Dia 14 – Dia de descanso e de spa
Hoje é domingo, 14 de julho de 2024.
É hora de descansar. Tenho tido dias agitados, e a lutar contra uma constipação, felizmente já quase a terminar. Hoje é dia de recuperar totalmente, e de dar um impulso ao meu próprio organismo. Estou no 14º dia desta residência artística, e tenho 17 dias pela frente. É preciso curar-me de vez e preparar-me para os dias intensos que ainda me esperam, pois tenciono conhecer outras regiões dentro da Arménia.
Em Gyumri existe um centro chamado “Alexandra Spa and Oriental Bath”: marquei uma visita para a tarde, e aí me banharei durante três horas em águas e vapores quentes, e no final farei uma massagem desportiva, de uma hora, por 21.000 drams (50€). Hoje não há pintura nem bicicleta.
Durante a manhã estarei a organizar a minha vida nos próximos dias, nomeadamente o meu passeio a Yerevan, a capital da Arménia.
São 5h41. Hoje dormi sete horas, não foi mau de todo.
Também trouxe aqueles cereais de Portugal, para misturar com os outros. São de fibra, fazem bem.
A amornar água para beber, como é hábito. Conforme referi antes, seja verão ou inverno, eu bebo sempre água morna.
Aquele taxista do boné costuma estar todos os dias ali, a partir das 6 da manhã, ou coisa que o valha. Dava-me jeito ter o seu contacto e saber se ele transporta uma bicicleta. O taxista Rubo prefere começar a trabalhar mais tarde – no outro dia perguntou-me se eu não quero ir às 8, em vez de às 7. Efetivamente eu quero arrancar às 6 ou 6h30. Este taxista, estando aqui todos os dias à minha porta, a esta hora, dava-me jeito. Vesti-me e fui lá abaixo falar com ele, mas eis que começa a chover e eu voltei para cima, nem cheguei a sair do prédio.
Reparem como vai agasalhado. Não vai de tshirt. A meteorologia, neste momento, dá sol, mas na realidade está nublado e a chover. Neste momento, a meteorologia está errada. O que é frequente em Gyumri – pude ir reparando ao longo dos dias. Dão sempre sol e calor, mas está sempre fresco e chuva esporádica.
São agora 9h37, já parou de chover e fui falar com o taxista. (Que entretanto foi fazer algum serviço, desapareceu, e depois voltou). Não transporta bicicletas, é pena, e chamou outro colega seu, de um Mercedes. Ora eu sei que os Mercedes é que não conseguem mesmo transportar uma bicicleta, não têm espaço.
O Karen, que trabalha no supermercado (ainda só tinha aparecido de costas, na crónica 2), está a tentar ajudar. Tem nas mãos o meu telemóvel vermelho e está a digitar no teclado russo que eu instalei há alguns dias, para si e para outros russos que trabalham aqui na Arménia.
Mas eu não avancei com nada para já – o tempo ameaça com chuva, não está propício para passeios de bicicleta, e apesar do taxista do Mercedes ter acedido a transportar uma bicicleta no porta-bagagens, eu prefiro outro carro, onde a bicicleta vá totalmente dentro do porta-bagagens, e não de fora.
Encomendei comida no restaurante que o Hakob me deu (na crónica 13), chamado “Food Time”, e a rapariga que me atendeu fala inglês, mas o estafeta não. Este estava na minha rua, telefonou-me, falou comigo em arménio, e não sabia onde me encontrar. Foram dois monólogos – o dele e o meu. Eu a dizer que estou na rua em frente ao prédio, ele a responder-me algo em arménio. Ainda vou ficar sem comida, vai-se embora e não me entrega a comida. Telefonei de urgência ao Hakob, que por seu turno telefonou ao estafeta, e este finalmente encontrou-me. O meu prédio não tem número de porta, não consegui perceber como é que nestas situações identificam a casa. O Hakob entretanto sugeriu-me que eu dissesse que “fica ao lado da lavagem de carros”.
