07 – 4º dia, workshop de cerâmica

O barco diz “Grenzpolizei”. Ou seja, polícia da fronteira. Na outra margem do Danúbio é a Roménia.

O gato Krisko.

O gato Krisko tem uma orelha ferida. Perguntei a 5 pessoas, três da residência artística e duas do hotel, se alguém tem Betadine para desinfetar isto. Em casa eu tenho Betadine; acaba por passar de prazo, mas normalmente é uma coisa que tenho sempre em casa.
Pois ninguém tem Betadine aqui em Lom.

No atelier de Svetli Evgeniev, o ceramista aqui de Lom, para um workshop de cerâmica. A partir de agora alguns artistas residentes irão trabalhar neste estúdio. Aqui preparei, durante esta manhã, uma peça em barro, ligada à pintura que estou a fazer em Portugal, grande, de dois metros e pouco. A pintura é grande, mas a peça de barro fi-la minúscula: é um simples quadrado, que representa a permanência. Aquilo que é permanente na vida de cada um de nós.

Nesta foto vê-a a pintora búlgara Mariana, ao centro, que já referi em crónicas anteriores, e que se juntou recentemente à residência. Pelo seu ar, desconfio que a onda da Mariana é exatamente a mesma que a minha: a pintura, e não propriamente a cerâmica, mas pode ser só influência do meu próprio pensamento. Deixo a nota de que a participação neste workshop de cerâmica era livre, cada artista era livre de fazer o que quisesse, no entanto jamais eu o perderia. Todos nós queríamos conhecer o estúdio e o trabalho do Svetli, artista aqui de Lom.

O centro de Lom, onde fica o atelier do Svetli. Está a uns 30 minutos a pé do hotel. Para aqui vim no carro da Nia (eu e mais três), e no regresso a Nia desapareceu, pelo que voltei a dividir um táxi com a Kit.

Voltámos a pagar 3 leva e pouco, no total (1,5€ a dividir pelas duas). Em circunstâncias normais eu faria os 30 minutos a pé, no entanto tenho um tendão magoado, no pé, e estou a poupá-lo. Estou a poupá-lo para passeios mais necessários, aqui em Lom, e para o que me espera em Sófia, pois numa capital é um bocado difícil não andar intensamente a pé, o dia todo.

Quando cheguei ao hotel e vi o frigorífico, é que me lembrei que tinha as salsichas guardadas, do churrasco da véspera. Fiz então ovos mexidos a contar também com a Kit e com o Voin. Este preparou uma bela salada. Foi um almoço preparado com alimentos fornecidos pela residência artística, portanto.

Permitam-me só dizer que eu tinha mais salsichas, mas uma foi para o Voin, e outra para o gato. Ou gata. Parece que é uma gata, aparentemente é a mulher do Krisko. Quantas gatas terá o Krisko, é uma incógnita.

Estes iogurtes búlgaros são gigantes e não têm doce. Ao que parece têm sal. Este comprei-o eu, no supermercado, e misturei-lhe açúcar em abundância, disponibilizado pela residência. Irei comer vários, bem adoçados, como sobremesa, os restantes já oferecidos pela residência.

Faço questão de ir explicando isto, sobre a alimentação, porque os artistas normalmente não são propriamente abonados, como todos sabem. Não é uma vida de grande abundância financeira. E uma coisa é comermos nas nossas casas, com alimentos cozinhados por nós, outra coisa é comprarmos no estrangeiro, e quase tudo pronto. A alimentação sai muito mais cara e nem todos podem. Pagar a viagem de avião já constituiu um esforço grande, com certeza, para muitos. Pelo que este cuidado por parte da organização em disponibilizar alimentos-base, chamemos-lhe assim (ovos, azeite, açúcar…) considero-o um esforço meritório e destaco-o nestas crónicas.

São 16h31, dou por encerradas as pinturas, por hoje. É hora de ir à praia. O Voin já lá está, vou procurá-lo.

RUNA, “Inundado (rio Danúbio)”, 2023. Acrílico, óleo, barra de óleo e pastel de óleo sobre papel, 49 x 30 cm (19,3 x 11,8 polegadas).

Este homem é o dono do cão, que já é velhinho e está com um problema na pele, tem um micróbio qualquer. Mesmo assim ainda é um cão imponente. O dono é muito cuidadoso com ele.

Além do maluco do Voin, vemos nesta foto outro dos residentes que eu referi na crónica 6: Hristo Panchev, de camisa branca.

Ainda um outro residente a apresentar, no canto direito desta foto, de tshirt vermelha: Valeri Andreev, da Bulgária, ligado à Realidade Virtual. Fez uma incursão muito rápida, mas importante, aqui em Lom: veio fazer duas sessões de formação junto dos adolescentes da comunidade Roma. Estive a conversar algum tempo consigo, durante a tarde, no terraço, e o Valeri explicou-me que alguns dos jovens da comunidade são extremamente empenhados nos estudos, e os pais esforçam-se bastante por proporcionar-lhes uma boa educação universitária. Têm dois empregos, por exemplo, para conseguirem mandá-los estudar no estrangeiro. Esta introdução à realidade virtual pode ajudar a definir caminhos na sua formação futura.

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