018 – Cemitério e Outras Descobertas

Ora além de subir devagar, ainda vou explorando tudo pelo caminho. Paro e saio da bicicleta (é altura de descansar…), olho à volta, aprecio a paisagem, tiro umas fotos, respiro o ar puro…

E vislumbro no meio das árvores os túmulos de um cemitério. O meu primeiro cemitério chinês.
Imediatamente tiro a bicicleta da estrada e puxo-a para dentro da berma. E vou quase a correr, impaciente. No interior dos arbustos e das árvores está um cão a comer um animal qualquer. Não me parece um cão abandonado, está bem tratado, e não me liga nenhuma, continuou a comer, pelo que eu continuo também a andar para o interior, até chegar à clareira, no meio das árvores, onde se encontram os túmulos. Por todos os países onde viajo observo com atenção os cemitérios e tento saber quais são os ritos fúnebres do respetivo povo. É um aspeto cultural, sociológico e religioso muito importante, que revela a toda a sua filosofia de vida. Na China, vim a perguntar mais tarde a duas pessoas que conheci e com as quais conversei um dia inteiro (separadamente, em alturas diferentes – sim, porque mesmo assim eu vou conversar bastante com pessoas que sabem falar inglês relativamente bem, mais à frente nesta viagem, e vou fazer-lhes três mil perguntas) ambas as pessoas me disseram o mesmo, e entretanto corroborei na Wikipédia: atualmente os mortos são cremados, sobretudo na cidade. Já não é permitido construir túmulos nas montanhas. No entanto é difícil para as autoridades controlarem as regiões rurais.

A família acompanha o morto até ao enterro, e por vezes deixa oferendas nos túmulos, como comida, incenso ou “notas funerárias” (em inglês “joss papers”), também chamado “dinheiro fantasma”, que são imitações de notas, por vezes com valores mirabolantes, de milhões de dólares (ou yuans),  para deixar o morto preparado para a vida no além e garantir-lhe coisas boas.

O branco é a cor do luto dos parentes mais chegados, e por algumas vezes vi faixas brancas penduradas à porta de casas – significando que morreu alguém naquela família. O luto mantém-se durante três anos e essas faixas também. Os membros mais afastados da família usam vestuário também branco, e ainda de cor preta, azul e verde. As cores vermelha, amarela e castanha não são usadas durante o luto. O vermelho significa alegria, e é o que mais se vê nas faixas à porta das casas.

Entretanto o passeio continuou, montei na bicicleta e segui caminho, até ao próximo ponto onde tirei esta foto, da vista sobre Lijiang. Este amiguinho da foto seguinte andava a saltitar na relva. Eles por vezes deitam secreções menos amigáveis, mas mesmo assim arrisquei-me a agarrá-lo. Não aconteceu nada, coitadito. Pelo sim, pelo não, lavei os dedos com um pouco da água da garrafa.

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