048 – E Arrancamos num Novo Dia

Entro hoje no décimo dia.  Ainda nem cheguei a meio da viagem. Os meus sonos estão perfeitamente regularizados, estou a acordar com despertador às 8 da manhã. Já encarrilei por completo no horário chinês, o qual tem 7 horas de diferença em relação ao de Lisboa. Em Portugal Continental é meia noite, em Yunnan são 7 da manhã.

Aqui está uma máquina de água, na receção do hotel, com uma funcionalidade que me encantou: tem água quente. Fui encontrando estas máquinas de água (fria e quente) durante o resto da viagem. Sendo eu adepta de beber água quente, seja verão ou inverno, estas maquinetas revelaram-se bastante úteis. Os chineses usam-nas sobretudo para fazer chá, mas eu bebo mesmo a água simples, morna, a qual tenho de ir misturando com a fria, pois ela sai a ferver e é preciso ter cuidado para não me derreter a garrafa de plástico.
Vou usando também as cafeteiras elétricas disponibilizadas em todos os quartos. Mas neste caso há que ter um duplo cuidado: dado que não posso beber água da torneira, é necessário eliminar qualquer vestígio de água que lá esteja dentro – fervendo-a (e fervo com água mineral), deito fora essa água, e então volto a encher com água mineral. Eu estou a beber cerca de 2 ou 3 litros de água por dia. Claro que na bicicleta, na rua, não amorno coisíssima nenhuma, pego nas garrafas e bebo. O carro de apoio transporta garrafas de água em bastante quantidade, e vai-me fornecendo sempre que necessário. É um serviço incluído nesta viagem.
Ao fundo, nesta foto, vê-se a guia.

A povoação de Wei Xi, onde pernoitámos. O hotel está à minha direita; não ficou na foto. Chuvisca, e estão talvez uns 23 graus.

O pequeno almoço – que foi tomado num restaurante fora do hotel – converteu-se na refeição mais difícil de toda a viagem, porque é sempre à base de carne frita e picantes. Cai que nem uma bomba no meu estômago vazio, pelo que rapidamente tive de encontrar uma alternativa. Ainda por cima tive um percalço esta noite: eram duas e meia da manhã estava a vomitar as guiozas, ou pelo menos o que restava delas. Comi excessivamente, claro. Ainda por cima às dez da noite. Serviu-me de lição. Cuidado com os exageros, Rute. Eu sei que gostas muito de guiozas e queres tirar a barriga de misérias aqui na terra das guiozas, mas não pode ser assim.
Portanto, agora vou comer umas bolachinhas que trouxe de Portugal, bem como um pacote de leite com chocolate, que também trouxe de Portugal, já precisamente para estas situações de emergência.

Repare-se nos rolos de papel higiénico em cima das mesas. São os guardanapos usados. Ao centro está o motorista Nong Bu e a guia, ambos a comerem noodles. Eu estava sentada ao seu lado, mas levantei-me para tirar fotos. Eles já sabem que eu não paro quieta, já se habituaram, continuam a comer e nem me ligam.

Arrancámos às 9.30h, ainda de carro. Depois de uns 15 minutos a andar, o Nong Bu vai tirar a bicicleta e darei início ao meu belíssimo passeio de hoje. Curiosamente quem não está bem também é o Nong Bu – nestes 15 minutos de carro, estivemos parados outra meia hora. O Nong Bu encostou e disse que precisava de ir aos arbustos. Deixou o carro ligado,  e eu e a guia sentadas dentro (eu sempre à frente). Ao fim de não sei quanto tempo, ele não aparece. Bom, desligámos o motor da carrinha. E eu comecei a ficar preocupada. Caiu, querem ver? Resvalou por ali abaixo, com as calças na mão? Então comentei com a guia que era melhor vermos se estava tudo bem. Ela foi espreitar e avistou-o agachado, ao longe, lá em baixo. Está visto que o jantar da véspera, tão tarde, não nos caiu bem. Eu vomitei às duas e meia da manhã e voltei a dormir, felizmente não sofri mais nada, mas pelos vistos com ele foi mais complicado.

Estou a usar uns óculos de ciclismo transparentes, porque está demasiado nublado para usar óculos escuros. É necessário usar óculos de proteção. Creio que toda a gente que já andou de bicicleta sabe que é muito desagradável ir a andar – se calhar com alguma velocidade – e entrarem poeiras ou mosquitos para os olhos. Ou pingos de chuva, que se transformam em pequenas pedrinhas a atingir a vista, quando se anda a alguma velocidade. Pelo que eu ando sempre com dois pares de óculos na bolsa da cintura: os escuros e os sem cor. Vou alternando conforme adequado.

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