035 – Breve Caminhada pelas Muralhas

O ideal era ter percorrido os 36 km da muralha, mas eu não sabia da sua existência, além de que seria necessário talvez um dia completo e não apenas uma tarde.
Meti-me por ela afora. Um passeio lindíssimo, silencioso, deserto. Ninguém percorreu a muralha na tarde em que lá estive, nem que fossem os primeiros dois ou três quilómetros. Os visitantes que estavam no forte ficavam-se pelo centro.
Caminhei naquele silêncio estrondoso, ouvindo a minha própria respiração, no meio de montanhas silenciosas.
Ainda é possível ter momentos de absoluta paz, de absoluta tranquilidade.

No regresso da caminhada tinha duas hipóteses para sair: ou descia no pátio central do forte, onde estão os turistas, com dois ou três cafés e lojas; ou continuava a caminhar e ia ver onde acabava a muralha.
Depois de um passeio destes apetece-me tudo menos sair no pátio central. Decidi continuar e ver onde ia dar a muralha.
Pois foi dar dentro das casas das pessoas. Cá estou eu novamente, parece que agora terei de entrar em casa de todos. Ao menos as crianças recebiam-me sempre bem. A menina que vêem na foto disse-me para eu descer por ali, e mostrou-me como se fazia. E lá fui eu, sentada, de rojo, e depois pelo meio dos búfalos, e depois pelo alpendre da casa. Veio a mãe dela, surpreendida, mas o que está esta turista aqui a fazer, riu-se, um pouco atrapalhada, e eu continuei caminho, rindo-me e acenando-lhes. No pátio, lá em baixo, fui recebida por um cão doido (o da primeira foto acima, nesta crónica, que foi tirada antes da caminhada, ainda ele estava calmo…), ou pelo menos deu-lhe um ataque de doidice naquele momento, porque desatou a correr a toda a velocidade para trás e para a frente – e pior, dando impulso às correrias em mim mesma. Ou seja, fiquei com o desenho perfeito das suas patas por todo o lado – pernas e calções. A ponto de estar um grupo de rapazes estrangeiros, sentados num dos cafés, e soltarem uma gargalhada, surpreendidos por me verem aparecer dali, do meio das casas dos habitantes locais, e com marcas de patas de cão por todo o lado. Pois é um tanto ou quanto insólito, mas aconteceu…

E às sete e meia da tarde dá-se um acontecimento e todos esperam pacientemente por essa hora: tudo fica espetacularmente iluminado.
A iluminação do forte ao anoitecer é algo espantoso e faz soltar exclamações a todos. A imponência deste forte – tão ermo, tão selvagem, tão grandioso. As luzes ficam acesas apenas meia hora, altura então em que os visitantes arrancam nos seus carros e jipes, deixando-o finalmente silencioso, deserto, entregue à lua e às estrelas.
Foi uma bela tarde em Kumbhalgarh.

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