Fui bastante conservadora na escolha, nesta primeira experiência: risoto de frango e cogumelos 750 drams (1,79€), risoto de vegetais 700 drams (1,67€); a entrega 500 drams (1,19€), total: 1950 drams (4,64€). Ainda não comi arroz desde que cheguei à Arménia, pelo que foi a minha primeira opção.
Encomendei dois risotos porque estava com receio que fossem doses muito pequenas. Mas não consegui comer tudo, sobrou dois terços do de vegetais. Estavam bons, mas mesmo assim prefiro carne grelhada com legumes e fruta. Da próxima vez experimentarei outras comidas.
E andei agora na minha primeira marshrutka!, o minibus que apresentei logo na crónica 1. Fui no 25/5, que vai de Mush até ao centro de Gyumri. A viagem dura uns 15 ou 20 minutos e o bilhete custa 100 drams (0,24€). Mostrei ao motorista, no telemóvel, o desenho da praça onde quero sair – no mapa, escrito em arménio, e ele ficou a olhar durante algum tempo, e depois disse que não. É a praça central de Gyumri, escrita em arménio, mas ele não sabe. Eu já lá estive de bicicleta, hei de reconhecer. E até me esqueci de tirar uma foto à minha primeira marshrutka, no meio deste atabalhoamento. E saí no sítio certo.
Neste spa, homens e mulheres estão separados. Não se veem mutuamente. As mulheres entram por uma porta e têm acesso a estes espaços, e os homens entram por outra, e têm acesso a outros espaços, com certeza idênticos. É a primeira vez que faço um spa com esta separação.
O que querem que eu diga? Que foi bom? Foi maravilhoso: uma massagem desportiva de uma hora, de corpo inteiro, cabeça inclusive. Eu estou apenas de cuecas – umas descartáveis, que me deram. Forneceram toalhas, chinelos, estas cuecas, garrafas de água mineral à descrição, frescas e naturais, e um snack no final, que eu não tive vontade de comer. Houve algumas vezes que me doeu, mas a massagem desportiva normalmente é assim, mais dura, todavia saí altamente relaxada.
Eu quero um Mercedes cor-de-rosa!!
A menina dona deste Mercedes deve estar no spa, aposto. Está estacionado a dez ou vinte metros.
Regressei no 25/05 a Mush. Eu poderia apanhar um táxi, que andaria pelos 3€, mas não senti essa necessidade. Estas marshrutkas passam de 6 em 6 minutos, a poucos metros do spa e da praça central. Acho mais pitoresco andar de marshrutka, do que de táxi. E ao menos sempre dou uma pequena contribuição para a poupança ambiental: é menos um carro a circular. Hoje não quis vir de bicicleta, hoje é dia de descanso – físico, pelo menos, pois mesmo assim foi uma manhã muito trabalhosa, estive agarrada aos papéis e à internet a tentar perceber onde quero ir, como chego lá, se há transportes públicos, ou se um táxi deve levar-me com a bicicleta até determinado local. Tenho quatro apps, e tenho que simular em todas e perceber percursos, distâncias, altitudes e preços. E ainda um site que a Tatiana me deu, com os percursos das marshrutkas: https://t-armenia.com/en
Cheguei às 19 horas ao estúdio. A esta hora já está fresco e fortes rajadas de vento frio, que me fizeram acelerar o passo. As escadas do prédio têm o cheiro dos vários jantares a serem cozinhados.
Às 21h comi seis figos secos com nozes, uma fatia de melão, uma fatia de queijo e leite morno com mel e canela. E já é muito, para o que estou habituada a comer. Eu deixei de jantar há vários anos; mas dado que ando a fazer bicicleta, estou a abrir estas exceções, à noite. Pão não entra na minha dieta, passam-se largos meses sem eu comer pão.