020 – Chegada ao Topo… que é um Lago
Fiz 12 km a subir, até que a guia, vendo a coisa mal parada – sempre a perguntar-me se eu quero passar para o carro, e eu sempre a dizer que não, mas a subir tão devagar que a gente nunca mais lá chega (faltam 4 km a subir e ainda tenho a descida – sim, porque eu quero descer de bicicleta… só me faltava penar isto tudo por aqui acima, e depois a parte melhor, a descida, ir de carro), e ainda temos uma viagem razoável até ao próximo hotel – que será uma casa de hóspedes – então a guia vendo a coisa mal parada e o final de tarde a aproximar-se, tratou de ser mais incisiva e aconselhou-me a entrar no carro. Contrariada, lá entrei, eu e a bicicleta.
Mais uma sessão fotográfica com os simpáticos chineses. Também turistas, mas domésticos. Ao longo desta viagem de bicicleta, por Yunnan, recebi imenso apoio, e fartei-me de ouvir buzinadelas de carros, o que para os chineses é uma alegria e um cumprimento. Para mim já não tanto, mas tive de habituar-me porque as suas intenções eram boas. Diziam-me “You’re so cool!” e vá de tirar fotos com todos. Uma alegria; um povo muito simpático e conversador. Claro que tenho de dar algum tempo para as pessoas se habituarem à minha presença – ou à minha “aparição” – porque a primeira reação é de espanto, claro. Estas pessoas estão no meio do nada, passa um carro de meia em meia hora, pararam o seu e estão a apreciar a paisagem e a tirar fotos. Apareço eu de bicicleta, vinda do nada, sozinha. Naturalmente que as pessoas ficam espantadas a olhar. De onde é que ela veio?… (E eu lentamente a subir por ali acima, em direção a elas). Maior surpresa têm quando eu paro a bicicleta ao pé delas, desmonto, e cumprimento: “Hello!”. Começam-se todos a rir e é uma algazarra. Fazem-me uma série de perguntas, e eu trato de explicar que não percebo nada do que estão a dizer. Digo em inglês “I don’t understand!”. Com sorte alguns dos adolescentes já sabem alguma coisa de inglês, e claro que a primeira pergunta é “De onde és?”. Eu respondo Portugal e ninguém percebe. Ficam a olhar para mim, intrigados. De vez em quando perguntavam-me se era Polónia. Não, não é Polónia, é Portugal, ao lado de Espanha e França! Nada. Ninguém sabe onde é Portugal. Ainda falei no nosso Ronaldo algumas vezes, o qual esteve precisamente na China uma ou duas semanas antes da minha viagem. Mas também ninguém conhece o Ronaldo. Deve ser da minha pronúncia. Ou então os chineses não têm tradição futebolística, e não ligam ao futebol.
Relativamente às buzinadelas, de facto elas fazem parte da vida dos chineses. Apitam para avisar que vão passar, apitam para cumprimentar, e o meu motorista seguinte, o Nong Bu (mais à frente irão conhecê-lo) ia ao ponto de cumprimentar-me com um aceno de mão, ao passar por mim, e a seguir buzinava, para não haverem dúvidas. Um dia falou à janela com um conhecido seu, que estava a pé (o Nong Bu dentro do carro sentado, e a outra pessoa em pé, fora do carro, junto à janela) e despediu-se dele com uma buzinadela. O homem estava ali a olhar para ele. Mas a buzinadela faz parte dos cumprimentos, é de bom tom dar uma buzinadela de cumprimento e de despedida.
Finalmente… a descida! Fui lançada por ali afora.
O jipe do Jai Song. Aqui acabou-se o passeio de bicicleta. Começou a anoitecer e ainda temos de ir jantar. Eu e a bicicleta passámos para dentro do carro, com grande pena minha.