004 – A Rota do Chá e dos Cavalos
Entrada para o Museu.
Conforme referido na crónica anterior, estou na Rota do Chá e dos Cavalos. Aqui visitei o Museu, um edifício antigo no centro da vila, com algumas fotos antigas e explicações sobre a rota. Tudo em chinês. Nada em inglês. Pelo que vi as fotos e pronto, o resto se quiser que vá ao Google. Ou melhor: descobri que não há Google na China. Quando cheguei ao hotel e me liguei ao wifi, o Google não aparece. O telemóvel fica parado. Eu já sabia que não havia Facebook, mas não sabia do Google. E também não há Whatsapp, vim a descobrir. Os chineses usam um clone do Whatsapp: o WeChat. E aparentemente a Wikipédia também tem algumas coisas cortadas. Tentei consultar páginas da Wikipédia que diziam ser inexistentes, quando eu sabia que existiam e já as tinha consultado em Lisboa. Desenrasquei-me como pude, até finalmente colocar nos meus favoritos o Bing (dos EUA) e o Baidu (da China). Recomendaram-me ambos, mas no Baidu sai tudo em chinês. Desisti do Baidu, virei-me para o Bing, ou melhor, uma versão chinesa do Bing, a qual se revelou muito fraquinha. Fiz pesquisas no Bing chinês em que apareceram dois resultados. Às vezes zero!! Já não estou habituada a isto, a não ter informação disponível num segundo. Eu queria investigar coisas tão simples como as terras por onde andava. Existe imensa informação em chinês, mas em inglês é para esquecer. Pelo que tive de deixar as pesquisas para Lisboa, após o meu regresso.
A guia, por seu turno, não fala muito. Não fala nada mesmo. Não explica nada. Rapidamente percebi que não é propriamente uma guia, mas sim uma pessoa que gere o seu próprio negócio, e que leva os turistas daqui para ali e pronto. Estás por tua conta, Rute. Exatamente como gostas, é a verdade, mas enfim, sabe-me bem ouvir algumas explicações de vez em quando. Nesta primeira parte da viagem, em Yunnan, contratei esta guia chinesa, que está mais vocacionada para cicloturismo. Ela possui a sua própria bicicleta, com motor elétrico, para o caso de ser necessário acompanhar-me. Contactei várias entidades através da internet e de facto apenas esta aceitou fazer um programa personalizado, conforme eu queria, com a duração que eu queria, e de bicicleta. Teve esse mérito, apesar dos serviços prestados terem depois sido relativamente fracos a nível do cicloturismo. Nomeadamente não conhecer caminhos locais para bicicletas, ou mesmo levar-me por uma estrada principal com oito faixas, quatro em cada sentido. E eu perguntei: mas não há mais estradas?, esta não é para bicicletas. (Um trânsito infernal…) Não, não há mais nada, indicou. Naturalmente que mais tarde eu viria a descobrir uma série de alternativas a essa estrada, por minha conta e risco, e haveria de pedalar tranquilamente nelas, sozinha, sem sequer ter o carro de apoio comigo.
Bom, e dado que a guia adicionalmente não explicava nada, assim em vez de ter uma guia e um motorista, tenho dois motoristas. Ambos silenciosos: o motorista porque não fala inglês (mas é uma simpatia, é giro ainda por cima, e ajuda-me em tudo o que pode – chama-se Jai Song e vem do Tibete; mais à frente vamos vê-los todos) e uma guia que afinal não é guia, está permanentemente agarrada ao telemóvel, é uma coisa impressionante (deixo a nota, por curiosidade, que um dia resolvi espreitar discretamente o que estava ela a ver no telemóvel. Talvez estivesse a ler emails, coisas de trabalho. Então discretamente espreitei. Mobílias de quarto. Nesse momento estava entretida a ver mobílias de quarto), mas vai-me tirando algumas fotos e cumprindo o seu dever: levar-me aos locais, instalar-me nos hotéis, e traduzir a língua quando é preciso. Certo, é com isso que vou contar e muito em breve passarei a andar sozinha. Naturalmente que vou perder-me, mas andar perdida de bicicleta na China é um verdadeiro prazer. Lá chegaremos.
Voltando à foto, esta é a entrada do Museu, e todos os edifícios públicos têm um polícia responsável. Entretanto habituei-me a ver estes cartazes nas entradas dos edifícios. Se acontecer alguma coisa, não telefonamos para o posto da polícia – telefonamos para aquele polícia especificamente, e está lá a foto dele para que não hajam dúvidas.
A vermelho está a Rota do Chá e dos Cavalos, que ando a percorrer. A amarelo está a Rota da Seda.
O chá prensado. Pesa imenso. Carregar com o chá assim compactado não era brincadeira, apercebi-me. Facilmente chegava aos 80 ou 90 kg às costas.
Chá prensado.
Os desenhos são a língua do povo Naxi, um dos 56 grupos étnicos reconhecidos oficialmente pelo governo chinês, e que vive sobretudo aqui, na parte montanhosa da província de Yunnan. Os Naxi são descendentes de nómadas que habitavam as planícies tibetanas.
As espécies existentes em Yunnan. Daqui a uns dias irei ver os macacos na floresta que se encontram no canto inferior direito da imagem, nos ramos com neve.
A pedra indica “WC” na língua Naxi. É uma imagem curiosa. Uma pessoa sentada com 3 riscos debaixo do rabo. Compreende-se. Está a sair qualquer coisa. Não se compreende é o gato. O que está um gato ou um cão ali a fazer, em frente à pessoa? Pelo menos parece um animal com duas orelhas espetadas. Se calhar um é o homem, outro é a mulher. Seguindo a ordem da imagem (um homem e uma mulher) pelos vistos o gato será a mulher. Também tem três riscos por baixo.