026 – Walking Around

Aqui comprei duas bananas e uma manga. Quinze rupias. Era o preço normal. Comprei sempre estas quantidades pequenas, diariamente. Quinze rupias equivaliam a uns vinte e cinco cêntimos.

Instituto de Gestão de Carreiras. Ora aqui está um bom local para gerirmos a nossa carreira… e não se esqueçam de deixar os sapatos à porta!

O guia Mukesh terminou os seus afazeres profissionais, mas foi requisitado de seguida por mim para me mostrar a cidade à noite. Andei de mota consigo naquele trânsito infernal de motas, em que todos buzinam para serem vistos. Na Índia apita-se só para se ser visto, não é para deixar passar, ou por se estar aborrecido com algo. Apita-se por apitar. Espelhos retrovisores é coisa irrelevante. Olhar antes de atravessar também é irrelevante. Está-se sempre à espera de uma buzinadela, se não se buzinar, não se é visto. Reparei como o Mukesh apitava automaticamente, nem pensava. Houve uma altura em que nem estava ninguém à nossa volta, mas ele buzinou. Estás a buzinar para quê?!, perguntei-lhe. É automático, nem pensei!…, respondeu-me.
Buzino, logo existo.
O Mukesh acorda às 4 e meia da manhã para ir jogar cricket. É licenciado, tem três irmãs todas casadas, uma vive na China. Os pais arranjaram-lhe duas raparigas para casar, uma há um mês atrás, mas ele recusou ambas. Vive com os pais, a casa tem cinco quartos e um pequeno jardim. Durante o inverno fica sem trabalho, não há turistas. E aprendeu inglês sozinho. Isto deixou-me bastante espantada: não aprendeu na escola, começou a ouvir e a falar por si. O seu inglês era corretíssimo e praticamente sem pronúncia.

Eu ia na mota com o Mukesh, e máquina fotográfica sempre a disparar, pois claro. Estes 4 rapazes iam ao nosso lado. Ofusquei-os várias vezes com o flash até conseguir finalmente esta foto. Levaram com uma dose de flashes em cima, nem sei como não houve ali um acidente, com tantas motas e flashes e buzinas.

E aqui está um cenário que durou um mês. A garrafa de água ao lado da escova de dentes. Olhem que é preciso habituarmo-nos. Estendi várias vezes a mão para a torneira, com a boca cheia de espuma, mas depois lembrava-me – não, não – não pode ser água da torneira…
Atenção que isto é apenas para estrangeiros, pois não estamos habituados à sua água. Os indianos bebiam água da torneira, claro. Água boa e limpa, supostamente.

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