051 – Continuação da Viagem e Almoço

No meio disto tudo esqueci-me do motorista e da guia, os quais andavam à minha procura. Com aquela chuvada torrencial eles voltaram para trás no carro, atentos à berma da estrada, a ver se me viam, ou à bicicleta. Andaram para trás e para a frente, à minha procura. Só mais tarde vi três chamadas suas não atendidas, no telemóvel. Nem sequer as ouvi. Pelos vistos tenho o telemóvel com o som tão baixo, que nem ouvi. Quando saí de casa das pessoas continuei o meu caminho, de bicicleta. E eis que o motorista Nong Bu e a guia apareceram atrás de mim, na carrinha, a chamarem-me. Que é isto? Então já os passei? Era suposto estarem algures à minha frente. Eu por esta altura já tinha começado a reduzir o vestuário, a tirar camadas, pois mal chega as 11 da manhã faz bastante calor, sobretudo a pedalar. O impermeável já estava atado à cintura e eu seguia de t-shirt.
Expliquei-lhes o sucedido. Eles ficaram surpreendidos e acabaram por rir-se. Pedi-lhes desculpa pelo facto de não ter atendido o telemóvel, nem sequer o ouvi, e nem sequer me lembrei deles, de facto, tão entretida estava. Afinal de contas eles estão a trabalhar. Eu estou a divertir-me, mas eles estão a trabalhar, é bom que eu atenda o telemóvel quando eles me procuram.

Entretanto voltaram a seguir viagem, foram à minha frente, e eu continuo o meu belíssimo passeio de bicicleta.

Dez quilómetros depois voltei a encontrá-los, estavam parados na berma, sentados a conversar dentro da carrinha. Nem me vêem. Eu parei a bicicleta ao seu lado, a olhar pela janela. Só deram conta que eu estava ali quando lhes disse “Hello!” para dentro da janela aberta. O Nong Bu estava sentado ao volante, a guia no banco de trás. Quase que se assustaram.

Por esta altura tenho 50 km feitos.
Mais uma vez eles continuaram, e eu fiquei atrás. O passeio de hoje está a ser soberbo.

Continuei a pedalar até avistar a carrinha do Nong Bu aqui estacionada. É uma e meia da tarde, deve ser o restaurante onde vamos almoçar. Parei a bicicleta, desmontei e entrei. Lá estão eles sentados numa mesa, à minha espera. Repare-se que aparentemente não diz “restaurante” em lado nenhum. Se eu fosse a pedalar sozinha, sem o carro de apoio, passaria por ele como se de uma casa qualquer se tratasse.

Esperámos 45 minutos que a galinha se cozesse, nesta magnífica canja, mas valeu a pena. Era uma galinha rija, do campo, nada de frangos que se desfazem. Temperada com gengibre. Deu-me ali uma pujança tal que fiquei preparada para outros 50 km de bicicleta. Porém é um sarilho comer frango aos bocadinhos, muito rijo – com pauzinhos. Tive de ajudar com os dedos. Consigo lá tirar peles e ossos com pauzinhos.

Mantém-se a água a ferver, e vai-se deitando mais à medida em que acaba. Também se deitam os legumes crus, os quais se cozem rapidamente. Somos nós que vamos deitando a água e os legumes, e regulando a intensidade do lume. Repare-se também que eu aprendi a comer como os chineses – os ossos e peles ficam fora do prato. Quem não está a cumprir a tradição é a guia, que pôs os seus restos no pequeno prato. Basta regressar à crónica 37, onde almoço com um grupo de turistas chineses, e aí vê-se claramente os ossos em cima da mesa, ao lado dos pratos.
Repare-se também, claro, no rolo de papel higiénico fornecido pelo restaurante.

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