009 – A Caminho da Montanha Nevada de Yulong
Choveu torrencialmente toda a noite e toda a manhã. E faz fresco, tenho de usar uma camisola de manga comprida por cima da t-shirt. Não fui preparada para o frio, supostamente as temperaturas rondariam os 30 ou 35 graus, mas aqui em Lijiang tive esta surpresa. A app do iphone continua a dizer que estão 30 graus em Lijiang. E eu em Lijiang cheia de frio. Alguma coisa não bate certo na metereologia. Será que há outra Lijiang no mundo?
Começa um novo dia e tenho um novo pequeno almoço. Desta vez já veio a simpática senhora ao hotel, cozinhar para os hóspedes. Não fala uma palavra de inglês, mas a gente lá se entendeu. Fui a primeira a chegar (nestes primeiros dias ando com o jet lag, às 5 da manhã estou acordada) e andei entretida a vê-la cozinhar e a tirar-lhe fotos.
É um belo pequeno almoço, esparguete com carne frita e picante (e bastante tradicional) mas hoje eu não podia. Não estou bem do estômago, algo não caiu bem, ao jantar. Doeu-me. Pelo que comer agora carne de porco frita e muito picante, é complicado. Ainda tentei, e até sabia bem, mas comer aquela tigela toda iria afetar-me o resto do dia. Estou no princípio da viagem, vou ter bastante exercício físico pela frente, tenho de estar em forma. Não posso ter qualquer tipo de dor. Pelo que tive de explicar à simpática senhora que eu não podia comer aquela apetitosa tigela de esparguete picante. O ovo estrelado ainda comi. Estávamos as duas sozinhas, e eu não queria de forma alguma ofendê-la. E não sei como, ela lá me percebeu. Pus a mão no estômago e dei sinal que me doía. Levantei-me e apontei para a esparguete cozida.
Ora aqui está um pequeno almoço saudável. A paciente e simpática senhora tratou de preparar-me um pequeno almoço mais saudável. A outra tigela foi fora. Ovo cozido, pão (é frito, paciência, mas sabe muito bem) e a taça – descobri – não é esparguete. É um legume cozido que eu não sei qual é. Mais tarde disseram-me que era couve chinesa, mas não tenho a certeza. Portanto o meu pequeno almoço foi uma taça de couve cozida com pedaços de carne de porco cozida. Soube-me bem, o legume cozido? Não propriamente. Mas era saudável e a fome é negra. Preciso de alimentar-me. Pelo que comi tudo até ao fim.
A guia veio buscar-me no jipe, desta vez o motorista Jai Song não veio, hoje uma vez mais não é necessária a sua companhia. Vou visitar a famosa Montanha Nevada de Yulong, também conhecida por Montanha Nevada do Dragão de Jade, a qual fica a uns 15 ou 20 km de Lijiang.
A entrada para a Montanha Nevada de Yulong. Os cinco “A” que se vêem escritos no topo signifca que é uma atração de categoria máxima, na classificação de atrações turísticas da China. A classificação é atribuída aos locais ou edifícios de acordo com a história e cultura da China, pela Administração Nacional de Turismo, e considera vários fatores, como a importância, a segurança, limpeza, saneamento e transporte. A entrada é cara, lembro-me que paguei mais de 30€. E é necessário mostrar o passaporte. Todas as entradas para as atrações são caras e não estão incluídas no programa, pelo que as fui pagando à parte. Aliás, as visitas foram sendo ajustadas ao longo do programa, conforme os meus interesses. A certa altura, num dos próximos dias, vamos reajustar o percurso, pois eu queria visitar o parque nacional onde se encontram os “macacos-de-nariz-arrebitado-de-Yunnan”, uma espécie endémica da China e do Tibete. Só aqui podem ser vistos no seu habitat natural – em mais parte nenhuma do mundo. É esta a vantagem de viajar sozinha, com um programa à medida, flexível, sem horários nem obrigações. Hoje quero estar aqui, amanhã quero estar ali. Hoje quero demorar 30 minutos, amanhã quero demorar 3h. Inclusivamente os hotéis não estavam marcados. A guia foi agendando diariamente, online, à medida em que avançávamos.
Os primeiros iaques que vi. Mal conseguia conter a emoção, saí disparada do carro para fotografá-los e vê-los com atenção. Este iaque fez o mesmo, também me observou com muita atenção. “Uma ovelha por aqui?” – terá ele pensado.
O jipe que me transporta (a mim e à bicicleta, que por enquanto ainda não foi usada).
Não é possível ir em carro próprio para a Montanha Nevada de Yulong, pelo que todos os turistas são encaminhados para um autocarro que os leva lá acima. Não há um único ocidental, sou a única no meio de muita gente. Muita gente que correu para garantir lugar no autocarro. Se não os vences, junta-te a eles – e corri também – quero um lugar no autocarro, não me deixem aqui. Claro que não foi preciso, havia uma dúzia de autocarros disponíveis, e se bem me recordo, encheram três. Devido às chuvadas (relembro que choveu torrencialmente toda a noite e manhã) a estrada de terra estava cortada, a ser reparada. O autocarro levou-nos a todos até um ponto, saímos, tivémos de passar a pé a zona afetada, e entrar noutro autocarro, que chegou pouco depois, após a zona em obras. Felizmente entretanto deixou de chover.
Ainda não tinha tocado neste ponto – as casas de banho. Abordemos sem medos este tema escatológico.
As sanitas desapareceram logo no aeroporto em Lijiang. Mal aterrei no sul, acabaram-se as sanitas. Na Ásia (pelo menos no Vietname e na China, onde estive) usa-se um buraco no chão, os chamados vasos sanitários de agachamento – em inglês: “squat toilet”. Felizmente nos hotéis continuei a ter sanitas. Não consigo atinar com aquele sistema, e ainda hoje me interrogo se haverá alguma técnica para fazer xixi naqueles buracos sem salpicar os pés e as pernas. Quando os buracos são suficientemente fundos, evitam-se os salpicos. Mas é muito raro os buracos serem fundos. As louças sanitárias que colocam nestas casas de banho são sempre iguais, do mesmo tamanho – pequenas. Portanto eu fui experimentando várias técnicas. Afastar os pés. Aproximar os pés. Ir para a frente, para a parte menos funda. Ir para trás, para a parte mais funda.
Mas não descobri a técnica. Se existe alguma mente ilustrada, pois faça o favor de entrar em contacto comigo e explicar-me. E estamos a falar de urina. Já nem falo em algo mais consistente. Porque depois ainda há outro fator: acertar no buraco. Já nem falo disso. Sim, porque há quem não acerte no buraco, infelizmente quem entra nestas casas de banho pode comprová-lo. Fica lá uma prenda, ao lado do buraco. Veja lá, chegue o rabinho um pouco mais para o lado, por favor.
Mais: estas casas de banho que se vêem na foto eram bastante boas, individuais, com porta e com autoclismo (carrega-se com o pé e vê-se o sistema na foto. A higiene é um dos fatores que contribui para os cinco “A”, conforme explicado acima). Depois existem outras onde a porta nem existe. E muito menos autoclismo. Como podem calcular, eu andei de bicicleta por zonas remotas. Vi muita coisa. Mais exatamente, muitas casas de banho. E muitas vezes preferi usar os arbustos. Fotografar casas de banho é algo insólito, talvez, mas fotografei uma porção delas e nas próximas crónicas hão de aparecer. Nessa altura voltaremos ao tema. (“Não, não… por favor” – dizem vocês. “Voltamos, voltamos” – respondo eu).