031 – Chegada a Kumbhalgarh

Cheguei por volta do meio-dia e aqui passarei apenas uma noite. Mas esta tarde passada em Kumbhalgarh valeu por mil tardes.
Antes de almoço dei uma volta a pé pelas redondezas. A bicicleta ficou no tejadilho do carro. Aqui é uma zona montanhosa, com muitos altos e baixos. E adicionalmente é um pouco perigoso, considero, andar sem buzina na bicicleta. É verdade!, a minha bicicleta não tinha uma campainha e fazia-me realmente falta. Lembrem-se que ninguém olha. Eu se queria ser vista, e se queria que me saíssem do caminho, tinha de buzinar. Como não buzinava, era eu que tinha de parar e desviar-me. Vim a notar grande diferença quando cheguei ao sul e tive outras bicicletas, desta vez com campainha. Saíam todos da frente, era instantâneo. Abram alas!

No Aodhi Lodge estavam bastantes turistas indianos, e com muitas crianças. Eu era a única branca. Isto virá a acontecer bastantes vezes doravante, dado estarmos na época baixa para os estrangeiros, e na época alta para os nacionais, pois é a altura das férias escolares.

Aqui começa uma quarta saga, a dos cadeados. É que a partir de agora todos os hotéis vão ter estas engraçadas – mas muito maçadoras – fechaduras. Sinto-me como uma donzela fechada num castelo. E são muito maçadoras, estas fechaduras, porque os cadeados não se fecham automaticamente: é preciso ficar a agarrar nele, encaixado, meter a chave e rodar. Ora os nossos tradicionais cadeados não precisam de chave para fechar, encaixam e pronto. Imaginem o que é ter este trabalho durante quase um mês, todos os dias, e a entrar e sair do quarto uma dúzia de vezes, e normalmente com coisas na mãos – além do  cadeado e da chave, mais uma garrafa de água, a máquina fotográfica e os óculos escuros. Depois a chave não enfia porque a ranhura mexeu-se… Toca a pousar tudo no chão, ou onde houver espaço, e ajeitar a fechadura. Uma mão tem de estar a segurar o cadeado, a outra mão tem de enfiar a chave e rodar.
Ok, já está, vamos lá pegar outra vez na garrafa de água, tirar os óculos da boca, empurrar a máquina fotográfica para trás do ombro.
Da primeira vez achei graça e tirei a foto à porta. Das vezes seguintes já suspirava: outra vez estes cadeados e estas trancas…

Aventurei-me pela estrada fora, não se via vivalma. Passaram um ou dois carros. Os hóspedes do hotel saem apenas para fazer safaris de jipe, não para visitar a aldeia. Melhor assim, é de maneira que não estão habituados a turistas. No hotel tinham-me dito que se fosse naquele sentido iria dar a uma escola. Vou andando, talvez eu perceba que é uma escola quando a vir.
Esta foto foi tirada no modo automático, claro, com a máquina em cima de uma pedra. Já estou perita nestas fotos. Noutras alturas houve gente indiana – os locais – que me viram. Deviam achar estranho, eu para trás e para frente, deixando a máquina em cima de qualquer coisa…

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