Sinha, Bhadra (2006), “Hindu Marriage Act is breaking homes, says SC”. Hindustan Times, 18 de Junho. Página consultada a 16 de Agosto de 2009, <http://www.hindustantimes.com/News/newdelhi/Hindu-Marriage-Act-is-breaking-homes-SC/Article1-318018.aspx>

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