16 – Uma fogueira noturna na praia

O objetivo desta fogueira foi cozer as peças de cerâmica que cada um dos residentes fez durante o workshop. Recordo que eu não voltei ao estúdio do Svetli porque não quis fazer mais peça nenhuma, todavia alguns dos meus colegas continuaram a ir e a trabalhar lá. A minha onda é a pintura, só vejo pintura à minha frente, tenho sede de pintar, não há maneira de ficar saciada. A pintar de madrugada à tarde, todos os dias, e não me sinto satisfeita, nunca chega.

São 20h. Vou ao hotel tomar um duche e já volto.

São agora 21h. Já tomei banho no hotel, e dirijo-me para o local onde já estão alguns dos colegas a tratar da fogueira. A Kit vinha comigo, porém voltou para trás, decidiu ir vestir umas calças para se proteger dos mosquitos. A esta hora é complicado estar na praia, há mosquitos por todo o lado. Claro que pus spray repelente, e do mais forte, para países tropicais, com 50% de deet. Vim com duas embalagens de Portugal. Mesmo assim tenho sido picada constantemente ao longo dos dias.

As pessoas vão-se embora e deixam o lixo para trás, é vergonhoso.

Ainda não apresentei a Dana e o Tobibi. A primeira está sentada no chão a desenhar, e o segundo tem a guitarra. De acordo com a apresentação feita pela Water Tower Art:
Dana & Tobibi – A artista, cenógrafa e performer Dana Ferrari, radicada em Buenos Aires, e o artista, performer e músico Tobibi Bienz, radicado em Zurique, conheceram-se em dezembro de 2022 e começaram a colaborar e compartilhar as suas práticas desde janeiro de 2023. Para aprofundar a sua colaboração estão a viajar de junho a agosto de 2023 pela Europa. ”Estamos super interessados em experimentar e conectarmo-nos com a Water Tower Residency, a sua comunidade e a cidade de Lom. Para nós, a Water Tower Residency é a possibilidade de aprender e evoluir com artistas, comunidades e sociedades nas fronteiras da Europa, e aprofundar as nossas práticas não apenas dentro da Europa Ocidental, como Suíça e Berlim, mas também conectarmo-nos e experimentarmos outras partes da Europa. Principalmente quando penso na Contempora Residency 2021 e no seu profundo efeito no meu trabalho, seria uma forma valiosa de me relacionar com artistas, amigos e comunidades que estão presentes no meu trabalho e na minha vida.”

Atrás do Tobibi está um casal amigo do Svetli, a Rya e o marido Georgy, com o bebé Mladen, um menino, que se manteve sossegado a noite toda, e ainda cantou um bocadinho também.

Conforme contei na crónica 7, eu fiz um pequenino quadrado, que se encontra ali no canto superior direito.

A Viktoria cantou-nos um pouco, música suave. Deixo um vídeo seu, no YouTube, com um repertório clássico: link.

O Boyan estava a tentar tirar-nos esta foto há algum tempo, com a minha máquina fotográfica, mas devido à pouca visibilidade a máquina não estava a aceitar. O Boyan clicava no botão, mas nada acontecia. Eu e a Rya já nos ríamos, claro.
E será a Rya o meu anjo da guarda, no que falta desta viagem em Lom, pois será ela a emprestar-me a sua bicicleta. Efetivamente foi o Boyan o meu primeiro anjo da guarda, pois ele é que tomou a iniciativa de perguntar à Rya. Os residentes búlgaros falavam frequentemente em búlgaro, entre si. Eu nem dei conta da conversa, claro. Quando falaram em inglês, já foi para comunicar-me que a Rya podia emprestar-me uma bicicleta. Eu nem sabia que ela tinha uma bicicleta. Eu nem conhecia a Rya, conhecia-a agora, nesta fogueira. Há mais de um ano que não a usa, disse-me, desde que nasceu o bebé. Os pneus devem estar vazios, mas há uma bomba de gasolina a cerca de 1 km, e eu posso ir lá enchê-los. A Rya e o Georgy não sabem da sua própria bomba. Eu perguntei se a bicicleta está com as rodas para o ar, a Rya disse que não. As câmaras de ar já podem estar estragadas, então. Mas eu arranjá-las-ei também. Eles disseram-me que há uma oficina perto.
Um passeio de bicicleta por Lom é muito importante. Sobretudo tendo eu o pé magoado, e não podendo andar muito a pé. Combinámos que amanhã às 8 da manhã estaria à porta do seu prédio, e que me entregariam a bicicleta.
Morro de impaciência por ter uma bicicletazinha. Aqui em Lom ninguém aluga. Ainda não há turismo para isto.

RUNA, “Rio Danúbio”, 2023. Acrílico e óleo sobre papel, 49 x 30 cm (19,3 x 11,8 polegadas)

De volta ao meu quarto, com os hóspedes habituais. Acho que este é outro diferente do de ontem; é mais pequeno. Deixou-se fotografar. Ele quis ficar nas fotografias também. Tem ali uma antena que chega quase ao chão. Se eu sentir um pelo a fazer-me cócegas, é ele a sondar-me.

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