068 – Explorando mais uma Aldeia… e o Salário Mínimo na China
Enquanto passeio por esta aldeia, abordo outro tema: o do salário mínimo.
Na China o valor do salário mínimo varia de província para província, sendo decidido por cada governo regional de acordo com as condições económicas locais. Em Abril de 2017 o Governo Municipal de Xangai, por exemplo, aumentou 5% o salário mínimo, de 2.190 yuans para 2.300. Ao câmbio desta altura, representa 329€. Xangai é quem tem o salário mínimo mais alto, na China. A seguir vem Pequim, com 2.000 yuans (286€). Os ordenados mínimos em Xangai, Pequim e Shenzhen são agora mais altos do que em certas áreas da União Europeia, como por exemplo a Bulgária, a Roménia, a Lituânia, entre outros. Porém, nos seus níveis mais baixos – como na região de Hainan (1.280 yuans), Anhui (1.150), Guangxi (1.000 yuans ou 143€), os salários são mais comparáveis aos de países como a Índia e o Vietname¹.
Veja-se esta notícia do jornal Expresso:
O custo de cada hora trabalhada na indústria chinesa subiu nos últimos anos, suplantando as remunerações em economias como o Brasil e o México e aproximando-se do custo do trabalho industrial em Portugal, segundo um estudo divulgado pelo “Financial Times”.
Um estudo da consultora Euromonitor citado pelo “Financial Times” nota que entre 2005 e 2016 o custo de cada hora de trabalho na indústria na China disparou de 1,2 para 3,6 dólares (a preços constantes), enquanto no mesmo período o custo do trabalho na indústria em Portugal caiu de 6,3 dólares por hora para 4,5 dólares por hora.
Segundo a mesma fonte, a subida das remunerações na China colocou esta economia em situação de desvantagem (no que respeita ao custo do trabalho) face ao Brasil, à Argentina e ao México, onde o salário por hora na indústria não chega aos 3 dólares².
Embora a população em idade ativa da China (16 a 59 anos) tenha vindo a contrair desde 2012, a força de trabalho continuou a expandir-se gradualmente para situar-se em 807 milhões em 2016, contra 789 milhões em 2012. Isto sugere que mais pessoas que antes eram excluídas da força de trabalho (ou de certos setores da força de trabalho) conseguiram encontrar emprego à medida em que a economia se expandiu e novas oportunidades de emprego se abriram.
O problema não é a falta de novos empregos, mas sim que muitos dos novos empregos que estão a ser criados são mal remunerados e inseguros e exigem que os funcionários trabalhem longas horas em condições muitas vezes perigosas. O vasto exército de mensageiros que entregam encomendas em redes de compras online é um exemplo óbvio das novas oportunidades de emprego e problemas na China. Um desses mensageiros descreveu como eles “trabalham 12 horas por dia, oferecendo mais de 300 itens por dia”.
Quase oito milhões de licenciados entraram no mercado de trabalho em 2017 com altas expetativas, mas poucas chances de encontrar um cargo adequado. A maioria dos licenciados acabou em posições de remuneração relativamente baixa, com salários que poderiam ter sido alcançados indo trabalhar para uma fábrica saídos diretamente da escola secundária. Uma pesquisa sobre novos licenciados a trabalhar em fábricas numa cidade do sul – Foshan – em 2017, por exemplo, mostrou que o seu salário médio mensal era de apenas 3.614 yuans (452€).
A taxa de desemprego oficial da China flutuou de forma constante com pouco mais de quatro por cento nos últimos cinco anos e o número de desempregados permaneceu estável em cerca de nove milhões. Mas somente os trabalhadores com registo domiciliar urbano (cerca de metade da força de trabalho total) estão incluídos nestes dados, e a taxa de desemprego refere-se apenas à proporção entre os candidatos urbanos oficialmente registados e o número total de trabalhadores urbanos empregados. Aquela taxa ignora todos os trabalhadores rurais e trabalhadores migrantes rurais, trabalhadores estrangeiros, bem como aqueles em trabalho inseguro, a tempo parcial ou casual. O único uso real dos dados oficiais de desemprego é, portanto, uma ferramenta de propaganda, que pode pelo menos dar a ilusão de estabilidade no mercado de trabalho³.
¹ Koty, Alexander Chipman e Qian, Zhou (2017, 15 Novembro). “A Complete Guide to 2017 Minimum Wage Levels Across China”, China Briefing, Business Intelligence from Dezan Shira & Associates. Página consultada a 11 de Janeiro de 2018,
<http://www.china-briefing.com/news/2017/11/15/complete-guide-2017-minimum-wage-levels-across-china.html>
² Prado, Miguel (2017, 26 Fevereiro). “Salários na China crescem para níveis próximos dos de Portugal”. Jornal Expresso. Página consultada a 11 de Janeiro de 2018,
<http://expresso.sapo.pt/economia/2017-02-26-Salarios-na-China-crescem-para-niveis-proximos-dos-de-Portugal>
³ “Employment and Wages” [ca 2017], China Labour Bulletin. Página consultada a a 11 de Janeiro de 2018,
<http://www.clb.org.hk/content/employment-and-wages>