04 – Sobre Lom – passeio a pé pelas imediações
Fui em busca de um supermercado que uma das artistas residentes disse existir, para o lado direito do hotel. Vim a perceber que esse supermercado estará a cerca de um quilómetro de distância, pelo que a certa altura desisti e voltei para trás; seria inviável regressar carregada com produtos pesados, nomeadamente leite, que era o que eu pretendia comprar. No entanto valeu pelo passeio. Descobri que há cartazes por todo o lado, afixados em todo o lado, com as pessoas que faleceram. Em tantos países onde já estive, nunca tinha visto uma coisa assim, tantos cartazes por toda a cidade, colados por todo lado. Até na galeria de arte (nas paredes do exterior), se repararem nas fotos da introdução, estavam cartazes colados. Penso que as famílias, face ao hábito instalado, poderão sentir-se constrangidas se não o fizerem, até poderá calhar mal se não afixarem estes cartazes, poderá ser interpretado como desinteresse pela pessoa falecida. Enfim, andar a passear por Lom com tantos cartazes de gente morta, é um pouco estranho. Eu estou perfeitamente à vontade com isto; aliás, como terão oportunidade de ver nas próximas crónicas, os meus locais prediletos de visita são precisamente os cemitérios (como tenho mostrado também nas crónicas de outros países), mas isto é uma novidade para mim.
As traseiras do hotel.
Este muro foi construído com o Fundo de Coesão da União Europeia, conforme indicado na placa abaixo, e que eu traduzi com a câmara do Google Translator.
Todavia este muro não calha nada bem aqui. Podiam ter feito uma coisa mais bonitinha, não?, num local de férias e veraneio. Se calhar é altura de porem aqui uns artistas a pintá-lo para tentarem dar-lhe uma volta.
Aprendi nesta viagem a usar a app do Google Translator, foi uma das artistas que me ensinou. Na Bulgária quase ninguém fala inglês. Os supermercados têm tudo em búlgaro, naturalmente, com o alfabeto cirílico. Para perceber a comida, por exemplo, usei a app nos supermercados, para traduzir. Basta instalar a app (gratuita), escolher a opção “câmera” e apontar para a placa. Em poucos segundos aparece a tradução.
Lom é uma das cidades mais pobres da Europa. Fiquemos com os números revelados pelo “Uplift”, um projeto financiado pela União Europeia, o qual analisa 16 cidades dentro da UE. Uma delas é a Amadora, em Portugal. Outra é Lom, na Bulgária. Podem ver quais são as 16 cidades neste link:
O município de Lom é composto pela cidade de Lom, e nove aldeias. Possui o segundo maior porto do Danúbio na Bulgária. No entanto isto não lhe traz vantagem económica, porque o transporte fluvial diminuiu e porque os portos fluviais no Danúbio, outrora muito importantes, estão todos em declínio.
Em 2007, Lom tinha uma população de 31.170 pessoas, mas hoje são 28.000, como resultado do envelhecimento da população, altas taxas de mortalidade e emigração. No geral, a Bulgária tem as maiores taxas de mortalidade do mundo. As principais razões para a alta taxa de mortalidade são questões como pobreza, exclusão social de minorias étnicas, cidadãos deficientes, infraestrutura de saúde desigual e organização de seguro de saúde. A falta de acesso a cuidados de saúde acessíveis, especialmente para aqueles que não podem pagar pelo seguro de saúde, exclui as pessoas de tratamentos oportunos e aumenta ainda mais a taxa de mortalidade.
A atividade económica de Lom concentra-se em três setores: agricultura, silvicultura e pesca (32,35%), indústria (33,05%) e comércio por grosso e a retalho, transportes, alojamento e restauração (19%). Fora do setor público, o maior empregador é a HUS, que fabrica tubos – a maior parte da força de trabalho é masculina, em cargos de baixa qualificação e salário mínimo. Não há grandes investidores na região.
A população do município identifica-se predominantemente como búlgaros étnicos, com a população cigana representando 19% na cidade de Lom em 2011 (em comparação com 4,9% a nível nacional).
Estimativas de especialistas avaliam que existem 1,3 milhões de búlgaros a viver no estrangeiro. Outras fontes mostram que 900.000 búlgaros vivem na União Europeia, no entanto, isto conta apenas os búlgaros registados noutro país da UE. O Eurostat descobriu que o número de cidadãos búlgaros que vivem e trabalham no exterior duplicou entre 2008-2018. A emigração de búlgaros é uma perda de múltiplos capitais, mas também contribui para o desenvolvimento do país através de remessas significativas. Estas remessas excedem o investimento estrangeiro direto, dando 1152,6 milhões de euros.
Em algumas aldeias, mais de 50% das habitações estão desabitadas.¹
¹ Deneva, N. (2023, 3 março). “Lom, Bulgaria / Lom Urban Story”. Projeto Uplift. Página consultada a 8 agosto 2023,
https://uplift-youth.eu/places/lom/