108 – O Parque Hai She
À saída da Casa-Museu de Xi Zhou. Há uma multidão de turistas orientais.
O carro ficou para trás, numa enorme fila de trânsito, e eu fiquei com um sms para mostrar quando fosse preciso, com o nome do meu próximo destino: o Parque Hai She. Não faço ideia se “Hai She” está bem escrito dado que o sms que eu levo comigo está em chinês. Sei a direção, sei que é ao longo do Lago Erhai, não há que enganar. Segui caminho. Mais à frente verifiquei que só passa um carro de cada vez, num ponto mais estreito da estrada, o que justifica a longa fila de carros, quase parados. Telefonei à guia dizendo-lhe para voltarem para trás e meterem-se por outro caminho, pois por ali vai demorar muito.
O céu está a ficar muito negro. Felizmente ainda não choveu, mas não deve tardar.
Uma poupa.
Cá está o pássaro que vejo tantas vezes, branco e preto, com uma cauda relativamente longa. Entretanto disseram-me que se trata de uma Alvéola-Branca. E creio que este malandro fez-me passar o momento mais embaraçoso desta viagem. Sinceramente, acho que foi o momento mais embaraçoso de todas as viagens que já fiz. Ele está à entrada de um quintal. E eu segui-o, furtivamente, agachada. Ele entrou para o quintal e eu entrei também, pelo quintal adentro, tentando constantemente tirar-lhe fotos. Mas ele não deixa aproximar-me. Sempre a andar à minha frente. Ao menos que levante voo e se vá embora. Mas não, manteve-me ali agachada, furtivamente, a caminhar atrás dele.
Até que vejo uma mulher a olhar para mim, mais ao longe. Caminha na minha direção, vem para casa.
E agora? Como explicar-lhe o que estou ali a fazer no quintal dela, agachada, escondida?…
Levantei-me imediatamente. Fiz sinal com os braços, a baixá-los e levantá-los. Tentei imitar um pássaro a bater as asas, para ver se ela percebe que eu estou a seguir um pássaro. Não lhe vou assaltar a casa, não estou a fazer nada de mal ali.
Isto é ridículo e verdadeiramente embaraçoso.
Felizmente ela percebeu. Pelo menos pareceu-me. Se calhar até viu o pássaro. Se calhar ele até é conhecido dali, porque era mesmo atrevido. Não levantava voo, andava a saltitar à minha frente, a provocar-me. A senhora riu-se. E eu fui-me embora rapidamente.
Em meia hora ou menos, cheguei ao Parque Hai She. Afinal não é Hai She, é “Hi Sea”, conforme se vê escrito na placa, certamente derivado do inglês “High Sea”, ou seja, alto-mar. De facto o lago é enorme e mais parece um mar. Ainda mostrei o sms (em chinês) a duas raparigas, para me confirmarem que estou no sítio certo. Também o mostrei àquele guarda, mas esse então não diz nada, só grunhe que tenho de deixar a bicicleta lá atrás. Ele estava a ficar um pouco agressivo, até. Eu não posso deixar a bicicleta sozinha, sei lá onde. Nem sequer tenho um cadeado comigo. Efetivamente ainda nem usei tal, nesta viagem. E ainda por cima eu estou seriamente aflita para ir à casa de banho, ali mesmo à esquerda, após o portão. Pois não me deixou entrar de maneira nenhuma. Só aponta para a bicicleta e para trás de mim. Tive de voltar para trás, com a bicicleta pela mão, e então percebi o que umas senhoras tinham tentado dizer-me, numa das barraquinhas – que me guardavam a bicicleta por 2 yuans. E mostraram-me duas ou três bicicletas paradas ali ao lado. Bom, tenho que deixar a minha ali também, e esperemos que no meio desta multidão não me desapareçam com ela.
Esta placa indica em chinês e em inglês “Cuidado, Répteis”. Eu pelo menos não vi nenhum, com grande pena minha.