Dia 23 – Visita das estudantes da Academia Nacional de Belas-Artes

Hoje é 3ª feira, 23 de julho de 2024.
Dormi 8h30 entre as 22h30 e as sete.
Hoje vou receber a Milena, que conheci na crónica 20, e as suas colegas da Academia Nacional de Belas-Artes. A visita está marcada para depois de almoço.

São tantas garrafas de plástico porque são as que eu vou comprando pelo caminho, na bicicleta, depois da minha água se acabar. Mesmo assim, a da tampa azul escura trouxe-a de Portugal; tem 75 cl, é boa para andar na bicicleta, nem pequena nem grande.

Às 10h45 encomendei o almoço no restaurante – aquele que o Hakob me deu o link, na crónica 13. É a terceira vez que lhes encomendo o almoço. Da outra vez levou hora e meia a chegar, hoje tenho visitas, não convém atrasar-me. As minhas visitas é suposto chegarem entre as 13h30 e as 14.
Encomendei “chanah”, que leva carne de porco, explicou-me a rapariga ao telefone. Eu mostrei o chanah na crónica 21: é um prato popular feito com grão-de-bico, cebola, alho, ervas e especiarias. É uma receita tradicional da culinária arménia e é servido como acompanhamento ou prato principal.

Desta vez levaram 27 minutos a entregar-me a comida, chegou às 11h12. Mas eu almocei ao meio-dia e um quarto. Enganaram-se e mandaram-me uma shawarma de porco. Eu pedi um chanah, não pedi uma shawarma. Bom, agora como a shawarma, claro. Também pedi uma mousse de chocolate como sobremesa (um tal de “shock mange”, que pelo menos parece ser uma mousse de chocolate) mas não tinham, pelo que troquei por esta sobremesa chamada “bird’s milk”.
E que pena, esqueci-me de comer o pepino que a mãe da Milena me ofereceu, ficou no frigorífico.
A shawarma 900 drams (2,14€), a sobremesa 350 (0,83€), a caixa da sobremesa 70 drams (0,17€), e a entrega 500 (1,19€). Total: 1820 drams (4,33€).

Este lavash é muito rijo, até aquela faca pujante custa a cortá-lo. Deixei uma parte dele para dar aos pássaros, cortei-o em pedaços pequenos (a custo). O recheio era bastante saboroso, tinha batatas fritas, ou pelo menos parecia, com palitos grossos. Também tinha courgete.

São 14h19 e as minhas visitas estão a chegar!

Artistas que são artistas, vão diretas ao que interessa.

Da esquerda para a direita: (vou apresentar com o nome completo – os artistas apresentam-se com o nome completo!): Ani Hovhannisyan, de 25 anos, depois estou eu, depois está a Milena Mkrtichyan (19 anos), e finalmente a Anahit Anul (19 anos também). Estão as três no 1º ano de Artes Gráficas, na Academia Nacional de Belas-Artes da Arménia – campus de Gyumri. A sede principal fica em Yerevan. Mostrei a fachada do edifício na crónica 2 – são a 10ª e 11ª fotos dessa crónica.
A Ani esteve a trabalhar uns tempos, em ilustração, e agora decidiu fazer a licenciatura.

A Milena trouxe consigo uma caixa de bolos tradicionais arménios, está em cima da mesa e mais à frente irei mostrá-los bem.

São 16h41 e as minhas simpáticas visitas vão-se embora. Foram elas que me explicaram o porquê do autocarro ter dois números – 25/5: 25 era o número antigo pelo qual as pessoas o conheciam; o 5 é o número novo. Explicaram-me também que aqui na Arménia se cumprimenta com um único beijinho, ou com um abraço. Despedimo-nos todas com um único beijinho, por conseguinte. Eu disse-lhes que em Portugal são dois, um em cada bochecha.

Amanhã parto para o sul da Arménia, vou para Halidzor, onde ficarei três dias. Retomei agora a minha azáfama habitual. Tive que cancelar o hotel que tinha reservado, porque soube que fica à beira da estrada, onde naturalmente passam carros – e eu não suporto o barulho do trânsito (quem acompanhou outras crónicas, de outros países, sabe que já tive de mudar de hotel algumas vezes por causa disto – e aqui em Mush a coisa foi passando porque estou no 5º andar, mas tive de usar tampões de cera nos ouvidos, de vez em quando, à noite) e porque o dono me disse que só iria chegar às 17h. O check-in supostamente é às 14h. “Boa sorte” – desejou-me ele. (Boa sorte? Achei estranha, esta despedida. Não é uma questão de sorte, é uma questão de estar definido e de eu pagar por isso). Então mudei de hotel, para um ligeiramente mais caro, mas que não fica à beira da estrada. E o dono deste novo hotel enviou-me a seguinte mensagem: “Hello. Fliz.du yu qamin i16.00-17.00. cloqin..aym. Sorry.”
Não seria melhor falar comigo em arménio, e eu traduzo no tradutor Google? Porque ele está a falar comigo em inglês; está a escrever como as palavras se dizem, em inglês. Vocês conseguem perceber? O “fliz” é “please”. Entendi, por conseguinte, o “boa sorte” do outro. Entrei no jogo e respondi: “Trevi das 2?”
Para bom entendedor, meia palavra basta. Eu percebi logo que ele estava a dizer-me que só iria chegar às 16/17 horas ao hotel, para eu chegar a essa hora também. E eu respondi algo ininteligente, mas que para bom entendedor também é suficiente: “O check-in não é às 2?”.
Linguagem toda inventada, claro. Com quem eles se metem.
O check-in está marcado em plataformas como o eBooking ou o Hotels.com para as 14h, e depois de pagarmos, e sem direito a devolução, o dono do hotel informa-nos disto. Não começamos bem. Eu poderia apresentar queixa à plataforma que vendeu a estadia, mas não estive para isso. Para nem terem um funcionário no hotel, é porque serão meios pequenos, e eu terei que orientar a minha vida para chegar ao hotel apenas às 17h.

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